Custo Brasil impacta faturamento industrial

Leia em 3min 10s

Setores de móveis, calçados, construção pesada e têxtil têm perdas.


O custo Brasil é, para diferentes segmentos da indústria, o principal responsável pelo mau desempenho registrado no primeiro semestre. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Minas Gerais a produção recuou 1,4% no acumulado de janeiro a maio na comparação com idêntico intervalo de 2011. Quatro dos seis setores consultados pela reportagem - móveis, calçados, construção pesada e têxtil - afirmam ter amargado perdas no período. Em contrapartida, o bom desempenho do segmento de aparelhos elétricos e da construção civil impediu um resultado geral ainda pior.

A desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para móveis não foi suficiente para alavancar a produção do polo moveleiro de Ubá (Zona da Mata). O presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá (Intersind), Michel Henrique Pires, informa que a produção e o faturamento no primeiro semestre de 2012 caíram 12% na comparação com 2011.

Mas, conforme Pires, se não fosse pelo benefício fiscal, a variação negativa poderia ter chegado aos 25%. "A mídia faz um alarde muito grande quando o IPI cai, o que incentiva o consumidor a ir atrás dos descontos", afirma. Todavia, ele enaltece a necessidade de se investir menos em ações paliativas e mais nas de longo prazo, como cortes ainda maiores nos juros e revisão da carga de impostos. "Ano após ano o Brasil bate recorde de arrecadação, mas os projetos voltados para a melhoria da infraestrutura, que poderiam favorecer a indústria doméstica, ainda são poucos", reclama.

Outro fator que começa a ameaçar os resultados do segmento é a concorrência externa, principalmente com a China. Dados do Intersind mostram que, há dois anos, a participação do gigante asiático no mercado de móveis era tão irrisória que não podia sequer ser estimada. Porém, hoje, os produtos já abocanham 8% do mercado. Caso nenhuma providência seja tomada, a entidade teme que, em cinco anos, a fatia atinja 20%.

Quem também se queixa da falta de competitividade com os importados, cujos preços chegam a ser 20% inferiores, é o Sindicato da Indústria do Calçado de Nova Serrana (Sindinova). A entidade revela que, no primeiro semestre, a produção foi igual à da primeira metade de 2011. Todavia, se não fosse pelo concorrência com a China, o Sindinova acredita que o volume fabricado poderia ter crescido 5%. Outro empecilho que barra bons resultados é a ampliação das barreiras protecionistas impostas pelo governo argentino, principal importador dos calçados mineiros.

Os dados do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas de Minas Gerais (Sindimalhas-MG) também não são animadores: de janeiro a maio, ante igual período do ano anterior, o faturamento do segmento no Estado e o nível de emprego caíram 4,4% e 0,88%, respectivamente. O setor gera 200.000 empregos em Minas. O presidente da entidade, Flávio Roscoe, alerta que a indústria têxtil trabalha, no momento, com "margens de lucro negativas".

Juros altos - Além da concorrência com os produtos asiáticos, desleal quando se trata de tecidos sintéticos, Roscoe alerta para a necessidade de redução do patamar dos juros, ainda um dos mais elevados do mundo e, segundo ele, "a força mais poderosa da economia". De acordo com o dirigente, as taxas atuais travam os investimentos. Ele defende uma desvalorização do real frente ao dólar, o que pode propiciar as exportações.

A construção pesada, um dos setores que mais emprega no Estado e depende de obras, sobretudo governamentais, reivindica o desenvolvimento de mais projetos. Apesar de não fornecer dados, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de Minas Gerais (Sicepot-MG), Alberto Salum, explica que o mau desempenho está atrelado à abertura de poucos processos de licitação, também considerados lentos. Entretanto, ele está otimista para o segundo semestre, devido, principalmente, a ampliação de programas do governo estadual, como o "Caminhos de Minas".


Veículo: Diário do Comércio - MG


Veja também

Escalada de aumentos acende sinal de alerta

Alta de 0,33% na prévia da inflação medida pelo IPCA-15 deste mês acende o sinal amarelo. Se ...

Veja mais
Dívida das famílias freia as vendas

Veja algumas maneiras de driblar a desaceleração no comércio e manter seu negócio em alta Al...

Veja mais
Alta de preço de alimentos no atacado gera pressão sobre IPCA no 2º semestre

Considerados como mais um entre os vários fatores de alívio para a inflação até meado...

Veja mais
Confiança do empresário em junho é a menor da série, aponta FecomércioSP

O indicador que mede a confiança do empresário do comércio (Icec) paulistano na economia caiu 6,3% ...

Veja mais
Estado divulga ações anticrise na produção

A necessidade de fortalecimento de alguns setores produtivos do Rio Grande do Sul, frente aos efeitos da retraç&a...

Veja mais
Prévia da inflação supera estimativas e sobe 0,33% em julho

IPCA-15 se acelerou ante junho; Com o resultado, índice acumula alta de de 5,24% nos últimos 12 mesesA inf...

Veja mais
Em ata, BC indica novo corte da taxa Selic

Documento reforça apostas do mercado de redução do juro a 7,5% na próxima reuniãoO Ba...

Veja mais
Gasto com item básico chega a comprometer 80% da renda

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, afirmou ontem que um dos três principais motivos para que...

Veja mais
Empresários cobram maior atenção a rotas alternativas

Diante da crise dos países desenvolvidos e da diminuição do superávit da balança come...

Veja mais