Setores de móveis, calçados, construção pesada e têxtil têm perdas.
O custo Brasil é, para diferentes segmentos da indústria, o principal responsável pelo mau desempenho registrado no primeiro semestre. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Minas Gerais a produção recuou 1,4% no acumulado de janeiro a maio na comparação com idêntico intervalo de 2011. Quatro dos seis setores consultados pela reportagem - móveis, calçados, construção pesada e têxtil - afirmam ter amargado perdas no período. Em contrapartida, o bom desempenho do segmento de aparelhos elétricos e da construção civil impediu um resultado geral ainda pior.
A desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para móveis não foi suficiente para alavancar a produção do polo moveleiro de Ubá (Zona da Mata). O presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá (Intersind), Michel Henrique Pires, informa que a produção e o faturamento no primeiro semestre de 2012 caíram 12% na comparação com 2011.
Mas, conforme Pires, se não fosse pelo benefício fiscal, a variação negativa poderia ter chegado aos 25%. "A mídia faz um alarde muito grande quando o IPI cai, o que incentiva o consumidor a ir atrás dos descontos", afirma. Todavia, ele enaltece a necessidade de se investir menos em ações paliativas e mais nas de longo prazo, como cortes ainda maiores nos juros e revisão da carga de impostos. "Ano após ano o Brasil bate recorde de arrecadação, mas os projetos voltados para a melhoria da infraestrutura, que poderiam favorecer a indústria doméstica, ainda são poucos", reclama.
Outro fator que começa a ameaçar os resultados do segmento é a concorrência externa, principalmente com a China. Dados do Intersind mostram que, há dois anos, a participação do gigante asiático no mercado de móveis era tão irrisória que não podia sequer ser estimada. Porém, hoje, os produtos já abocanham 8% do mercado. Caso nenhuma providência seja tomada, a entidade teme que, em cinco anos, a fatia atinja 20%.
Quem também se queixa da falta de competitividade com os importados, cujos preços chegam a ser 20% inferiores, é o Sindicato da Indústria do Calçado de Nova Serrana (Sindinova). A entidade revela que, no primeiro semestre, a produção foi igual à da primeira metade de 2011. Todavia, se não fosse pelo concorrência com a China, o Sindinova acredita que o volume fabricado poderia ter crescido 5%. Outro empecilho que barra bons resultados é a ampliação das barreiras protecionistas impostas pelo governo argentino, principal importador dos calçados mineiros.
Os dados do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas de Minas Gerais (Sindimalhas-MG) também não são animadores: de janeiro a maio, ante igual período do ano anterior, o faturamento do segmento no Estado e o nível de emprego caíram 4,4% e 0,88%, respectivamente. O setor gera 200.000 empregos em Minas. O presidente da entidade, Flávio Roscoe, alerta que a indústria têxtil trabalha, no momento, com "margens de lucro negativas".
Juros altos - Além da concorrência com os produtos asiáticos, desleal quando se trata de tecidos sintéticos, Roscoe alerta para a necessidade de redução do patamar dos juros, ainda um dos mais elevados do mundo e, segundo ele, "a força mais poderosa da economia". De acordo com o dirigente, as taxas atuais travam os investimentos. Ele defende uma desvalorização do real frente ao dólar, o que pode propiciar as exportações.
A construção pesada, um dos setores que mais emprega no Estado e depende de obras, sobretudo governamentais, reivindica o desenvolvimento de mais projetos. Apesar de não fornecer dados, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de Minas Gerais (Sicepot-MG), Alberto Salum, explica que o mau desempenho está atrelado à abertura de poucos processos de licitação, também considerados lentos. Entretanto, ele está otimista para o segundo semestre, devido, principalmente, a ampliação de programas do governo estadual, como o "Caminhos de Minas".
Veículo: Diário do Comércio - MG