Gasto com item básico chega a comprometer 80% da renda

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O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, afirmou ontem que um dos três principais motivos para que a economia apresente um crescimento de 1,5% neste ano, de acordo com previsão da consultoria, é o alto endividamento das famílias brasileiras. Situação gerada devido, segundo ele, ao comprometimento, em média, de 26% da renda com gastos em geral. Em 2008/2009, pelos dados oficiais, esse percentual era de 22%.

"Se for separar por classe de renda, a chamada B está quase no limite de comprometimento considerado bom, que é de 30%", comentou o economista, ao participar de evento sobre o comportamento da renda realizado ontem pela Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).

Sérgio Vale também apontou que 88% dos gastos em itens básicos, como alimentação, comprometem a renda da classe D e E (renda líquida familiar mensal de até R$ 1.350). "Se ele adquirir um carro [cujo comprometimento médio para essa categoria é de 38%], a situação fica mais complicada", avalia. O especialista afirma ainda que há um movimento mais favorável pela compra de um imóvel, do que pela aquisição de um carro. Porém, nesse caso, o comprometimento só com a parcela da casa sobe para 40,1%. "Se juntar esse percentual com os gastos básicos, a média da população chega a 67%, o que já é bem acima do limite. Por isso que acredito que a inadimplência deve continuar forte", prevê Sérgio Vale.

Por outro lado, a boa notícia, na opinião dele, principalmente para o setor automotivo - que observa essa mudança na intenção de compra do brasileiro -, é de que 20 milhões de pessoas devem passar para a classe C nos próximos cinco anos.

"Como cerca de 30 milhões de brasileiros não têm automóveis, essa expectativa pode ser positiva para o setor. Desta forma, com base na situação atual, não significa que o empresário tem que parar de investir."

PIB

Para o economista-chefe da MB Associados, além do endividamento das famílias, o cenário externo e falta de reformas estruturais são motivos para que o PIB deste ano cresça bem abaixo dos 2,7% registrados no ano passado.

"No caso da Europa, como a formação da zona do euro começou sem uma união fiscal, não acredito que nessa década ou na outra a situação melhore. E isso tem impacto na economia mundial", diz.

"Para resolver vai precisar que acabe com a existência de uma moeda única. No primeiro momento vai ser ruim para o mundo todo, inclusive ao Brasil, mas depois todos os países irão avançar cada um com sua particularidade", acrescenta.

No entanto, a falta de reformas estruturais, como a tributária, é que prejudica a expansão econômica de acordo com seu potencial, que é de 4% a 5%. "Muito se fala na necessidade de reformas estruturais, mas é isso que vai promover o crescimento. Por outro lado, as expectativas não são tão boas, porque o governo de Lula [Luiz Inácio da Silva, ex-presidente do Brasil] e o de Dilma Rousseff, já mostram que a intenção é tomar medidas paliativas e focadas na indústria. E se o Lula não se recandidatar na próxima eleição, a Dilma será reeleita. Portanto são mais seis anos de avanço anual médio de 3% do PIB", entende o especialista.

O lado positivo da situação brasileira, na visão do economista, é que há espaço para reduzir ainda mais a taxa básica de juros (Selic). "Temos oportunidades para diminuir ainda mais. A Previsão da consultoria é de que termine neste ano em 7% ao ano. Contudo, acredito que poderia encerrar em 6,5%", comenta.

No caso do ano que vem, Sérgio Vale acredita que os juros voltarão a subir, por conta do aumento do ritmo do PIB e, assim, da inflação.

"Mas se diminuir para 6,5% ao ano em 2012, a Selic, mesmo subindo, há mais condições de continuar na casa do um dígito", ressalta. Para 2013, a MB Associados espera um aumento econômico de 4%, se não ocorrer o agravamento da crise externa.

 

Veículo: DCI


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