BC vê êxito em medida para conter o crédito

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Para a autoridade monetária, as ações tomadas no auge da crise vieram para ficar


As medidas de restrição ao crédito, lançadas pelo Banco Central (BC) para combater a inflação e riscos ao sistema financeiro durante a crise financeira internacional, vieram para ficar.

Estudo do diretor Luiz Awazu Pereira, que acumula as áreas internacional, gestão de riscos corporativos e regulação do sistema financeiro no BC, mostra que as chamadas medidas "macroprudenciais" tiveram sucesso no Brasil e servem de complemento ao instrumento tradicional de política monetária - a taxa básica de juros (Selic).

A análise do diretor foi publicada no início de agosto como o Texto para Discussão n.º 290 do BC, feito em parceria com o economista Ricardo Eyer Harris. O documento não representa necessariamente a visão do BC, mas de seus autores. No entanto, o texto possui abordagem bastante semelhante à de outros comunicados do BC, como Relatórios Trimestrais de Inflação.

"O Banco Central e o governo foram proativos em antecipar potenciais fontes de risco para a economia brasileira e seu sistema financeiro", aponta o documento. De acordo com os autores, um fator foi fundamental para que o Brasil lançasse mão das medidas de restrição ao crédito: as políticas de compra de ativos, conhecidas como "relaxamento quantitativo", promovidas por BCs dos EUA, Japão, Europa e Reino Unido.

"Os fluxos de capital adicionaram combustível para pressões inflacionárias locais (...), contribuíram para uma expansão excessiva do mercado de crédito ao reduzir custos de captação e relaxar padrões de crédito locais", afirmam os economistas. "Também enfraqueceram a transmissão do aperto monetário doméstico, já que os instrumentos de política monetária convencional operam essencialmente por meio dos custos de captação dos bancos."

Ou seja: ao imprimir quase US$ 3 trilhões para comprar ativos de bancos, hipotecas e títulos do Tesouro, o BC dos EUA (Fed) inadvertidamente provocava inflação e prejudicava a eficácia das decisões do BC brasileiro. Os bancos nacionais passaram a ter acesso a dinheiro mais barato lá fora, limitando o raio de ação das altas da Selic, que visam a controlar a inflação.

Nos países desenvolvidos, as autoridades monetárias partiram para a aquisição de títulos como forma de estimular investidores a colocar dinheiro em indústrias e projetos produtivos, reduzindo a atratividade de papéis de longo prazo. O problema, neste caso, é que a insegurança levou muitos investidores a continuar comprando esses papéis, apesar do rendimento menor, ou usar o dinheiro vindo dos BCs para investir em emergentes. Isso valorizou moedas locais, como o real.

Para evitar riscos ao sistema financeiro, o BC brasileiro atacou o mercado de crédito em vez de elevar mais o juro. Exigiu aumento nos depósitos compulsórios, um valor que os bancos precisam depositar no BC, aumentaram as exigências de capital para empréstimos e o governo taxou fluxos de dólares para o País, com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), entre outras.

O resultado das medidas, avaliam os autores, mostra o sucesso do País em lidar com os riscos dos fluxos de capital. "Uma combinação de políticas é efetiva envolvendo políticas monetária e macroprudencial para agir de forma complementar para garantir tanto a estabilidade financeira quanto macroeconômica."

Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, as mudanças na economia mundial causadas pela crise mostram que "ser banqueiro central é um jogo completamente diferente hoje do que há dez anos".

Ele concorda com a avaliação dos economistas do BC e avalia que a equipe liderada por Alexandre Tombini continuará usando os instrumentos prudenciais. "Medidas macroprudenciais dão conta de enfrentar o desafio. Não é só inflação, tem de pensar a estabilidade macroeconômica como um todo", afirmou.

Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco WestLB, "são medidas bastante efetivas". As macroprudenciais, diz, devem adiar altas da Selic daqui pra frente. "Quando houver necessidade de apertar as condições monetárias para conter a inflação, a gente vai ter um ranking de prioridades, começando com o uso de macroprudenciais, depois o câmbio e, por fim, os juros."


Veículo: O Estado de S.Paulo


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