Classe D vai girar R$ 409 bilhões na economia

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Com rendimento em alta e crédito farto, as famílias com ganho mensal até R$ 958 compram mais bens duráveis


Ninguém tem mais dúvidas hoje no país sobre a importância econômica da classe C. A novidade é a classe D, novo foco das empresas interessadas em expandir seus negócios. Em 2011, esse grupo de consumidores movimentou R$ 363,3 bilhões na economia, devendo neste ano ampliar essa presença para R$ 409 bilhões, segundo pesquisas do Instituto Data Popular e da Whirpool, fabricante de eletrodomésticos.

Na avaliação do sócio-diretor do Instituto Data Popular Renato Meirelles, a elevação dos níveis de consumo da classe D está associada ao crescimento da renda média dos brasileiros nos últimos anos. Como a massa salarial dos mais pobres aumentou proporcionalmente mais que a dos ricos, pessoas que antes não tinham sequer geladeira ou fogão passaram a incluir esses produtos na lista de compras.

Dados da Whirpool mostram que em 2002 apenas 64% dos lares da classe D tinham um televisor, 70% uma geladeira, e só 10% um celular. Em 2012 a realidade mudou e a presença da TV subiu para 97%, da geladeira para 96% e a do celular para 86%.

Segundo Meirelles, os clientes dessa faixa de rendimentos são exigentes na hora de ir às compras. Eles fazem pesquisas de preços, baseadas na divulgação boca a boca e em marcas famosas que são padrão de referência. Como eles têm o dinheiro contado, não podem ser surpreendidos com produtos de baixa qualidade. Além disso, os varejistas passaram a abrir lojas nas regiões em que integrantes da classe D costumam morar, para facilitar a divulgação”, explica.

Apesar do peso conquistado no mercado, a classe D tende a diminuir nos próximos anos porque o ritmo de crescimento de renda continua acelerado e esse extrato ascenderá socialmente. “As empresas que souberem se relacionar com esse público terão mais chance de dar certo no mercado e conquistar esses consumidores”, completa o diretor do Data Popular.

O professor de economia de empresas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Otto Nogame ressalta que, mesmo com a disposição de ir às compras, parte dos gastos da classe D é com alimentação e transportes. Na opinião do especialista, só após atender as necessidades básicas esses brasileiros pensam em adquirir produtos de linha branca ou de higiene pessoal. “Há grande preocupação com a estética, sobretudo entre as mulheres. O creme para pele, que antes era luxo, ganhou espaço nos gastos”, destaca.

Bom pagador Além de exigentes quem tem renda média familiar de até R$ 958 mantém as contas em dia. Segundo o sócio da consultoria de varejo e planejamento Neocom Informação Aplicada Alexandre Ayres, a condição de bom pagador é predominante porque somente via acesso ao crédito esse tipo de consumidor consegue satisfazer o desejo de ter uma máquina de lavar ou uma televisão em casa. Ayres afirma também que os programas de transferência de renda e promoção social conduzidos pelo governo foram fundamentais para reforçar o orçamento dessas famílias. “Boa parcela desses benefícios estão concentrados no Norte e Nordeste, regiões onde essas classes são representativas”, observa.

Transformação nas casas

A avidez da classe D por consumir produtos de qualidade transformou os seus lares. Na cozinha da dona de casa Maria Sueli Araújo Rodrigues, 42 anos, é possível ver uma geladeira nova, forno elétrico e sanduicheira recém-comprados, além de uma máquina de lavar com menos de dois meses de uso. Ela mora em uma casa alugada com três filhos e o marido. A renda fixa da família, de R$ 700, é fruto do trabalho do filho de 21 anos, mas o esposo, que é pedreiro, faz bicos mensais para incrementar os ganhos. “Com a máquina de lavar, a roupa do marido, que chega muito suja, fica limpinha. Agora, quero comprar um sofá e camas para os quartos e trocar a televisão”, conta.

O casal Raimundo Nonato Bandeira Braz, 38, e Graziela Bandeira Braz, 36, começou a trocar os eletrodomésticos de casa, após quitar todas prestações dos móveis comprados para o quarto da filha Maria Eduarda, de dois meses. “Ganho R$ 1,6 mil como sushiman e sempre faço as compras parceladas, para que as prestações caibam no bolso”, diz Raimundo Nonato



Veículo: Estado de Minas


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