Fiesp apoia política de flutuação "suja" do câmbio

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A atual política econômica, com flutuação "suja" do câmbio, controlada pelo governo, tem o forte apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), diz seu diretor de relações internacionais e comércio exterior, Roberto Giannetti da Fonseca. Estudo da entidade mostra que a ação do governo reduziu recentemente a volatilidade das cotações da moeda estrangeira no Brasil, que, até o começo do ano, vinha se mostrando bem maior que em outros países emergentes, e mais sensível a eventos externos.

"Milhares de empresas estão, agora, exatamente na fase de planejamento do orçamento de 2013", lembra Giannetti. "O tema da previsibilidade cambial é de importancia relevante para a maioria delas."

A nota técnica da Fiesp sobre a volatilidade do câmbio mostra que, entre 2007 e 10 de outubro de 2012, a média das variações da moeda brasileira foi 255% superior a dos outros emergentes, quase 400% maior que na Índia e 256% acima da volatilidade do peso chileno.

O levantamento mostra que o real reage muito mais violentamente a eventos externos, dizem os técnicos da Fiesp. Em setembro, após a quebra do banco Lehman Brothers, o real teve volatilidade 368% superior a dos demais emergentes; em agosto de 2011, após o rebaixamento da classificação de risco dos títulos soberanos dos Estados Unidos, a volatilidade da moeda brasileira foi 311% maior.

A volatilidade reduziu-se neste ano, e, entre janeiro e 10 de outubro, ficou muito próxima à das moedas da Índia e do México, e 122% além da média dos emergentes. Os motivos para isso foram a queda na taxa de juros básica, a Selic, que reduziu o prêmio nas operações de arbitragem de moedas e as medidas de controle do governo, como aumento de taxação sobre fluxos de capital de curto prazo, além da intervenção, no mercado, do Banco Central, que tem o apoio da Fiesp, segundo Giannetti.

"Prefiro chamar de flutuação administrada", diz diretor da Fiesp, ao comentar o reconhecimento, por parte do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista ao Valor, de que o governo vem praticando a chamada "flutuação suja" no câmbio. "Na atual conjuntura internacional, é o que acontece na maioria dos países; é purismo quase ingênuo achar que cambio pode flutuar livremente a mercê dos riscos de especulação e da arbitragem evidentes no mundo."

Giannetti critica o "tamanho trilionário" dos fluxos de capital especulativo, e lembra que a Suíça, com a crise do euro, anunciou em setembro do ano passado um piso para a cotação da moeda europeia em relação ao franco. Até a intervenção do governo, neste ano, a arbitragem com valores da moeda recebia "sanção oficial, sem risco", diz o executivo.

Giannetti atribui a valorização do real frente ao dólar à especulação - que sempre foi negada pelo Banco Central - e argumenta que o efeito especulativo era obtido pelo mercado futuro, "que chegou a ter tamanho cinco vezes maior que o mercado primário", onde as cotações são definidas pelo fluxo das contas correntes (comércio exterior, pagamentos de créditos e outras obrigações financeiras).

Para os empresários, segundo Giannetti, a taxa de equilíbrio do dólar, que não distorce as operações de comércio exterior, está entre R$ 2,20 e R$ 2,30. Mas a menor variação das cotações dá maior previsibilidade à indústria e permite calcular o chamado "custo contingente", a possível mudança de taxas capaz de afetar a rentabilidade dos negócios. "Agora é possível mitigar os riscos, racionalmente", afirma.

Veículo: Valor Econômico


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