O choque de alimentos respondeu por quase 60% da variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - 15 (IPCA-15) de outubro, de 0,65%, mas as pressões mais fortes não se concentraram apenas nesse grupo. O índice de difusão, que mostra quantos itens tiveram alta, ficou em 66%, um pouco abaixo dos 68,77% de setembro, mas ainda assim um número elevado, acima dos 58,33% de outubro do ano passado. Além disso, sete dos nove grupos do IPCA-15 tiveram aceleração da inflação de setembro para outubro, com destaque para habitação e vestuário, além dos alimentos, que avançaram 1,56% no mês.
O comportamento dos núcleos do IPCA-15 também deixa claro que os alimentos não são os únicos a puxar a inflação para cima, uma vez que ela continua em níveis elevados mesmo quando a influência dos itens que mais subiram é excluída ou reduzida. O núcleo calculado pela exclusão de dez alimentos no domicílio e dois combustíveis, por exemplo, passou de uma alta de 0,4% em setembro para 0,55% em outubro. O calculado por dupla ponderação, que diminui o peso dos itens mais voláteis, mas sem excluí-los, subiu 0,56%, uma avanço mais forte que o 0,44% do mês anterior. Em 12 meses, esse núcleo acumula alta de 5,71%.
"Esse movimento indica que a inflação não está concentrada somente em alimentos. A tendência é que a inflação desse setor desacelere até o fim do ano, mas teremos uma troca de pressões, com altas maiores em serviços", projeta a economista Priscila Godoy, da Rosenberg & Associados, tendo em vista a retomada da atividade já em curso, que tende a puxar os preços desse grupo para cima no fim do ano.
Em outubro, houve algum alívio nos preços de serviços (como aluguel, mensalidades escolares, empregado doméstico, conserto de automóvel), uma das principais fontes de pressão para a inflação nos últimos anos. Os serviços subiram 0,43%, um pouco menos que o 0,47% de setembro. O item empregado doméstico foi o grande responsável por esse movimento, ao passar de uma alta de 1,24% para uma queda de 0,17%. O ponto é que isso tende a ser mais um ponto fora da curva do que uma tendência. Com o mercado de trabalho aquecido, parece muito difícil haver novas deflações nesse item.
Também chamou a atenção o fato de o IPCA-15 acumulado em 12 meses ter subido de 5,31% em setembro para 5,56% em outubro. Mesmo num ano em que o país cresce pouco e há o impacto deflacionário das reduções de impostos para veículos e eletrodomésticos da linha branca, a inflação está bastante acima do centro da meta perseguido pelo Banco Central, de 4,5%.
Com o resultado do IPCA-15, o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, revisou de 5,4% para 5,5% sua estimativa para o aumento do IPCA neste ano. Referência para o regime de metas, o IPCA mostra a inflação fechada no mês, enquanto o IPCA-15 mede a variação dos preços entre a segunda quinzena do mês anterior e a primeira do mês de referência. O cenário inflacionário para outubro e novembro foi ligeiramente ajustados para cima, segundo Romão.
"A revisão foi focada principalmente em alimentos, mas os preços de transportes e vestuário também sofreram mudanças", diz ele, para quem o grupo alimentação, que avançou de 1,08% para 1,56% entre o IPCA-15 de setembro e o indicador de outubro, vai manter o mesmo nível pressionado no fechamento do mês.
Contando com essas pressões, o analista revisou de 0,58% para 0,61% a estimativa para a alta do IPCA de outubro. Para novembro, a projeção foi revista de 0,53% para 0,54%, ajustes que levaram à mudança da previsão da LCA para 2012.
Em nota, o economista Elson Teles, do Itaú Unibanco, afirma que o IPCA-15 de outubro ficou acima do esperado, o que sinaliza altas mais acentuadas dos grupos alimentação e transportes ao fim do mês. A projeção para o IPCA de outubro foi elevada de 0,50% para 0,60%. Para o ano, Teles mantém sua estimativa em 5,5%. "O grupo alimentação seguirá pressionando o índice, mas já deve apresentar alguma perda de fôlego em relação ao resultado do IPCA-15."
A segunda prévia do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) de outubro, que subiu 0,15%, mostrou um alívio considerável justamente nos preços agropecuários ao produtor. Esse grupo passou de uma alta de 2,6% no mesmo período de setembro para uma deflação de 0,4% no de outubro.
Veículo: Valor Econômico