Sem meta definida para valor da moeda norte-americana, Tombini realça munição para atuar no mercado
O Banco Central tem munição e pode intervir no mercado de câmbio neste fim de ano, se houver desequilíbrio entre a oferta e a demanda por dólares que possa alterar de forma significativa o valor da moeda frente ao real. A afirmação é do presidente do BC, Alexandre Tombini, que não vê, entretanto, um limite para a cotação da moeda norte-americana. A divisa fechou praticamente estável nesta quinta-feira, a R$ 2,097, um dia depois de alcançar o maior valor em três anos e meio. Para o presidente do BC, o atual patamar também deve levar em conta que, tradicionalmente, a oferta de dólares no fim do ano diminui, e a demanda aumenta. Ele frisa, porém, que se trata de movimento temporário e tende à reversão no início do ano. “Se preciso for, vamos intervir na virada do ano.”
Durante audiência pública nesta quinta-feira, no Congresso Nacional, Tombini falou ainda da possibilidade de desvalorização do dólar. Afirmou que a autoridade monetária não busca nem uma cotação, nem uma banda de câmbio específica. Mas defende, sim, um dólar em “outro patamar”, mais alto em relação a níveis verificados até o ano passado, quando a moeda estava bem abaixo de R$ 2,00 ou “fora do que seria razoável”. “O BC continua praticando a política cambial que sempre praticou para que o real não seja objeto de valorização por causa da política adotada por outros países”, afirmou.
Tombini repetiu, pelo menos três vezes, que o Brasil tem um regime de câmbio flutuante, mas que isso não significa que o governo não possa intervir, se achar necessário. “Não temos qualquer objetivo de câmbio. Estamos sob regime de câmbio flutuante. O que tem se dito ao longo do tempo é que nós sempre tomaremos as precauções para evitar que o Brasil não seja uma praça de desvalorização de moedas importantes, por exemplo o dólar, contra a nossa moeda.”
Na audiência, Tombini declarou que a visão do BC é de que o cenário internacional continua complexo e com perspectiva de baixo crescimento por um longo período. No Brasil, dados recentes mostram que o ritmo da atividade está mais intenso neste semestre e deve continuar assim no início de 2013. Já a inflação está em trajetória de queda, em direção ao centro da meta de 4,5%. Ao afirmar que o Brasil tem hoje uma taxa de juros mais próxima de níveis internacionais, o presidente do BC citou que isso não significa que, se necessário, a instituição possa mexer novamente nos juros “para cima ou para baixo”. “A política monetária se manterá vigilante para que a inflação fique sob controle.”
Questionado sobre a aparente contradição entre os dados positivos do consumo e o baixo crescimento da economia brasileira neste ano, Tombini observou que o problema não está na demanda, que é uma questão administrada pelo BC, mas na oferta, que faz parte de uma política mais ampla do governo. No dia seguinte ao anúncio oficial de descumprimento da meta fiscal deste ano, Tombini avalia que a situação das contas públicas é confortável, mas é preciso manter esse diferencial do País. “Isso é importante para crescimento nos próximos anos”, completou.
Rombo nas contas externas brasileiras bate recorde para o mês de outubro, mostra balanço
O rombo nas contas externas brasileiras atingiu, em outubro, o maior nível registrado para o mês. Segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC), o déficit em transações correntes somou US$ 5,431 bilhões em outubro, e US$ 39,554 bilhões nos dez primeiros meses do ano. Formada pela soma dos saldos da balança comercial, de serviços, de rendas e das transferências unilaterais, a conta de transações correntes mede a dependência do País em relação aos capitais financeiros internacionais e aos investimentos estrangeiros diretos. Quando essa conta apresenta déficit, o País depende das aplicações de estrangeiros no mercado financeiro e dos investimentos de empresas estrangeiras no Brasil para se financiar.
De acordo com o chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha, o crescimento das importações, dos gastos de turistas brasileiros no exterior e das remessas de lucros de filiais de empresas estrangeiras para o exterior foi responsável pelo recorde no rombo das contas externas. Apesar do resultado expressivo registrado no mês passado, o técnico do BC disse que o déficit nas contas externas está estabilizado. “No ano passado, tivemos déficit de US$ 52,5 bilhões nas transações correntes. Para este ano, projetamos US$ 53 bilhões.”
Um dos principais fatores que impulsionaram o recorde no rombo das contas externas em outubro, os gastos de turistas brasileiros no exterior dispararam no mês passado. As despesas dos brasileiros com viagens internacionais atingiram US$ 2,087 bilhões em outubro. O montante é o maior registrado para o mês e só não é menor que o registrado em julho do ano passado, quando os turistas brasileiros haviam desembolsado US$ 2,234 bilhões em outros países. Por causa do aumento desses gastos, o saldo de viagens internacionais, que mede a diferença entre os gastos de turistas estrangeiros no Brasil e as despesas de turistas brasileiros no exterior, registrou rombo de US$ 1,536 bilhão em outubro. De acordo com o BC, foi o maior déficit registrado para o mês.
Para Rocha, a estabilidade do câmbio nos últimos meses e o crescimento da renda do brasileiro explicam a retomada dos gastos fora do País. “Depois de subir no meio do ano, o dólar ficou estável em torno de R$ 2,00 nos últimos meses. Isso permitiu que os turistas planejassem melhor as despesas no exterior, e os brasileiros voltaram a viajar. Sem contar que a renda do brasileiro continuou crescendo nesse período”, ressaltou.
Com a alta recente do dólar, que nos últimos dias subiu e está alcançando R$ 2,10, o chefe do Departamento Econômico do BC diz que ainda levará algum tempo para que os gastos com viagens internacionais voltem a cair. “Os brasileiros que vão para fora do País agora já tinham planejado a viagem. Desta forma, sempre existe uma defasagem entre uma subida do dólar e o enfraquecimento dessa conta de viagens internacionais”, declarou. De acordo com Rocha, os dados preliminares de novembro indicam que os gastos de turistas no exterior devem fechar em níveis menores em relação a outubro. Até o último dia 20, os brasileiros tinham desembolsado US$ 1,178 bilhão em outros países.
Veículo: Jornal do Comércio - RS