Tanto o presidente russo Vladimir Putin quanto o primeiro-ministro do país, Dimitri Medvedev, levantaram o tema com a presidente Dilma Rousseff: a Rússia quer negociar com o Brasil o uso de suas próprias moedas, real e rublo, no comércio bilateral.
O mecanismo daria segurança ao intercambio bilateral sem passar pelo dólar ou pelo euro, já que os países não ficariam expostos à política monetária dos Estados Unidos ou da zona do euro, como diz um negociador.
Na visita de Dilma, chamou a atenção o interesse forte dos russos sobre o tema. Moscou já tem uso de moeda local no comércio com a China, e negocia fazer o mesmo com a India. Putin mencionou diretamente a proposta na declaração à imprensa, enquanto a presidente Dilma não abordou o tema.
Tem havido consultas entre técnicos dos dois bancos centrais. Já houve a ida de uma missão de economistas russos ao Brasil para refinar a ideia. Está prevista nova reunião para retomar o tema durante a visita de Medvedev a Brasília, em fevereiro, quando participará da comissão bilateral de cooperação economica.
Do lado brasileiro, entretanto, persiste a prudência. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, admite que o comércio bilateral ainda é pequeno para justificar a utilização de moedas locais. E acha que para passar do intercambio atual de US$ 7 bilhões para a meta de US$ 10 bilhões, que deveria ter sido alcançada no passado, é preciso sobretudo mobilizar as empresas, estimular investimentos etc.
O ministro de Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, constata que países com crescente comércio com o Brasil fazem essa proposta de uso de moeda local. "Estamos no inicio de um longo processo de transição que vai dar uma esvaziada das atuais moedas de reservas internacional, a começar pelo dólar", disse. "Está todo mundo em busca de mecanismo em moedas locais, binacionais, que ajude a evitar solavancos de moedas atuais de reserva".
No âmbito dos Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, o uso de moeda dos parceiros também vem sendo discutido. O grupo explora varias hipóteses. Uma delas é a criação de um fundo de reservas que possa servir para garantia de transações entre os países.
Aparentemente, a ideia do fundo com as moedas do Brics seria mais fácil de articular. O certo, de acordo com as fontes, é que mais cedo ou mais tarde pode acabar saindo alguma fórmula, desde acerto de contas puramente bilateral ou plurilateral - ou a combinação das duas.
Para um importante negociador da área comercial, o fiasco no uso de moeda local no comércio com a Argentina "é um caso suspeito, porque a Argentina quase nem tem moeda direito".
Veículo: Valor Econômico