Despesas da classe C totalizarão R$ 1,4 trilhão em consumo

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A classe média brasileira deve alcançar, em 2012, o potencial de consumo da parcela mais rica da população. Ao todo, as despesas da classe C totalizarão R$ 1,4 trilhão, o mesmo valor das camadas A e B juntas. Os números fazem parte de um estudo divulgado, ontem, pelo ministro da Secretaria de Assuntos Especiais (SAE) da Presidência da República, Wellington Moreira Franco, um dos palestrantes do Fórum Novo Brasil — Desvendando a Classe Média. O evento foi realizado em parceria com o Correio, o instituto de pesquisa Data Popular e a agência de comunicação Monumenta.

Em 2011, a classe C gastou o equivalente a R$ 1 trilhão. Com isso, superou o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) de várias economias em desenvolvimento. Como exemplo, Moreira Franco citou um estudo, preparado pelo governo, que coloca essa parcela da população em posição de destaque no cenário mundial. “Caso fosse um país, a classe média brasileira estaria em oitavo lugar no G-20 do consumo mundial”, comparou. A frase do ministro remete ao ranking dos 20 países mais ricos do mundo, do qual o Brasil ocupa, atualmente, a sexta posição.

Um dos palestrantes no evento, o diretor para a Região Centro-Oeste da operadora de telefonia TIM, Leonardo Queiroz, ressaltou que é justamente o forte poder de compra da classe média que fez muitas multinacionais mudarem o foco dos negócios no país. “A gente, na TIM, teve que mudar tudo em termos de estratégia comercial”, disse. Há três anos, a maior parte dos produtos lançados pela empresa no Brasil tinha como alvo principal os clientes das classes A e B. “Hoje é o contrário”, contou o executivo.

O mesmo ocorreu com o mercado de tecnologia. Para atrair mais clientes, os hipermercados passaram a comercializar televisores, celulares e até computadores. Com a maior concorrência, os preços desabaram. Nessa toada, quem ainda apostava apenas na venda tradicional de itens de informática teve de rever o modelo da operação.

“Foi o caso da Ctis Digital”, disse ontem o presidente para a Área de Varejo da empresa, Ricardo Monteiro. Apostando cada vez mais no atendimento qualificado e na prestação de serviços, a rede conseguiu manter as vendas mesmo sem apostar em uma política agressiva de preços. “Mostramos ao cliente que o importante é comprar certo, com garantia de venda e instalação feita por um profissional”, explicou.

 

Jovem, negra e feminina


A nova classe média brasileira é jovem, negra e formada majoritariamente por mulheres. Movimenta R$ 1 trilhão por ano, alimenta valores como laços de amizade com a vizinhaça e não tem a pretensão de se tornar membro da elite. O empresário que quiser conquistar essa parcela da sociedade terá que entender as suas peculiaridades e falar a sua língua. As conclusões são do sócio-diretor do instituto de pesquisa Data Popular, Renato Meirelles. Ele participou ontem do Fórum Novo Brasil — Desvendando a Classe Média, promovido, em Brasília, pelo Correio.

O controle da inflação e o aumento real da renda, principalmente do salário mínimo, criou um forte mercado consumidor formado por 104 milhões de pessoas, o equivalente a 52% da população. A faixa etária entre 18 e 30 anos se tornou tão importante nesse contexto que já não pode ser vista como segmento. Segundo Renato Meirelles, “ela é o verdadeiro mercado”. Movimenta R$ 100 bilhões por ano e consome, principalmente, produtos eletrônicos e lazer. Para cada jovem da classe alta, existem quatro da classe C. Além de ter mais anos de educação que seus pais, contribuem cada vez mais com a renda familiar, levam para casa R$ 71 de cada R$ 100 produzidos pela família.

Os negros e as mulheres também passaram a ocupar um lugar central. De cada 10 pessoas da classe média, oito são negras. E 41% da renda desse contingente são geradas por elas. A pesquisa da Data Popular mostra ainda que as mulheres definem como será gasto o dinheiro da família. Decidem qual alimentação (86%), carro (69%) e computador (56%) comprar. “Muitos pensam que são os homens que escolhem um veículo mais potente, mas, na verdade, são elas”, ressalta Meirelles.

Outra característica da nova classe média destacada na fórum é o otimismo. Seis em cada 10 pessoas acreditam que a vida melhorou nos últimos anos, e oito em cada 10 têm certeza de que, em 2013, as coisas estarão ainda melhores. Esse é o espírito que precisa ser captado pelo empresariado. Os brasileiros da classe C não buscam exclusividade ou coisas intangíveis, como um iPod que armazena 10 anos de música. Elas são práticas, focadas e querem produtos de qualidade e bons serviços.

 

Veículo: Correio Braziliense


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