Dólar alto com inflação afeta empresas, diz BC

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'O que se ganha com a desvalorização do real se perde com inflação e não se ganha competitividade', diz presidente do BC em depoimento no Senado



A valorização do dólar pode não trazer os benefícios esperados pelas empresas brasileiras se for acompanhada de um avanço da inflação. O recado foi dado ontem pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Tombini afirmou que é preciso avaliar o comportamento do câmbio real - o preço da moeda descontada a inflação - e não seu valor nominal. Isso porque, se os índices de preços subirem muito, o ganho de competitividade obtido com a desvalorização da moeda brasileira pode ser perdido.

"Aquilo que se ganha com a desvalorização do real se perde com inflação e não se ganha competitividade", afirmou. Para o presidente do BC, qualquer movimento relativo ao câmbio deve ser feito "preservando o controle da inflação".

O dólar passou a custar mais reais no mercado local há duas semanas, depois que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o fraco desempenho da economia no terceiro trimestre do ano.

Alguns analistas passaram a apostar que a equipe econômica deixaria o real perder valor ante a moeda americana para ajudar a indústria. O problema é que esse movimento encarece os produtos importados, o que pode pressionar os índices de preços no Brasil.

Desde então, o governo vem operando - com intervenções no mercado e comentários de autoridades - para que o dólar não oscile muito.

Anteontem, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, disse que há uma "gordura" na taxa de câmbio, ou seja, o dólar está valendo mais do que deveria estar.

Leilão. Além da fala de Tombini, o Banco Central informou ontem que fará hoje um novo leilão de venda de dólares das reservas internacionais, que pode chegar a US$ 1,5 bilhão. O anúncio foi feito logo após o encerramento dos negócios, em um dia em que a moeda subiu 0,10%, para R$ 2,08.

O impacto da alta do dólar na inflação está entre os fatores que levaram o governo a mudar o discurso e a sua linha de atuação no câmbio desde o início do mês. Nesse período, foram realizadas intervenções para segurar a alta das cotações. Também foram revistas duas medidas cambiais, desta vez para estimular a entrada de moeda estrangeira no País.

No teto. No ano passado, o IPCA - índice "oficial" de inflação - subiu 6,5%, o teto da meta fixada pelo governo. Este ano, até novembro, o indicador acumulou uma alta de 5,01%. Analistas acreditam que ele fechará o ano com um avanço de 5,58%. Para 2013, a projeção é de uma alta de 5,4%.

"O importante é que o BC fique focado em assegurar a estabilidade e que a inflação convirja para centro da meta", disse Tombini, que voltou a insistir que a política de juros definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) é a melhor forma de assegurar que os índices de preços vão convergir para o patamar de 4,5% no próximo ano.

Ontem, o presidente do BC citou a moderação na alta do dólar como um dos fatores que vão contribuir para a queda da inflação no próximo ano. Tombini afirmou que o regime é flutuante, ou seja, não há uma cotação fixa determinada pelo governo. Isso, no entanto, "não deve ser visto como um incentivo para apostas que exacerbam a sua volatilidade".


Veículo: O Estado de S.Paulo


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