Reversão atinge também financiamento para empresas e ocorre depois de quatro meses seguidos de queda, aponta pesquisa da Anefac
Após quatro meses consecutivos de queda, os juros cobrados de empresas e de consumidores voltaram a subir em novembro, contrariando a expectativa, que era de redução.
No mês passado, a taxa média de juros cobrada do consumidor subiu de 5,5% em outubro para 5,63% em novembro. A alta é de 0,13 ponto porcentual na taxa mensal que, anualizada, representa uma variação de 2,36%, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Administração (Anefac). A pesquisa é nacional.
Movimento semelhante ocorreu nos juros cobrados nos empréstimos destinados às empresas. Em outubro, a taxa média mensal de financiamentos a pessoas jurídicas era de 3,17% e subiu para 3,29% no mês passado. A variação mensal foi de 0,12 ponto porcentual e a alta da taxa anualizada atingiu 3,79%.
"A subida das taxas de juros nos surpreendeu", afirma o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira. Segundo ele, a competitividade entre as instituições financeiras e a relativa estabilidade da inadimplência, apontada pelo Relatório de Crédito do Banco Central (BC), eram fatores que levavam a crer que os juros continuariam a trajetória de queda. No entanto, esse movimento foi interrompido em novembro.
Segundo Ribeiro de Oliveira, a alta dos juros reflete a oportunidade que apareceu para as instituições financeiras de recompor margens no momento em que a procura por crédito aumenta por causa das compras de fim de ano. "Os bancos e as financeiras viram uma oportunidade de recompor margem, com mais liberdade."
Das seis linhas de crédito ao consumidor pesquisadas pela Anefac, houve alta em cinco delas. A maior elevação foi registrada nos juros médios mensais do comércio, que subiram de 4,1% em outubro para 4,3% em novembro. Na análise de Ribeiro de Oliveira, a alta foi maior nos juros do comércio por causa do calote elevado nas compras a prazo de produtos. Além disso, a elevação da inadimplência dessa linha nos últimos meses fez com que bancos desistissem de financiar as lojas.
Na pesquisa da Anefac, a única linha de financiamento ao consumidor cuja taxa média de juros ficou inalterada foi a do cartão de crédito. A taxa estava em 9,37% ao mês, ou 192,94% ao ano, no mês passado. "Os juros do cartão caíram recentemente", observa Ribeiro de Oliveira, lembrando que a pressão recente do governo exercida sobre os cartões para cortar juros reduziu o espaço para elevações.
São Paulo. Enquanto a pesquisa nacional da Anefac com bancos, lojas e financeiras mostra elevação dos juros ao consumidor, levantamento feito pela Fundação Procon de São Paulo revela que as taxas cobradas pelos bancos no cheque especial e no empréstimo pessoal ficaram estáveis de novembro para dezembro. No empréstimo pessoal, a taxa média ficou em 5,35% ao mês e, no cheque especial, em 7,92%. O levantamento envolveu sete instituições financeiras: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú, Safra e Santander, todas na cidade de São Paulo.
Apesar da abrangência diferente, os resultados das duas pesquisas não são contraditórios. O levantamento da Fundação Procon é deste mês e está restrito à cidade de São Paulo. A pesquisada Anefac é nacional e diz respeito às taxas de novembro.
Ribeiro de Oliveira acredita que a alta dos juros em novembro não seja uma tendência e que a taxa volte a cair este mês. Mas a pesquisa da Fundação não mostra isso.
Veículo: O Estado de S.Paulo