O dólar encontra-se um pouco mais valorizado do que deveria estar em relação ao real, avaliou o diretor de política monetária do Banco Central (BC), Aldo Mendes, segundo o qual, o tripé de política econômica baseado em câmbio flutuante, meta de inflação e superávit primário continua em vigor. Ontem, a moeda americana caiu 0,67%, encerrando o dia cotada a R$ 2,077.
"Acho que ainda tem um pouco de gordura na nossa taxa com o modelo que utilizamos [para calcular o patamar adequado do dólar ante o real]. Talvez tenha um pouco de gordura, talvez esteja um pouco acima do que o nosso modelo indicaria", afirmou ele, sem citar a taxa cambial ideal para o BC, ontem, durante o evento "Reavaliação do Risco Brasil 2012", organizado pelo Valor no Rio.
Mendes negou que o tripé da política econômica brasileira não esteja em vigor. Questionado pelo ex-presidente do BC Carlos Langoni, Mendes disse que nada mudou. "Não vejo motivo para falar em fim do tripé de política econômica. Não mudou nada. O regime de metas [de inflação] continua como sempre esteve, a ata do Copom [Comitê de Política Monetária] continua válida, todo o trabalho de perseguir o centro da meta vai ser levado adiante", declarou o diretor do BC, no seminário promovido em parceria com o Comitê de Cooperação Empresarial da Fundação Getúlio Vargas, Standard & Poor's, Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-RJ).
O diretor do BC reiterou que a autoridade monetária nunca teve meta para o câmbio, mas irá garantir que não falte dólar. "O mercado flutua, o câmbio tem flutuado. É evidente que fim de ano é sempre de baixa liquidez, e o BC vai fornecer a liquidez que o mercado precisar. Não faltará dólar", enfatizou Mendes, citando os US$ 380 bilhões de reservas internacionais.
Mendes também defendeu as medidas adotadas pelo governo na semana passada para melhorar o fluxo de dólares para o país: a redução de dois para um ano do prazo dos créditos externos sujeitos à cobrança de 6% de IOF; e a ampliação de um para cinco anos do prazo para antecipação de receitas de exportação. "Certamente, a medida vai facilitar o financiamento de empresas exportadoras e não exportadoras. O objetivo foi baratear fontes de capital de financiamento de médio e longo prazos", disse ele.
Segundo Mendes, a taxa básica de juros (Selic) atual, de 7,25% ao ano, será suficiente para fazer convergir a inflação à meta de forma não linear. O centro da meta para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 4,5% ao ano, podendo variar dois pontos percentuais para cima ou para baixo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até novembro, o IPCA sobe 5,01% no ano.
Na avaliação do diretor do BC, a atividade econômica brasileira deverá se intensificar neste trimestre, ao passo que o cenário externo continuará "complexo". "O cenário internacional continua complexo e com perspectiva de baixo crescimento. Mas o ritmo da atividade econômica no Brasil deve se intensificar no último trimestre de 2012 e no próximo ano."
Veículo: Valor Econômico