Inflação de janeiro será 2ª mais alta em 10 anos

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A inflação em janeiro deve ter a segunda maior alta para um primeiro mês do ano dos últimos dez anos, mesmo sem o reajuste da tarifa de ônibus urbano em São Paulo e no Rio. Por causa de pressões pontuais, como a recomposição das alíquotas de IPI para automóveis e itens da linha branca, e aumento dos preços dos alimentos in natura, as expectativas para a inflação em janeiro estão se acelerando desde o fim de 2012.

Em novembro do ano passado, a mediana das projeções do mercado apontava para alta de 0,65% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no primeiro mês de 2013. No mais recente Boletim Focus divulgado pelo BC, as expectativas subiram para alta de 0,78%. Com exceção de 2011, quando o indicador avançou 0,83% no primeiro mês do ano, o índice não tem alta tão forte desde janeiro de 2003.

Fabio Romão, economista da LCA, projeta que a variação do IPCA em janeiro será de 0,91%. Se houvesse reajuste de 5,4% da tarifa de ônibus urbano no Rio, e de 11% em São Paulo, o índice oficial de inflação apresentaria variação positiva de 1,05% no mês, levando a inflação acumulada em 12 meses a 6,35%, muito próxima do teto da meta perseguida pelo BC (6,5%).

Para aliviar esse impacto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu aos prefeitos de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que o reajuste da tarifa fosse empurrado para o fim do primeiro semestre.

São Paulo e Rio representam pouco menos de 55% do item tarifa de ônibus urbano, que tem peso de 2,7% na composição do índice oficial de preços. Mesmo sem o reajuste nessas duas capitais, outras cidades, como Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, já anunciaram aumento das passagens. Para Romão, o item subirá 0,84% em janeiro.

"É um ano pós-eleição municipal, então é natural que ocorram aumentos", afirma Romão, que enxerga nesse item um dos fatores de pressão para que a inflação suba com mais força em janeiro.

O grupo alimentos e bebidas, pressionado pelos produtos in natura, também deve continuar a incomodar no primeiro trimestre, afirma Romão. Para janeiro, o economista projeta alta de 1,5%, ante variação de 0,86% em igual período do ano passado. "Temos ainda questões pontuais, como a recomposição gradual das alíquotas da IPI para itens da linha branca e automóveis", diz.

Fabio Ramos, economista da Quest Investimentos, já não contabilizava reajuste da tarifa de ônibus em São Paulo em janeiro. Ainda assim, sua estimativa para o IPCA é de 0,80% neste mês. Apenas um aumento da ordem de 10% da tarifa de ônibus urbano em São Paulo, segundo Ramos, poderia adicionar mais 0,1 ponto percentual a essa conta. Mesmo que as tarifas de ônibus nessas duas cidades não tenham aumento agora, Ramos, da Quest, calcula que, no primeiro trimestre, o IPCA deve acumular alta de 1,55% neste ano, bem acima do aumento de 1,22% observado no início de 2012. Isso mesmo em um período em que a tarifa de energia deve ficar cerca de 15% mais barata, diz Ramos.

Ramos também cita a alta dos alimentos in natura para explicar a expectativa de IPCA elevado em janeiro. O aumento de 12% do IPI para cigarro é outro ponto que está pressionando de forma atípica a inflação neste início de ano e deve adicionar algo como 0,05 ponto o IPCA deste mês.

Romão, da LCA, já embutiu em seus cálculos reajuste de 7% da gasolina nas refinarias, com aumento de 5,5% nas bombas e impacto de 0,32 ponto percentual no IPCA de 2013. Apenas em janeiro, o efeito deve ser de 0,05 ponto, caso o aumento seja anunciado no fim do mês. Por isso, afirma, o IPCA acumulado em 12 meses deve passar para 6,2% em janeiro a manter-se acima de 6% até setembro.

Ramos, da Quest, acredita que o reajuste previsto para a gasolina não será integralmente repassado para o consumidor, já que ainda é possível zerar a alíquota de PIS-Cofins paga pelas distribuidoras, atualmente de R$ 0,07 por litro.

A avaliação dos economistas é que o Banco Central não deve reagir a esse cenário, porque conta com um segundo semestre muito mais favorável para a inflação. "No ano passado, a inflação de alimento e bebidas avançou muito mais do que ocorre normalmente em quatro meses seguidos, de julho a outubro, por causa dos efeitos da seca que afetou a colheita de grãos nos Estados Unidos", afirma Romão.

Assim, as variações mais altas de alimentos vistas naquele período devem "sair" do IPCA, permitindo desaceleração do índice acumulado em 12 meses. Para Romão, a inflação encerrará o ano em 5,4%, após atingir o pico de 6,4% em junho, na mesma comparação.

"O Banco Central acredita que este será um ano muito mais tranquilo para os preços das commodities", afirma Ramos, da Quest. Assim, as pressões concentradas neste primeiro trimestre se dissipariam ao longo do ano e o índice oficial, de acordo com sua projeção, fechará 2013 com alta de 5,6%.


Veículo: Valor Econômico


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