Apesar do crescimento baixo da economia no ano passado, IPCA fechou acima do centro da meta do governo pelo terceiro ano seguido
A inflação acelerou em dezembro e fez o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechar 2012 com um avanço de 5,84%. O indicador, usado como referência para a inflação oficial, foi divulgado pelo IBGE. O resultado, apesar de estar dentro do limite de tolerância (até 6,5%), ficou acima da meta estipulada pelo governo, de 4,5%, pelo terceiro ano consecutivo, mesmo contando com a 'ajuda' do crescimento baixo da economia, estimado em cerca de 1%.
A sequência de altas iniciada em agosto na taxa do IPCA culminou com uma inflação de 0,79% em dezembro, a maior desde março de 2011. O movimento indica que os preços não devem dar trégua no início de 2013.
"Vamos entrar no primeiro trimestre de 2013 com inflação muita alta, em torno de 0,75% a 0,8% em janeiro. Em fevereiro, se houver redução na energia elétrica, terá a compensação do reajuste na gasolina. Continua um quadro preocupante, sem nenhum sinal claro de convergência ainda para o centro da meta", avaliou o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.
Em 2012, o item de maior impacto no bolso das famílias foi o empregado doméstico, com aumento de 12,73%. Os salários subiram conforme a oferta de mão de obra diminuiu. Diante de um mercado de trabalho aquecido, as empregadas domésticas têm migrado para empregos mais atraentes, informou o IBGE.
O ano também foi de grande pressão dos alimentos, que passaram por um choque de oferta ao longo de 2012 por causa de problemas climáticos no Brasil e no exterior. Ficaram mais caros produtos básicos da dieta do brasileiro, como a farinha de mandioca, feijão, alho, ovo, frango e pão francês, entre outros itens.
O segundo lugar na lista de principais impactos no IPCA do ano foi ocupado pela refeição fora de casa. "Com a renda aumentando, a pressão de demanda sobre a alimentação fora de casa tem sido muito grande. Isso propicia o repasse dos custos maiores dos alimentos", diz Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
Com a reclamação de que os salários não são reajustados na mesma proporção que os gastos mensais, muitos consumidores optam por priorizar alguns custos em detrimento de outros. "Um conjunto de altas de preços teve influência direta sobre a rotina da minha família. Já pensamos em reduzir os dias de trabalho da empregada doméstica", contou a coletora de dados do IBGE Elizabeth Costa.
Para quem segue uma rotina de trabalho e não tem como fugir dos restaurantes, uma saída é pesquisar os melhores preços. "Costumo olhar os preços antes de decidir por um local", disse a secretária Elimar Soares.
Os serviços continuaram a subir, também impulsionados pela renda. No ano passado, a alta foi de 8,74%, enquanto o IPCA avançou 5,84%. As passagens aéreas foram destaque na inflação de dezembro e aumentaram 26% ao longo de 2012. Mas houve pressão ainda do encarecimento de itens como aluguel residencial, condomínio, mão de obra, excursão e cursos regulares.
Mesmo sem superar os 6%, a alta no IPCA em 2012 ficou no limite das previsões do mercado financeiro. Mas economistas não acreditam que o resultado leve a um novo ciclo de alta na taxa básica de juros. "Por mais que a inflação esteja rodando a 5,5% em 2013, o cenário de atividade econômica ainda é muito fraco", afirmou Inês Filipa, economista-chefe da Icap.
Veículo: O Estado de S.Paulo