Presidente Dilma conversa com grandes empresários e acompanha com lupa os indicadores de atividade econômica neste início de ano
Conselheiros políticos da presidente Dilma Rousseff acompanham com apreensão os primeiros indicadores de desempenho da economia neste início de ano. O temor é o de que a atividade fraca de 2012 continue e contamine um dos pilares da alta popularidade da presidente: o emprego. Se o Produto Interno Bruto (PIB) não reagir, o mercado de trabalho pode ser atingido, segundo avaliam as confederações da indústria, do comércio e dos serviços.
"Se a economia seguir um padrão fraco como o de 2012, a desaceleração alcança o mercado de serviços e aí podemos ter uma contaminação do mercado de trabalho", avaliou o gerente executivo do Núcleo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. De janeiro a novembro de 2012, a indústria registrou queda de 0,2% no emprego na comparação com 2011. O dado negativo, porém, foi compensado pelo desempenho do comércio e dos serviços.
"Mas já em novembro e em dezembro, tivemos um crescimento menor do emprego, por isso o governo tem de dar um impulso", comentou o presidente da Confederação Nacional dos Serviços (CNS), Luigi Nese. "Acho que, no primeiro trimestre, a economia não se recupera."
O mesmo alerta foi feito pelo economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC). "Se tivermos fraqueza na indústria e os investimentos não acontecerem, o emprego pode sofrer", observou.
Encontros. Justamente para não repetir o "pibinho" de 2012 – estimado em cerca de 1% de expansão –, Dilma tem dedicado sua agenda a contatos com empresários. A meta informal da equipe econômica é obter um aumento de 8% nos investimentos este ano, ante uma queda da ordem de 2% no ano passado. O governo tem grandes esperanças nas concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos à iniciativa privada.
Também há cobranças pelo lado do investimento público. O plano é plantar este ano para colher em 2014, ano eleitoral. Embora o risco de uma nova frustração na economia esteja no radar, esse não é o quadro considerado mais provável pelos economistas do setor privado.
Mesmo atentando para as consequências negativas de um desemprego fraco na indústria, Thadeu de Freitas acredita que o ano será positivo para o comércio e para o emprego.
A estimativa é de que o setor cresça 7%, que é um pouco menos do que os 9% de 2012. Ainda assim, será o dobro do crescimento estimado para o PIB, que está na casa dos 3% a 3,5%. Thadeu de Freitas acredita que o crédito não vai aumentar no mesmo ritmo de 2012, mas, apesar disso, a compra de bens de consumo duráveis deverá animar o comércio.
Competitividade. A indústria também espera melhora. "Vai ser difícil repetir a queda de 2% de 2012", disse Castelo Branco. "Isso deverá repercutir no mercado de trabalho."
Na avaliação dele, para que esse cenário se concretize, é "crucial" que sejam adotadas medidas para o aumento da competitividade, como o custo de infraestrutura e da energia elétrica, além da desoneração da folha e de taxas de câmbio e juros mais favoráveis. Só assim, acredita Castelo Branco, o "espírito animal" dos empresários despertará. "O investimento é resposta à perspectiva de lucratividade."
Ministro projeta a criação de 5 milhões de vagas no ano
Cálculo de Brizola Neto inclui apenas os postos que seriam gerados com o uso dos recursos do FAT e do FGTS
O governo espera criar 5 milhões de empregos em 2013 só com os investimentos tocados com recursos de dois fundos federais: o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Os cálculos são do ministro do Trabalho, Brizola Neto. "Vivemos uma nova realidade, a do pleno emprego" disse ao Estado.
O FGTS financia obras de habitação e saneamento, sendo o Minha Casa, Minha Vida o principal programa. O FAT é fonte de recursos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que dá crédito mais barato para empresas.
No ano passado, esses dois fundos responderam pela criação de 4,7 milhões de vagas, estima o ministério. Isso é quase um quarto dos 20,3 milhões de vagas abertas de janeiro a novembro, segundo dados do Cadastro Geral do Empregados e Desempregados (Caged). No mesmo período, porém, foram dispensados 18,6 milhões de trabalhadores, de forma que o saldo líquido de geração de emprego ficou em 1,7 milhão de vagas.
Com o impulso dos fundos e das medidas de estímulo à economia anunciadas pelo governo no ano passado, Brizola Neto acredita que será possível retornar ao nível de 2 milhões ou mais de novas vagas, como registrado em 2010 e 2011. "O governo tem muita confiança e a área econômica diz que já estamos rodando numa faixa de crescimento de 3% a 4% ao ano."
O ministro acredita estar numa das pontas operadoras de um novo modelo de desenvolvimento. "Deixamos de ser um país de rentistas e especuladores para ser um país da produção e do trabalho", proclamou. Nesse quadro, os fundos públicos alimentados com recursos dos trabalhadores – o FAT e o FGTS – são o que ele chama de forma saudável de financiamento da economia.
Ele chama de "invenção" a avaliação que o mercado de trabalho aquecido num quadro de baixa produção, como o visto em 2012, gera uma pressão de custos para as empresas. "É justamente o regime de direitos e garantias, colocado por alguns como custo, o responsável pelo processo de desenvolvimento nacional."
A leitura vai na contramão de iniciativas em estudo na área econômica para reduzir o custo de produção no País, inclusive o da mão de obra. O Ministério da Fazenda e o próprio Planalto analisam, por exemplo, a possibilidade de adoção de um modelo mais flexível de relações de trabalho, como o utilizado na Alemanha. Nele, acordos entre o patrão e uma comissão de empregados pode se sobrepor à legislação.
Brizola Neto observa que, na Alemanha, a maior parte dos empregos é gerada por grandes empresas, o que não ocorre aqui. Assim, o que lá funciona como forma de fortalecer os sindicatos e os trabalhadores aqui poderia ser pretexto para a fragilização de direitos. "Aqui, com uma relação tão desigual entre capital e trabalho, a liberdade escraviza e a lei liberta." O modelo alemão é defendido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Outra proposta em pauta, em análise no Legislativo, é a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. Essa mudança é combatida pelas empresas, pois elevaria os gastos com salários. Para o ministro, essa redução não seria inexequível, pois já opera na prática.
Mas ele avalia que não é hora de discutir isso. "Em meio a uma crise internacional, é claro que reduzir a jornada vai comprometer a competitividade."
Veículo: O Estado de S.Paulo