Desemprego deve voltar a crescer no Brasil, alerta OIT

Leia em 6min 30s

Para a Organização Internacional do Trabalho, nos próximos cinco anos será a vez de os emergentes serem contaminados pela crise


Nos próximos dois anos, o Brasil terá mais 500 mil pessoas sem trabalho e a tendência de queda da taxa de desemprego dos últimos anos será invertida. O alerta é da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que publicou nesta segunda-feira, 21, novas estimativas sobre o desemprego no mundo e revelou que, depois de atingir os países ricos nos últimos anos, será a vez de os emergentes serem contaminados pela crise nos próximos cinco anos.

Para a entidade com sede em Genebra, os anos de blindagem dos mercados emergentes em relação à crise acabaram, pelo menos em relação aos empregos. A taxa de desemprego no Brasil foi de 6,3% no fim de 2012, segundo os dados da OIT. Subirá para 6,5% em 2013 e, em 2014, atingirá 6,6%, a maior desde 2009 e acima da média mundial. Ao final de 2012, o País somava 6,5 milhões de desempregados. Neste ano, chegará a 6,9 milhões. Já em 2014, vai superar a marca de 7 milhões de brasileiros.

Tanto em números absolutos quanto em porcentual, os dados de 2014 ainda são inferiores a 2007. Mas esses anos marcariam, segundo os dados, uma virada. Os números da OIT sobre o Brasil são acompanhados por uma avaliação detalhada da situação latino-americana. A constatação é clara: as economias da região já não crescerão de forma suficiente para absorver a mão de obra até 2017.

Segundo a entidade, enquanto os países ricos sofreram com a crise, países latino-americanos mantiveram a expansão das economias graças aos preços de commodities e políticas anticíclicas que tiveram sucesso.

Agora, a OIT alerta que a região vai "sofrer com a desaceleração do comércio global e a queda nos preços de commodities". As projeções da entidade indicam que a região crescerá menos que a média mundial nos próximos cinco anos e isso terá um impacto no mercado de trabalho.

Depois de quatro anos de queda, a taxa de desemprego na América Latina vai voltar a subir nos próximos cinco anos, passando dos atuais 6,6% em 2012 para 6,7% em 2013 e chegando a 6,8% entre 2014 e 2017. Em uma década, a região terá mais 3 milhões de desempregados que em 2007, com 21,6 milhões no total.

A OIT aponta que a volatilidade de fluxos de capital para a América Latina afetou as economias da região já em 2012. A queda do desemprego que se via desde 2009, portanto, perdeu força.

Ao contrário dos primeiros anos da crise, quando o desemprego foi concentrado nos países ricos, a pressão começa a ser sentida nos mercados emergentes. Em 2012, 75% das demissões já ocorreram em países em desenvolvimento, principalmente na Ásia e América Latina. "Subestimamos o impacto da crise nos países emergentes", declarou Guy Ryder, diretor da OIT.

Enquanto a taxa de desemprego cairá 8,7% em 2013 para 8% em 2017 nos países ricos, as economias emergentes terão uma elevação de suas taxas, principalmente no Sudeste Asiático, no Sul da Ásia e na América Latina. A taxa média do desemprego no mundo, que era de 5,4% em 2007, chegou a 5,9% em 2012 e irá a 6% em 2013. Esse nível não deve cair até pelo menos 2017.

Produtividade. Mas o aumento do desemprego não é o único desafio para o Brasil. Para a OIT, o maior obstáculo ao desenvolvimento e redução da pobreza hoje na América Latina é a baixa produtividade. Se as atuais taxas na região forem mantidas até 2017, o continente terá índice de produtividade inferior à média mundial. "O ponto fraco é a produtividade", diz José Manuel Salazar, da OIT.

Em 2012, cada trabalhador da região produzia o equivalente a US$ 22 mil por ano, pouco acima da média internacional. No caso do Brasil, a produtividade é ainda mais baixa, de apenas US$ 20,9 mil por ano. Em 2013, deve subir para US$ 21,4 mil e, em 2014, chegará à média latino-americana, de US$ 22 mil. Mas a OIT insiste que, mesmo assim, a região vem perdendo terreno. Há cinco anos, foi superada pelo Leste Europeu e, em breve, será superada pela Ásia.


Crise global já deixou 67 milhões sem trabalho


Além destes, 37 milhões deixaram de buscar um emprego; medidas de austeridade ajudaram a aprofundar a recessão


A crise econômica mundial e as medidas de austeridade aplicadas por governos já fizeram 67 milhões de vítimas no mercado de trabalho e, em 2013, o volume de desempregados baterá um novo recorde, com 200 milhões de pessoas sem trabalho.

Mas se não bastasse o impacto social dos últimos cinco anos e o fato de os mais afetados terem sido os trabalhadores dos países ricos, as previsões estimam que as demissões vão aumentar até 2017 e, desta vez, atingirão as economias emergentes.

O alerta é da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que, em seu informe anual, aponta que, comparado com 2007, 28 milhões de pessoas mais estão desempregadas no mundo. Essa é apenas parte da história. Outras 39 milhões simplesmente se cansaram de buscar um emprego e abandonaram o mercado de trabalho nos últimos cinco anos.

"O drama que se vive é de proporções enormes, e esses números representam um risco real para a desestabilização social", alertou Guy Ryder, diretor-geral da OIT. "As taxas que estamos vendo são inaceitáveis", declarou.

Uma certa redução do desemprego ocorreu em 2011. Mas, com a retomada da crise em 2012 na Europa e a volta da recessão em muitas economias, mais 4,2 milhões perderam seus empregos. O número total chegou a 197 milhões de pessoas pelo mundo, 5,9% da mão de obra global. "A desaceleração na economia global foi significativa, e isso teve um impacto severo no mercado de trabalho", disse Ryder.

O que mais preocupa a OIT é que, até 2017, a situação não ficará melhor. A previsão é de que, em cinco anos, mais de 10 milhões de pessoas extras perderão o emprego em todo o mundo. No total, a década entre 2007 e 2017 verá uma acumulação de 41 milhões de pessoas a mais sem trabalho no mundo. Em 2013, serão 5,1 milhões de demissões, além de 3 milhões em 2014. Em 2017, o total de desempregados no mundo será de 210 milhões. "Estamos caminhando na direção errada", disse Ryder.

Em 2012, 25% das demissões ocorreram nos países ricos. Na primeira fase da crise, entre 2008 e 2010, os países ricos de fato foram os mais atingidos e somaram mais 15,6 milhões de desempregados que o volume registrado antes da crise, em 2007.

Uma certa redução ocorreu em 2011, diante do que parecia ser uma retomada do crescimento mundial. Mas em 2012 a segunda onda da crise desfez os avanços obtidos e, ao final de 2013, a OIT estima que 15,7 milhões estarão desempregados, em comparação com os níveis de 2007.

Austeridade. Ryder fez questão de ressaltar que as políticas de austeridade têm sido as principais responsáveis pela crise. Em sua avaliação, "a dimensão, o ritmo e a intensidade" das políticas de corte de investimentos adotadas por vários governos acabaram incrementando a recessão e, portanto, o desemprego. Ele lembrou que o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) admitiu ter errado na dose do remédio.

O impacto das políticas de austeridade entre os jovens preocupa a OIT. Hoje, são 74 milhões sem emprego, 12,6% do total. Nos países ricos, um a cada três jovens não tem trabalho e 35% já não encontram nada há mais de um ano. / J.C.



Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Governo quer ampliar incentivo à compra local

Plano é levar a todos os produtos feitos no País a preferência de compras governamentaisApós ...

Veja mais
Importação de bens com sobretaxa cai 16,4%

Os cem produtos que tiveram elevação do imposto de importação desde outubro já aprese...

Veja mais
Com dinheiro, brasileiro arrisca mais na compra, diz Nielsen

O que faz um produto ter crescimento nas vendas? A empresa mundial de pesquisas Nielsen fez um estudo para descobrir a r...

Veja mais
Governo teme que crescimento fraco contamine o mercado de trabalho

Presidente Dilma conversa com grandes empresários e acompanha com lupa os indicadores de atividade econômic...

Veja mais
Inflação cai no atacado, mas alta é forte para consumidor

Com desaceleração mais rápida que o esperado nos produtos agropecuários e perda de fôl...

Veja mais
Alívio na folha de pagamento para todos

Para recuperar a economia, governo vai ampliar a desoneração das empresas    Num esfor&cced...

Veja mais
Varejo pretende investir mais com redução da conta

Consumidor estará com mais dinheiro para gastar. Os impactos da Medida Provisória (MP) 579, que prevê...

Veja mais
Desacelera a venda de bens não duráveis

O desemprego diminuiu e a renda aumentou, mas a diversificação dos gastos e o maior endividamento dividira...

Veja mais
Exportador reduz preço, mas não consegue vender mais em 2012

O exportador brasileiro reduziu o preço dos produtos vendidos no exterior em 4,9%, mas mesmo assim a quantidade e...

Veja mais