É o melhor resultado desde março de 2010, mas economistas ainda estão cautelosos
A indústria brasileira começou o ano com o pé direito. A produção surpreendeu com o avanço de 2,5% em relação a dezembro, o melhor resultado desde março de 2010, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os destaques foram as categorias de bens de capital e de bens de consumo duráveis. Ambas foram impulsionadas pelo setor de veículos, beneficiado por incentivos do governo e por uma base de comparação mais baixa.
Apesar da boa notícia, economistas estão cautelosos e não esperam que o movimento se repita em fevereiro. "Os indicadores já divulgados apontam para recuo da produção industrial (em fevereiro). Os índices de confiança dos empresários ficaram praticamente estáveis no mês. O consumo de energia elétrica teve ligeira alta, enquanto a produção de veículos sofreu acentuada queda de 13,2%", avaliou Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, que prevê queda de cerca de 1,2% para a produção industrial em fevereiro.
O IBGE aponta que o crescimento em janeiro na indústria foi disseminado. Todas as categorias de uso registraram aumento, assim como a maioria das atividades - 18 entre as 27 investigadas. A alta de 8,2% na produção de bens de capital foi o avanço mais acentuado desde junho de 2008. "Por trás desse resultado está claramente a volta na produção de caminhões. A redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e o financiamento do BNDES com juros mais baixos também ajudam a explicar essa velocidade maior", disse André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Outro destaque foi o aumento de 2,5% na produção de bens de consumo duráveis, com forte influência dos automóveis, mesmo com o fim do IPI zero. "O nível de estoques estava num patamar mais baixo do que em 2012, então janeiro tem um ritmo mais intenso (na produção)", explicou Macedo, adicionando que houve contribuição também da maior fabricação de televisões e telefone celulares.
Entre as atividades, os principais impactos positivos em janeiro foram veículos, refino de petróleo e produção de álcool, máquinas e equipamentos, farmacêutica e material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações. As férias coletivas e as reduções de jornada de trabalho em alguns segmentos no fim do ano passado influenciaram a queda na produção naquele período e a retomada agora.
O índice de difusão da Pesquisa Industrial Mensal, que indica o porcentual de produtos com aumento na produção, também apresentou melhora, saindo de 37,4% em dezembro para 52,3% em janeiro. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) reconhece que há uma retomada, mas não na magnitude verificada em janeiro.
"Tem coisa boa aí, mas estamos cautelosos. As magnitudes de crescimento refletem uma base de comparação mais baixa, mas o sinal é positivo", afirmou Rogério César de Souza, economista-chefe do Iedi.
Carros. A alta de 4,7% na fabricação de veículos interrompeu o comportamento negativo que o setor mostrava desde novembro, período em que acumulou perda de 4,5%. Na comparação com janeiro de 2012, cresceu 39,3%, e puxou o avanço na indústria nacional no período (5,7%).
O resultado excepcional foi influenciado por paralisações nas montadoras em janeiro de 2012, por conta da mudança no motor dos caminhões e dos altos níveis de estoques nos automóveis. Em janeiro de 2013, a produção de automóveis cresceu 25,3% em relação a janeiro de 2012, enquanto a fabricação de caminhões aumentou 206,4%. "A demanda estava muito fraca. É quase um movimento de recuperação de estoques", disse Flávio Combat, economista-chefe da corretora Concórdia.
Veículo: O Estado de S.Paulo