Técnicos do governo se mostram impacientes com a falta de reação ao pibinho e medidas que sairiam no segundo semestre podem sair antes
O governo federal está angustiado com a falta de reação do setor produtivo brasileiro diante das doses maciças de estímulo já anunciadas. Impacientes, alguns técnicos da equipe econômica cogitam antecipar alguns estímulos que inicialmente estavam previstos para o segundo semestre do ano, como a ampliação dos setores beneficiados pela desoneração da folha de pagamentos.
O Palácio do Planalto já bateu o martelo quanto ao anúncio da isenção de tributos federais sobre a cesta básica, que será feito no feriado do 1.º de maio, quando a presidente Dilma Rousseff participará de eventos das centrais sindicais. O governo também deve anunciar ainda neste mês a redução do PIS/Cofins sobre o setor de etanol.
A equipe econômica ainda analisa se reduz esses mesmos tributos sobre os produtores de diesel. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou que pretenda reduzir o PIS/Cofins para atenuar o impacto ao consumidor do reajuste de 5% do preço do diesel, anunciado anteontem pela Petrobrás.
Pressionado pelo crescimento de apenas de 0,9% registrado em 2012, uma marca ruim, o ministro da Fazenda cobrou dos empresários ontem a volta dos investimentos e perguntou o que mais o governo poderia fazer para despertar o "espírito animal" das companhias.
Otimismo. A avaliação quase unânime dos porta-vozes do setor produtivo é que os estímulos surtirão efeito e 2013 será melhor do que o ano passado. Porém, é preciso concretizar a série de medidas já anunciadas, como o programa de concessões em infraestrutura e o fim da guerra fiscal. Além disso, a agenda de competitividade da presidente Dilma precisa prosseguir e atacar, por exemplo, o excesso de burocracia e a regulamentação do trabalho terceirizado.
A indústria, que no ano passado amargou uma retração de 2,7%, poderá crescer até 3,5% este ano se as medidas em benefício da competitividade forem implementadas. A previsão é do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.
"Todos estavam com otimismo unânime, projetando crescimentos de 3%, 3,5%", relatou a presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Seu setor, especificamente, deverá ter expansão de 4% a 4,5%.
"Os investimentos virão", assegurou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que projeta crescimento de 2,5% para seu setor este ano. A convicção é baseada no fato de, este ano, as empresas já começarem com uma taxa de juros mais baixa, um dólar mais apreciado ante o real e custos menores em salário e eletricidade.
Ele citou como exemplo o setor de bebidas, que tem um plano de investimentos da ordem de R$ 20 bilhões em três anos. Em seguida, lembrou que a Receita Federal pretende elevar a tributação sobre o setor em abril. "Aumentar imposto não pode, em hipótese alguma", frisou.
Os movimentos erráticos do governo, que eleva a tributação ao mesmo tempo em que promove desonerações, são apontados nos bastidores como causa da desconfiança do setor produtivo. A lista de pedidos apresentada ontem por Andrade, da CNI, é extensa. Ele pediu mais investimentos em infraestrutura e rapidez na reforma do PIS e da Cofins,. Quer, também, a inclusão dos setores de transportes e saúde no regime de desoneração da folha e a regulamentação do trabalho terceirizado.
Veículo: O Estado de S.Paulo