Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que pesquisa os preços da cesta básica mensalmente em 18 capitais, mostrou que a desoneração desses produtos não ajudou a reduzir os preços em março. No mês passado, a cesta básica ficou mais cara em 16 dessas cidades.
A cesta mais cara do país continuou sendo a paulistana, com custo de R$ 336,26, e 2,96% acima do preço de fevereiro e 23,06% acima de um ano atrás. A mais barata é a de Aracaju, onde se paga R$ 245,94 pelo conjunto de itens básicos da alimentação, 3,16% mais cara que em fevereiro. As únicas capitais onde a cesta básica ficou mais barata em março foram Florianópolis (-2,25%, para R$ 307,37) e Natal (-1,42%, para R$ 279,24).
Quando baixou a medida que desonerou produtos da cesta básica, no início de março, o governo federal esperava não só aliviar o orçamento das famílias, mas também tirar alguns pontos da inflação, que, pelo IPCA vem rodando acima de 6% desde o início do ano e passando bem longe do centro da meta, de 4,5%.
Nos índices de preços, o pacote de produtos que recebeu a isenção já acumula uma pequena queda, mas essa redução tem sido totalmente anulada pela disparada não esperada nos preços dos produtos in natura, grupo que inclui verduras, legumes e frutas e, com altas acima dos dois dígitos, continuou fazendo da alimentação o vilão da inflação. Já livre de impostos anteriormente, estes produtos não foram beneficiados pelas desonerações.
É o que mostra o IPC-S da primeira semana de abril, divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O índice - que considerou os preços até o dia 7, exatamente o aniversário de um mês da medida - subiu 0,71%, ante 0,72% uma semana antes. O grupo alimentação foi o que mais avançou, saindo de 1,31% para 1,49%, puxado principalmente pelos alimentos in natura. Apenas hortaliças e legumes tiveram alta de 11,85%, com destaque para a batata inglesa, que está 12,54% mais cara, a cebola (23,99%) e o tomate (15,90%).
O tomate, sozinho, cobriu inteiramente a queda trazida pela carne bovina, um dos principais produtos desonerados. "A carne bovina teve variação negativa de 2,76%, o que retirou 0,05 ponto do IPC-S. A alta do tomate, mesmo com um peso menor, acrescentou 0,06 ponto", disse Étore Sanchez, analista da LCA Consultores. O peso do tomate para a inflação é de menos de um quarto do da carne bovina: responde por 0,41% do IPC, ante 1,74% da carne.
"A maioria dos produtos desonerados está em queda, e essas quedas não chegam nem à metade do que deveria ser caso o repasse fosse integral", apontou Paulo Picchetti, coordenador do IPC da FGV.
Veículo: Valor Econômico