O brasileiro Roberto Azevêdo se mostrou consciente dos desafios que tem de encarar após ser eleito presidente da Organização Mundial do Comércio. Ele admitiu que a OMC está travada por causa da Rodada Doha de liberalização do comércio, que já dura 13 anos, e foi além: disse que a Organização corre risco de acabar, caso o sistema não saia da paralisia. Azevêdo disse que o órgão está em estado crítico e espera encontrar o paciente com o coração ainda batendo quando assumir o posto.
Por isso, ele estabeleceu a conclusão da Rodada Doha e a batalha contra o protecionismo como prioridades do mandato que começa no próximo dia 1° de setembro. Uma vez no cargo, o brasileiro terá apenas três meses até a Conferência ministerial da OMC em Bali, que vai tentar destravar as negociações sobre a liberalização do comércio, da agricultura e de uma série de questões de desenvolvimento. Um sucesso lá seria uma vitória inestimável para Azevêdo, para a diplomacia brasileira e, como ele próprio disse na coletiva, uma chance de tomar as primeiras medidas que podem salvar a OMC.
Na Europa ainda paira uma desconfiança sobre como o novo diretor, que representou o Brasil no órgão desde 2008, vai lidar com a questão do protecionismo brasileiro. Ele garantiu que no novo cargo não pretende defender a política econômica de tal ou tal país, mas combater o protecionismo como um todo. Trata-se de um problema que se generalizou no mundo depois crise de 2008, ele disse.
Apesar desta pequena ressalva, a indicação de Roberto Azevêdo foi bem recebida.
A União Europeia e os Estados Unidos o parabenizaram, apesar de terem apoiado seu opositor. O comissário europeu do Comércio, Karel de Gucht, disse que "uma OMC forte precisa de uma diretor-geral forte" e que o brasileiro tem todas as qualidades necessárias para tirar a Rodada de Doha do impasse.
Pressão internacional
A eleição de qualquer diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) já seria notícia em todo o globo. Mas a leitura da mídia internacional com a vitória do brasileiro Roberto Azevêdo parece sugerir que a responsabilidade assumida por ele vai pesar um pouco mais que a de seus antecessores.
A tarefa do diplomata será de devolver à OMC a relevância que se espera dela, como defendeu o The New York Times, ou ao menos impedir que ela perca a importância que resta, como assinalou o espanhol El País.
A moral da OMC está baixa desde o fracasso da Rodada de Doha, que buscava selar acordos multilaterais de livre comércio entre os países, que vêm hoje privilegiando as negociações bilaterais, principalmente desde a crise de 2008.
Veículo: DCI