Mercado interno segura a economia

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Queda de preços de alimentos e reajuste do salário mínimo vão ajudar a atenuar efeitos da crise internacional

 

O mercado doméstico vai atenuar a desaceleração da economia prevista para este ano. Executivos de indústrias dedicadas ao mercado interno estão bem mais otimistas com 2009 do que os exportadores. Essa é uma das principais conclusões de uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para medir o humor e as expectativas dos industriais.

 

De acordo com a sondagem, a confiança nos negócios para os próximos seis meses dos industriais especializados no mercado doméstico reduziu-se de forma moderada em novembro, enquanto a queda na confiança dos empresários dedicados à exportação - e da indústria como um todo - foi bem maior.

 

CENÁRIO

 

Segundo a pesquisa, 31% das 137 indústrias voltadas para o mercado interno trabalhavam, em novembro, com cenário melhor para os negócios até maio. Enquanto isso, só 3% das 68 empresas exportadoras estavam otimistas e 22% das 1.112 indústrias como um todo tinham a mesma expectativa.

 

Entre os empresários especializados no mercado doméstico, os mais otimistas são os fabricantes de cimento, embalagens metálicas, papel e artefatos para uso pessoal, produtos farmacêuticos e confecção e peças interiores do vestuário.

 

“Há mais indústrias especializadas em mercado doméstico acreditando que a situação será melhor em seis meses do que companhias exportadoras, apesar da desvalorização cambial que, teoricamente, seria um estímulo às vendas externas”, diz o coordenador da pesquisa, Aloisio Campelo.

 

CAPACIDADE DE PRODUÇÃO

 

O economista aponta outro indicador, o uso da capacidade de produção das fábricas, para reforçar a tese de que o mercado interno será o fiel da balança em 2009. De acordo com a sondagem, quem exporta pouco usava 83,4% da capacidade de produção das fábricas em novembro - uma taxa de ocupação semelhante à média registrada em meses de novembro dos últimos três anos. Já o grupo de exportadores ocupava 83% da sua capacidade de produção em novembro, um nível bem inferior à média de 88,2% registrada desde 1995.

 


Especialistas dizem que há uma combinação de fatores para justificar a maior confiança no mercado interno: reajuste do salário mínimo; inflação em queda e as medidas do governo para estimular compras - como o corte nos impostos na venda de veículos. Esses fatores devem sustentar o mercado interno, mesmo que o fantasma do desemprego volte a assombrar os brasileiros em 2009.

 

É o mercado interno, dizem os especialistas, que deve impedir uma queda maior do crescimento da economia. Em 2008, estima-se que o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter crescido cerca de 5,8%. Para 2009, a projeção de mercado fica em torno de 2,5%. Se não fosse pelo forte consumo das famílias e pelos gastos do governo, provavelmente o País não escaparia de um ano de estagnação ou recessão, como se prevê nos países desenvolvidos.

 

“O mercado doméstico vai sustentar o crescimento da economia, só que em menores proporções em relação aos últimos anos”, afirma o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira. Em 2008, o desempenho do mercado externo foi bom e do interno também. Para 2009, o mercado externo será fraco, em razão da crise mundial, e o interno ganha relevância, apesar de enfraquecido pela redução no nível de emprego, da oferta de crédito e do ritmo de consumo das famílias, explica.

 

SALÁRIO MÍNIMO

 

Para o sócio-diretor da LCA Consultores, Fernando Sampaio, o mercado doméstico terá desempenho melhor que o externo. “Entre os segmentos voltados para o mercado interno, o de produtos não duráveis (alimentos e artigos de higiene e limpeza) vai sofrer menos com a desaceleração porque tem demanda mais estável.”

 

Sampaio diz que a inflação, prevista para cerca de 5% em 2009, não deve corroer o poder de compra dos consumidores. Mais ainda: um terço dos brasileiros terá um reforço de renda acima da inflação porque tem os rendimentos calculados com base no salário mínimo. Pelas suas contas, o salário mínimo deve subir cerca de 12%.

 

Isso significa que o mínimo vai de R$ 415 a quase R$ 465. O acréscimo de cerca de R$ 50 provavelmente será gasto com alimentação, diz o economista, especialmente com maior consumo de carne de boi e frango.

 

O sócio da consultoria MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, diz que a redução dos preços dos alimentos, que começou em novembro, e o reajuste do salário mínimo devem contribuir para estimular o consumo, especialmente da população de menor renda.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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