Varejo deve ser cauteloso nas encomendas para indústria

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As vendas do comércio tiveram altas modestas neste Natal, sugerindo que o varejo não fará grandes encomendas à indústria no começo do ano que vem. Ainda que as redes varejistas possam virar o ano com estoques não muito elevados, não se esperam grandes pedidos de novos produtos, o que indica um primeiro trimestre fraco para a atividade econômica em 2009. Alguns especialistas apontam para a possibilidade dos lojistas terem dificuldade para acabar com os estoques nos meses de janeiro e fevereiro.

 

Segundo levantamento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o varejo vendeu neste Natal 1,65% mais que no ano passado. Os produtos de menor valor, pagos à vista, é que seguraram esse crescimento. Entre os dias 1º e 25 de dezembro, as consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC)/Cheque, ligadas às vendas com pagamento imediato, subiram 4,7% em relação ao mesmo período de 2007. No caso do SCPC, termômetro das vendas a prazo, houve queda de 1,4%. 

 

Apesar da expectativa (desde outubro) de que as vendas no fim de ano seriam mais fracas do que o projetado no começo de 2008, o comércio varejista pode ter apostado num resultado melhor do que o ocorrido. Segundo o economista Emílio Alfieri, da ACSP, hoje algumas redes já começam a anunciar liquidações, um comportamento diferente do começo deste ano, quando as promoções pós-Natal foram pontuais e de produtos de mostruário. "Não temos muita informação concreta dos lojistas, mas algumas liquidações começaram a ser anunciadas no dia 24, o que pode ser um indício de que o estoque está estar maior que no ano passado", diz Alfieri. 

 

Pelo indicador Serasa Experian do Nível de Atividade do Comércio, as vendas de Natal no período de 18 a 24 de dezembro cresceram 2,8% em relação a 2007. No ano passado, a alta foi de 5,3%. Na cidade de São Paulo, que em 2007 teve um desempenho do comércio melhor que a média nacional, o aumento foi de apenas 1,1%. 

 

Nabil Sahyoun, presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), é mais positivo em relação ao começo de ano. Segundo ele, apesar da desaceleração em relação ao crescimento do ano passado, o aumento de 3,5% detectado junto aos associados nas vendas deste Natal foi importante, considerando o cenário de crise. "As lojas sempre terminam com um estoque para vendas nos próximos dois meses. O preocupante será chegar em fevereiro com estoque, mas hoje ainda é cedo para prever isso." 

 

A cautela dos lojistas em relação aos resultados do próximo ano, porém, já se reflete nas intenções de contratação dos funcionários temporários. As lojas de shopping admitiram 113 mil pessoas neste fim de ano, número maior que os 98 mil do ano passado, mas o nível de efetivação deve ser menor. Enquanto em 2007 foi de 25%, para esse ano é esperada a contratação de 18% a 20%. 

 

O economista Francisco Faria, da LCA Consultores, considera "fracos" os números divulgados pela Alshop e pela ACSP. "Eu prefiro esperar os números de varejo do IBGE, que dão um retrato mais amplo das vendas no país, mas a sinalização não é confortável." Para Faria, é possível que o varejo vire o ano com estoques moderados, porque teve algum tempo para antecipar um Natal um pouco mais fraco. De qualquer modo, os números divulgados indicam que o varejo não vai fazer grandes pedidos para a indústria, um mau sinal para a atividade econômica no primeiro trimestre, diz Faria. Para ele, será decisivo o comportamento do crédito daqui para frente. Faria lembra que o governo tem feito grandes esforços para normalizar a concessão de empréstimos e financiamentos, mas há o risco de que um aumento da inadimplência provoque uma retração dos bancos, afetando a economia. 

 

A expectativa de aumento da inadimplência, que acumula 7,6% de janeiro a novembro desse ano, pode ser um complicador para o comércio desovar seus estoques no começo do ano que vem, segundo Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa. "No início do ano, a inadimplência sempre aumenta mais e essa situação deve se acentuar no começo de 2009 por conta da crise." Segundo ele, isso dificultará a venda das liquidações. Apesar de ainda não haver dados sobre estoques, Almeida diz que os varejistas devem ter se prevenido por conta das previsões de que as vendas desacelerariam em relação ao ano passado. 

 

Veículo: Valor Econômico


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