Nas lojas populares e nos shoppings mais caros, há queda de 5% a 15% no valor das compras
Márcia De Chiara
O brasileiro gasta menos e opta pelo pagamento à vista neste Natal. Nos redutos de lojas populares e nos shoppings de classe média foi detectada queda de 5% e 15%, respectivamente, no valor das compras deste ano em relação ao mesmo período de 2007.
“Até o comércio popular está sentido a queda no valor do tíquete médio”, conta Jean Makdissi Junior, diretor da Associação dos Lojistas do Brás, que reúne cerca de 6 mil lojas. Neste ano, o valor médio das compras gira em torno de R$ 40. Na análise do comerciante, há um crescimento no número de pessoas circulando pelas ruas da região. No último fim de semana, passaram pelas lojas quase um milhão de pessoas, 8% a mais em relação ao Natal de 2007 - só que o faturamento das lojas até agora está equiparado com o do ano passado.
O quadro é semelhante nos shoppings voltados à classe média. Cesar Garbin, diretor de Operações do Grupo Sonae Sierra Brasil, que tem nove shoppings no País, conta que as vendas de Natal registram até agora crescimento inferior a 2% na comparação com 2007. Mas o fluxo de pessoas aumentou muito mais, perto de 4% no mesmo período. O grupo é dono dos shoppings Boa Vista, na capital, e D.Pedro, em Campinas.
No shopping Pátio Higienópolis, que é de outro empreendedor, desde a metade do mês o horário de abertura e de fechamento das lojas foi ampliado para dar conta do maior fluxo de pessoas, diz a gerente de Marketing Renata Belardinucci.
“Além do gasto médio menor, as lojas estão concedendo mais descontos no preço”, diz Garbin, do Sonae Sierra. A tendência foi constatada por um sondagem da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio). A enquete ouviu 160 lojistas entre os dias 18 e 20 deste mês, e 62% dos comerciantes informaram que oferecem abatimentos nas mercadorias. No Natal do ano passado, 51% delas declararam ter usado esse artifício para ampliar os negócios.
Cauteloso com a situação financeira, o consumidor, por sua vez, tem optado pelo pagamento à vista.
Embora o cartão de crédito responda pela maioria das vendas, houve queda nessa forma de pagamento. No Natal de 2007, o cartão respondia por 62% das vendas e, neste ano, 59%, segundo a Fecomércio. Em compensação, houve acréscimo de 30% para 34% no pagamento à vista, que inclui dinheiro, cheque e cartão de débito.
A tendência de pagar à vista deve se estender para o primeiro trimestre deste ano, aponta pesquisa do Instituto Ipsos feita a pedido da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Mais da metade (59%) dos entrevistados que pretende fazer compras nas liquidações que ocorrerão no primeiro trimestre pretende pagar à vista, enquanto 39% vão escolher o parcelamento.
Os consumidores da classe C são os que mais pretende pagar à vista: 44% dos entrevistados, ante 36% das classes A/B. Segundo o economista da Fecomércio, Altamiro Carvalho, desconto e pagamento à vista estão sendo fomentados pelas lojas para equacionar problemas de liquidez das empresas. “São mecanismos usados para ter dinheiro em caixa, diante da restrição de crédito e dos juros elevados”, afirma.
Veículo: O Estado de São Paulo