A crise internacional acentuou a preocupação com um fenômeno identificado há meses na balança comercial brasileira, cujas exportações vêm se reduzindo, e introduziu um fator que também faz piorar o desempenho do comércio exterior: a quantidade exportada cai em ritmo cada vez maior e, agora, essa queda é acompanhada pela redução dos preços dos principais produtos de exportação, que também é rápida.
O volume das exportações caía desde março - no primeiro semestre, de acordo com estudos da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a queda do quantum exportado pelo País foi de 1,6% em relação aos seis primeiros meses de 2007. Mas, por causa dos bons preços dos principais produtos vendidos para o exterior, o valor exportado crescia - no primeiro semestre foi 24,8% maior do que o de igual período do ano passado.
Nos últimos meses, a queda do volume exportado se acelerou e os preços dos principais produtos registraram declínios acentuados. E, conforme projeções da Funcex, podem baixar ainda mais depressa em 2009, chegando aos níveis observados em 2007, antes do boom das commodities no mercado internacional, e até mesmo aos de 2006, quando estavam tão baixos que desestimulavam a produção.
O mais recente estudo da Funcex mostra que a receita das exportações continua a crescer na comparação com o ano anterior. Em novembro, ela alcançou US$ 14,7 bilhões, ou 5% a mais do que em igual mês de 2007. No acumulado dos 11 primeiros meses, o valor foi de US$ 184,1 bilhões, com alta de 25,7%.
Na comparação com os resultados de outubro, porém, os de novembro são muito ruins. Em valor, as exportações foram 20,3% menores. Até o início do segundo semestre, os resultados decrescentes das exportações refletiam a queda do quantum exportado pelo País. Agora, porém, se registra queda também do preço médio dos itens exportados. Em setembro e outubro, de acordo com a Funcex, todos os preços dos produtos exportados registraram queda em relação ao pico ocorrido em agosto. Os produtos manufaturados acumularam queda de 1,5% naqueles dois meses; os semimanufaturados, de 0,6%; e os básicos, de 7,4%.
Em novembro, o índice de preços das exportações caiu 8,4% em relação a outubro, e a queda dos produtos básicos foi a mais intensa, de 12,2%. No acumulado do ano, observou o economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro, o índice de preços das exportações ainda apresenta uma alta muito expressiva, de 28,4% em relação a 2007, mas o que se observa agora é uma tendência de queda muita rápida.
Não surpreende, por isso, a projeção de Ribeiro para os próximos meses. Ao longo de 2009, se os preços caírem até o nível que apresentavam em 2007, antes da alta espetacular registrada entre aquele ano e o primeiro semestre de 2008, isso resultaria numa redução média de 24%. Se os preços descerem aos níveis de 2006, a queda chegará a 50%, em média.
A queda acentuada dos preços soma-se à do volume exportado, que se tornou mais patente quando a crise alcançou o Brasil e os principais mercados dos produtos brasileiros. Em outubro, o quantum exportado - medido de acordo com metodologia desenvolvida pela Funcex para eliminar determinadas características de alguns produtos que distorcem o resultado final - foi 9,3% menor do que o de outubro de 2007; em novembro, a queda foi mais acentuada, de 10,3%.
Surpreendentemente, a redução se deve aos produtos manufaturados, pois as exportações dos básicos e semimanufaturados mantêm-se estáveis. A explicação para a queda dos manufaturados é o fato de suas vendas estarem muito mais condicionadas à oferta de crédito do que os demais.
Apesar das previsões de que a queda de preços dos produtos exportados e do volume das exportações deve manter-se nos próximos meses, não se aponta para o risco imediato de surgimento de déficit na balança comercial. É que o ritmo de atividade da economia brasileira também está se reduzindo, e com isso as importações serão menores.
Veículo: O Estado de S. Paulo