Ano de 2009 é esperado com otimismo moderado

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De Porto Alegre

  
Depois de brigar contra a freada das exportações e a aceleração das importações provocadas pela valorização do real ao longo do ano e enfrentar os efeitos da crise econômica global nos últimos meses, as indústrias calçadistas brasileiras preparam-se para 2009 com um misto de cautela e otimismo. Para o mercado interno, que segundo as estimativas do setor absorve três quartos da produção nacional da ordem de 750 milhões de pares por ano, as projeções são de desaceleração, mas o novo patamar cambial deve favorecer os embarques externos e conter a entrada dos sapatos estrangeiros no país. 


Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, o desempenho das exportações no ano que vem depende da estabilização do câmbio, pois a volatilidade do real complica a formação de preços dos produtos vendidos ao exterior. Para ele, se o dólar se acomodar pelo menos na faixa de R$ 2,25 a R$ 2,35, de preferência ainda no primeiro trimestre, o volume de embarques poderá retomar o crescimento, registrado pela última vez em 2004. 


Para 2008, Klein prevê a quarta queda anual consecutiva nas exportações físicas de calçados, desta vez em torno de 5% na comparação com os 177 milhões de pares de 2007. Em relação à receita ele aposta num "empate" com o ano passado, quando o valor chegou a US$ 1,911 bilhão, em função da alta do preço médio dos produtos. No acumulado até novembro, os embarques recuaram 7,6% em volume, para 150,7 milhões de pares, e 1,1% em faturamento, para US$ 1,733 bilhão, conforme a Abicalçados. 


As importações, que tomam lugar da produção nacional e são outra fonte de dor de cabeça para o setor, poderão ser contidas com o dólar mais caro. De acordo com Klein, neste ano o montante deve ultrapassar os 40 milhões de pares, contra 28,7 milhões (e US$ 209,5 milhões) em 2007. Até novembro, o país comprou do exterior 36,9 milhões de pares, sobretudo da China (71,6%) e do Vietnã (15,7%), por US$ 287,4 milhões, com altas de 40,7% e 46,8%, respectivamente. 


Klein acredita que as empresas vão esperar até fevereiro ou março antes de definir investimentos ou cortes de funcionários em função da crise econômica. Por enquanto a maioria está resolvendo a situação com férias coletivas, mas no mês passado a Azaléia, adquirida pela Vulcabrás em 2007, encerrou as atividades da fábrica na cidade de Portão (RS). A empresa, porém, ofereceu aos 250 empregados locais a opção de reaproveitamento na planta de Parobé, com garantia de transporte entre os municípios vizinhos. A Dakota, com sede em Nova Petrópolis (RS), desativou a planta de Bom Retiro (RS) e dispensou 300 pessoas. 


"Foram poucos fechamentos em comparação com outros períodos de crise, como em 1995 e 2005 (também causados pelo câmbio)", ressalvou o executivo. Segundo ele, a instabilidade econômica tornou "mais evidentes" os custos operacionais da manutenção de pequenas unidades. Conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho, no acumulado até outubro o setor calçadista apresentava um crescimento de 9,9% no nível de emprego no país, com um saldo positivo de 30 mil vagas no período, mas no mês houve perda de 3,2 mil postos de trabalho, o equivalente a uma variação negativa de 0,94%. 


Mas mesmo com as incertezas em relação à economia brasileira e dos países importadores em 2009, muitas indústrias esperam aumentar as vendas. A West Coast, de Ivoti (RS), vai perseguir um crescimento "ousado" de 15% a 20%, afirmou o gerente de marketing, Sérgio Baccaro Jr. A meta é semelhante a que havia sido estabelecida para 2008, mas que não foi atingida devido à desaceleração econômica e ao impacto negativo do câmbio sobre as exportações, que absorvem 30% da produção. Com isso, a alta deste ano ficou em 9%, em relação aos 2,4 milhões de pares produzidos em 2007. 


A Piccadilly, de Igrejinha (RS), prevê expansão de 13% nas vendas físicas e no faturamento no ano que vem, informou o diretor de novos negócios, Paulo Grings. Neste ano, mesmo com os problemas cambiais, as exportações responderam por 33% da produção de 8,5 milhões de pares, ante 7 milhões em 2007. A projeção original era chegar a 9 milhões de pares em 2008, mas a retração da economia a partir de outubro afetou o desempenho, disse o executivo. Já as receitas totais cresceram 20% no ano, para R$ 240 milhões. 


De acordo com Grings, a empresa já dispõe de um "bom volume de pedidos" do mercado externo para entregar em janeiro e fevereiro de 2009, com um nível de rentabilidade bem melhor em função do câmbio. Em 2008 a Piccadilly abriu duas novas fábricas na cidade de Teutônia, uma num prédio alugado e outra adquirida do grupo Reichert, que abandonou a produção de calçados em 2007, e aumentou o quadro de funcionários de 3,6 mil para 4 mil pessoas em quatro unidades industriais. 


A Bibi, fabricante de calçados infantis com sede em Parobé (RS), está "otimista" para o ano que vem, afirmou o presidente Marlin Kohlrausch. Ele avalia que o cenário vai melhorar a partir do segundo trimestre, com expansão das exportações e retração das importações, e prevê uma alta de 8% a 10% no faturamento de 2009 em comparação com os R$ 100 milhões apurados neste ano. A produção é estimada em 3,3 milhões a 3,5 milhões de pares, ante 3,1 milhões em 2008 (volume idêntico ao registrado em 2007), dos quais 25% a 30% são destinados ao mercado externo. 


Para o diretor de relações com investidores da Grendene, Francisco Schmitt, o consumo interno de calçados deve desacelerar em 2009, especialmente se houver alta significativa do desemprego. Em compensação, as importações devem cair, abrindo mais espaço para a produção nacional, e as perspectivas são positivas para as exportações graças ao novo nível cambial, desde que a crise econômica mundial não afete a demanda global por calçados, observou Schmitt. 


A empresa ainda não fez as projeções de desempenho para o ano que vem, mas no fim do terceiro trimestre ela havia revisado a estimativa de crescimento da receita bruta em 2008 de 10% para 5% sobre os R$ 1,53 bilhão de 2007 em função dos "efeitos da retração mundial". Até setembro, o faturamento bruto cresceu 8,4% sobre igual período do ano anterior, para R$ 1,059 bilhão, sendo R$ 867,4 milhões no mercado interno, com alta de 6%, e R$ 191,6 milhões no mercado externo, com expansão de 21%. (SB) 

 

Veículo: Valor Econômico


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