A participação das exportações no total da produção da indústria brasileira perdeu espaço no último ano ao mesmo tempo em que as importações ganharam musculatura. Estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com base nos dados do comércio exterior e da produção industrial brasileira mostra que o percentual das vendas ao exterior dos fabricantes instalados no país caiu 0,8 ponto na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e o mesmo período do ano passado e ficou em 18,2% do total. Em sentido contrário, o coeficiente de importação subiu 1,5 ponto percentual e atingiu 24,1%.
O aumento da "boca de jacaré" foi puxado pela queda das vendas ao exterior de aeronaves, máquinas e equipamentos para a extração mineral e para a agricultura. Os produtos ligados aos setores farmacêutico, de couro e artefatos e equipamentos de transporte foram os que registraram os maiores aumentos de participação da importação na produção, também na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e o de 2012.
O resultado global do coeficiente de exportação da indústria andou junto com a oscilação cambial. Enquanto o indicador subiu 1,5 ponto percentual, do primeiro para o segundo trimestre do ano passado, com a parcela da produção doméstica destinado ao exterior passando de 19% para 20,5%, nos dois trimestres seguintes ele quase não se alterou: 20,3% e 20,4%. O câmbio, na mesma progressão trimestral, se desvalorizou 10,9%, 0,46% e 0,64%. Nos três primeiros meses deste ano, contudo, o real se valorizou 1,45% frente ao dólar, e caiu o peso da exportação na produção doméstica.
A oscilação do real ante a moeda norte-americana é um dos principais motivos para a trajetória de aumento de importações e diminuição das exportações, segundo Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da federação. Outro fator que contribuiu para o resultado negativo para a indústria, na opinião do diretor, é o aumento dos custos com mão de obra sem o crescimento da produtividade no período. "Além disso, por causa do câmbio, os preços internacionais ficaram mais baratos. Todo produto brasileiro de mão de obra intensiva ficou muito comprometido", diz.
Para Giannetti, os números indicam que está mais favorável para as empresas apostar no mercado interno do que mirar o externo. O dólar, considerado valorizado pela indústria, a concorrência com produtos asiáticos e os custos de produção inibem as exportações. "Muitas empresas trabalham com um nível de tolerância para apostar em ir ao exterior. Mas não há interesse quando se prevê um prejuízo nessas operações", afirma.
Uma medida que ajudaria a reverter o quadro seria o aumento do Reintegra aos exportadores. "O que não pode é ficar na inércia, como o governo está. Frangos, celulose e papel, que são muito competitivos, ficaram de fora do Reintegra, por exemplo. Com mais incentivos, eles renderiam mais ao comércio exterior brasileiro", defende o diretor da Fiesp.
A progressão das importações e o recuo das exportações vêm sendo registrado desde o primeiro trimestre de 2010, pelo menos. A última vez em que essa relação foi inversa foi no período pré-crise. No início de 2007, as exportações representavam 21,1% da produção industrial e as importações, 17,8%.
Veículo: Valor Econômico