Representantes da indústria brasileira aproveitaram, ontem, o 31º Encontro Bilateral Brasil-Alemanha, para defender a indústria local da "pecha" de protecionista e argumentar que o setor não teme acordos bilaterais, inclusive com a Europa, desde que possa competir com igualdade de condições.
E a oportunidade de discutir o tamanho da abertura brasileira pode vir logo, pois os países do Mercosul estão trabalhando na lista de produtos que poderão ser incluídos em um possível acordo de livre comércio entre o bloco e a União Europeia (UE), informou ontem Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. "Estamos avançando agora em relação a um acordo. Até o início do segundo semestre, o Mercosul fará uma proposta para a União Europeia", disse ele, durante a abertura do evento sobre as relações econômicas entre Brasil e Alemanha.
O Brasil não tem receio de competir diretamente com países europeus e está disposto a discutir acordos de livre comércio com países da UE e de outras regiões do mundo, afirmou Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) no mesmo evento. Andrade afirmou que não considera o Brasil um país protecionista. "O país tem sido visto como um dos que mais protegem a sua própria indústria, mas isso não é verdade. Mesmo a Alemanha é mais protecionista que o Brasil", disse ele, lembrando que o déficit comercial da indústria foi de US$ 90 bilhões em 2012.
Para o presidente da CNI, há muitas outras dificuldades maiores do que o comércio a serem discutidas entre Brasil e Alemanha para destravar investimentos. Entre esses percalços ele citou as várias exigências técnicas por que passam os produtos brasileiros e de outras origens quando entram em países como a Alemanha e também a bitributação a que é submetido o processo de importação e exportação entre os dois países. Segundo ele, as negociações entre os dois países sobre esse assunto não avançaram.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK) e da Volkswagen no Brasil, Thomas Schmall, defendeu, no mesmo evento, que, junto da série de benefícios à produção local que recebeu do governo, a indústria automobilística brasileira precisa de incentivos também para exportação.
"O governo criou o programa Inovar-Auto, que com certeza trará novos desafios e novas tecnologias, mas precisaríamos também de um 'Inovar-Auto' para as exportações", disse Schmall, em referência ao programa de incentivos à pesquisa e desenvolvimento e à produção de conteúdo local na indústria automobilística, editado pelo governo no fim do ano passado. "Isso estimula a produção interna, mas é como ter só uma perna funcionando. A segunda perna poderia ser a ampliação desse diálogo no sentido de incentivar as exportações", disse o executivo, durante o evento.
Segundo Andrade, da CNI, o câmbio, que flutua atualmente na casa dos R$ 2, deveria estar em R$ 2,47, nos cálculos da entidade, para que a competitividade brasileira se equiparasse a concorrentes internacionais. José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), acrescentou que o Brasil teve um grande avanço nos últimos anos ao aumentar o mercado interno e mantê-lo aquecido, mas que, com altos custos e baixa competitividade, a indústria nacional não está conseguindo acompanhar esse crescimento. "Um estudo feito pela Fiesp comparou o Brasil aos seus 15 principais parceiros comerciais e mostrou que produzir aqui é 32% mais caro que nestes países". disse.
Veículo: Valor Econômico