Roberto Azevêdo dará cargo de destaque para a China na OMC

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Negociação. Em retribuição ao apoio recebido desde o início, Roberto Azevêdo deve nomear um chinês para ser um de seus quatro vices na Organização Mundial do Comércio; os demais seriam da África (de onde vieram 40 votos), dos Estados Unidos e da Europa

Roberto Azevêdo deve entregar um dos postos-chave na Organização Mundial do Comércio (OMC) à China, garantindo pela primeira vez um cargo de alto escalão na entidade para Pequim e assegurando a influência dos chineses no futuro desenho das regras do comércio mundial.

A negociação faz parte dos acordos entre Brasil e China para garantir que o maior exportador mundial colocasse todo seu peso em defesa de Azevêdo na eleição. Pragmático, o brasileiro que venceu a eleição para diretor-geral da OMC também distribuirá cargos aos EUA e à Europa, regiões que não votaram nele, mas se comprometeram a não bloquear seu nome. A África, de onde veio mais de um terço dos votos de Azevêdo, também ganhará um cargo.

Na OMC, Azevêdo terá de nomear quatro vice-diretores-gerais que serão responsáveis por determinadas áreas da negociação e da estrutura da organização. Negociadores revelaram ao Estado que Azevêdo já teria informalmente indicado a China, Europa, Estados Unidos e África que eles ocupariam os quatro cargos estratégicos. Oficialmente, não há nada definido.

Há dois dias, questionado pela imprensa chinesa sobre o papel de Pequim na OMC, Azevêdo foi categórico. "A OMC era uma antes da entrada da China e é outra agora." Pequim aderiu à entidade em 2001 e, hoje, é um dos membros mais ativos. Nesse período, se transformou no maior exportador e na segunda maior economia do mundo. Mas também viu uma proliferação de disputas contra suas práticas comerciais, acusadas de violar as regras internacionais.

Para muitos na OMC, os subsídios dados por Pequim a seus setores produtivos são verdadeiros segredos de Estado, potencialmente até mesmo mais distorcivos que a ajuda dada pelos EUA a suas indústrias.

Não é segredo para ninguém que a China, desde que entrou na OMC, buscou uma posição de influência. O atual diretor, o francês Pascal Lamy, não aceitou abrir espaço na cúpula da entidade para um chinês. Em seu segundo mandato, que termina neste ano, Lamy foi pressionado por Pequim para que um dos postos fosse reservado à China. Mas ele se recusou.

Os chineses não hesitaram em apoiar o nome de Azevêdo e, como o Estado revelou em janeiro, bancaram desde os primeiros dias o brasileiro. Em seu melhor estilo, a diplomacia chinesa não deu declarações de força e optou até mesmo por pedir que a cúpula dos Brics não anunciasse um apoio formal ao brasileiro, para não marcá-lo como um nome dos emergentes.

Outro "pagamento" que Azevêdo fará é com a escolha de um diplomata da África subsaariana para outro posto de vice-diretor. O continente teria garantido cerca de 40 votos ao brasileiro e foi decisivo na eleição.

O governo dos EUA vai manter um dos cargos de vice-diretor, posto que lhe é cativo desde a criação da organização. Azevêdo terá um grande desafio: convencer a administração de Barack Obama a voltar a dar atenção à OMC. Entre os europeus, Azevêdo tentará escolher um nome de um dos países que o apoiaram.

O governo nega ter oferecido alguma compensação aos países. A campanha teve mais de 200 cartas enviadas pela presidente Dilma Rousseff a chefes de Estado. Ao lado de Azevêdo, o diretor-geral da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), embaixador Fernando Marroni de Abreu, percorreu África, Caribe e América Central. "O Brasil já tem centenas de projetos de cooperação. Não havia condições, não havia expectativa de retorno", afirmou. "Mas é preciso mostrar que um dos valores é a sensibilidade em relação à realidade dos outros."



Veículo: O Estado de S.Paulo


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