O investimento decolou no primeiro trimestre e ajudou a sustentar uma taxa de crescimento mais forte da economia no período, em relação aos últimos três meses de 2012. No entanto, a recuperação do setor industrial, que pareceu ganhar força em janeiro mas perdeu fôlego nos meses seguintes, continua a ocorrer de forma gradual e lenta, frustrando expectativas de expansão superior a 1% da atividade doméstica no período.
Após alta de 0,6% no último trimestre de 2012, 14 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data projetam, em média, que o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 0,9% entre janeiro e março, na comparação com o último trimestre do ano passado, feitos os ajustes sazonais. O intervalo entre as estimativas é de 0,6% a 1,1%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga as Contas Nacionais Trimestrais amanhã, mesmo dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá para definir a taxa básica de juros do país para os próximos 45 dias.
Se a média dos economistas estiver correta, esse pode ser o trimestre de maior crescimento do governo da presidente Dilma Rousseff. Até então seu melhor resultado foi obtido no primeiro trimestre do seu mandato (janeiro a março de 2011), quando a economia cresceu 0,8% em relação ao fim de 2010.
Médias das previsões indica que alta da formação bruta de capital fixo pode ser de 4,9% no trimestre
A retomada do investimento, que amargou queda de 4% no ano passado, é o principal destaque positivo do lado da demanda, avaliam economistas. Pela primeira vez desde o terceiro trimestre de 2011, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das Contas Nacionais do que se investe em máquinas e equipamentos e em construção civil) deve crescer mais do que o consumo das famílias.
Nove economistas ouvidos pelo Valor Data projetam, em média, alta de 4,9% da formação de capital fixo no primeiro trimestre deste ano, sempre na comparação com o trimestre imediatamente anterior, feitos os ajustes sazonais. Para a demanda das famílias, a média das estimativas é de avanço de 0,8%.
Para Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, a boa performance do investimento no primeiro trimestre refletiu alta mais disseminada dos componentes da formação de capital fixo, que em janeiro ainda foi muito concentrada no segmento de transportes, como caminhões. Para o economista, em fevereiro e março foram os bens para a construção civil e para o setor industrial que puxaram o bom desempenho. A produção de máquinas e equipamentos, por exemplo, aumentou 3,8% no período, enquanto a atividade no setor de bens de capital avançou expressivos 9,1% na passagem trimestral.
Para Goldfajn, no entanto, há sinais mistos relativos ao investimento para os próximos trimestres, como os pedidos de desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fortes no início do segundo trimestre, convivendo com indicadores de confiança do empresário bem menos robustos.
Ainda que gradual, a aceleração da atividade fez com que o setor externo pesasse negativamente no primeiro trimestre, na avaliação da Tendências Consultoria. De acordo com os cálculos da economista Alessandra Ribeiro, o PIB avançou 2,3% entre janeiro e março, na comparação com igual período do ano passado. A absorção interna, no entanto, aumentou 3,8% neste período, o que significa dizer que 1,5 ponto porcentual da demanda "vazou" para o setor externo. Em outras palavras, a demanda interna ajudou outros países, que abasteceram o Brasil com importações, a crescer no período.
Em relação ao quarto trimestre, Alessandra projeta que as exportações tenham encolhido 3,6%, enquanto as importações aumentaram 6,4% entre janeiro e março, sempre considerando a série com ajuste sazonal.
Para a economista, deve haver alguma melhora das vendas para o exterior ao longo do ano, mas nada expressivo, já que o contexto internacional ainda é desafiador, com menor crescimento na China, recessão na Europa e sinais ainda mistos nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, as importações devem seguir em patamar elevado, dada a expectativa de continuidade da recuperação da atividade e dos investimentos, o que costuma acarretar aumento das compras de produtos importados.
Do lado da oferta, o setor agrícola também deve ter um trimestre de forte crescimento, após um ano ruim, com a expectativa de safra recorde neste ano, avalia Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora. Mais otimista do que a média, com estimativa de alta de 1% do PIB no primeiro trimestre, Padovani avalia que este é um "resultado bom e mostra que há uma retomada em curso".
Para a indústria, contudo, o cenário que prevalece ainda é de cautela. Após alta de 0,4% do setor no quarto trimestre do ano passado, os economistas ouvidos pelo Valor Data projetam, em média, avanço um pouco menor, de 0,3%, da indústria no PIB. O resultado contrasta com a alta de 0,8% observada na Pesquisa Mensal da Indústria, do IBGE. Em relatório, o Itaú nota que o setor extrativo, que recuou 7,3% entre janeiro e março, de acordo com a PIM, tem peso maior nas contas trimestrais do que no levantamento sobre a indústria do instituto. As diferenças de ajuste sazonal entre as duas pesquisas também ajudam a explicar a projeção de leve queda de 0,1% da indústria no PIB no início deste ano, afirma o economista Aurélio Bicalho.
Para Alessandra, da Tendências, a indústria, embalada por uma série de estímulos, como câmbio mais desvalorizado, desonerações tributárias e juros menores, segue em recuperação gradual, com avanço de 0,4% em relação ao quarto trimestre. O setor de serviços ainda dará a principal contribuição positiva para o avanço da economia do lado da oferta, com alta projetada de 0,7%, o que significa dizer que o setor manufatureiro continuará a perder participação no PIB neste trimestre e também no ano, diz.
Igor Velecico, economista do Bradesco, projeta alta de 2,8% do PIB no ano. Embora estime avanço de 1,0% da atividade no trimestre, Velecico avalia que o ritmo mostrado pela atividade entre janeiro e março não se sustentará no segundo trimestre deste ano. A indústria, diz, continua a depender do setor automotivo, mas há certo esgotamento da capacidade dos estímulos dados pelo governo em impulsionar a demanda e, consequentemente, a atividade nas fábricas. "As vendas e as exportações já mostram alta inferior à produção, o que está contribuindo para a formação de estoques", afirma. Assim, a estimativa é que entre abril e junho a economia tenha crescido 0,7%, em relação ao primeiro trimestre, com ajuste sazonal.
Para o economista, o debate que ficará mais visível após a divulgação do PIB do primeiro trimestre será em torno do potencial de crescimento da economia brasileira. "O que imaginávamos é que a economia brasileira fosse capaz de crescer, no auge dos estímulos, algo como 1,5% por trimestre", e menos, em torno de 0,8%, em velocidade "normal".
No entanto, avalia Velecico, a passagem de 2012 e 2013 deve ter sido o momento de política econômica mais expansionista, já que o Banco Central passou a elevar a taxa básica de juros em abril. Nesse período, se confirmado o resultado esperado para o primeiro trimestre, o país cresceu 1%. Essa seria, portanto, a 'velocidade máxima' possível para a economia, que tenderia a ter expansão menor nos trimestres seguintes. Esse é um ponto preocupante, diz Velecico, porque se o potencial de crescimento (ou a expansão do PIB que, em tese, não gera inflação) for mais próximo de 2,5% do que de 3% ao ano, aumentam os riscos inflacionários para o futuro.
Para 2013, o economista projeta PIB de 2,8%. O risco para a inflação, portanto, tenderia a se materializar apenas se a atividade surpreender para cima e caso a recuperação projetada para os investimentos, que geram oferta futura e ampliam a capacidade de expansão da economia, seja menor do que a esperada.
Veículo: Valor Econômico