Indústria pressiona governo por mais acordos comerciais com outros países

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Com mercado interno em desaquecimento, setor pedirá ao governo nova política de inserção global

Com o mercado interno em desaquecimento e a participação nas exportações em queda, o setor industrial pressionará o governo por mais acordos comerciais bilaterais, mesmo que isso signifique maior abertura do mercado. Nos próximos dias, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) enviará à presidente Dilma Rousseff análise sobre a ausência do País nos acordos preferenciais de comércio e recomendações para uma nova política para a área. Outras entidades também pedem mudanças. A Fiesp vai liderar movimento por reforma no Mercosul. A proposta é ter um acordo geral para o bloco e acertos individuais para cada país, com tarifas específicas. O Brasil perde exportações para os vizinhos da América Latina, que diversificaram os acordos econômicos. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o País perdeu USS 5,4 bilhões em vendas na região entre 2008 e 2011. As compras foram direcionadas para China, União Europeia, EUA e México.

Com mercado interno em desaquecimento e vendo sua participação nas exportações em queda, setor pedirá nova política de inserção do País no cenário global, ainda que signifique abertura maior do mercado

Após passar anos buscando proteção do governo, a indústria brasileira se deu conta de que o mercado interno não é suficiente para garantir seu futuro. No momento em que vê sua participação nas exportações despencar e em que perde mercado até na América do Sul, o setor começa a pressionar o governo na direção oposta: quer mais acordos comerciais bilaterais.

Nos próximo dias, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) enviará à presidente Dilma Rousseff uma carta com extensa análise sobre a ausência do Brasil nos acordos preferenciais de comércio e recomendações para uma nova e urgente política de inserção comercial, ainda que isso signifique uma abertura maior do mercado nacional.

"O Brasil precisa saber, em todas as esferas - empresários, governo e sociedade -, que, se não fizer nada, vai ficar excluído do cenário mundial. Vai regredir mais e mais sua produção para bens primários", diz Pedro Passos, presidente do Iedi e sócio-fundador da Natura.

Outras entidades também pedem mudanças na política comercial brasileira, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

A Fiesp se prepara para liderar um movimento pela reforma do Mercosul. "Precisamos nos livrar dessa camisa de força, pois não vamos concluir nenhum acordo tendo Argentina e Venezuela como parceiros", diz Roberto Giannetti da Fonseca, do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp. A ideia é ter um acordo guarda-chuva para o bloco e acertos individuais de cada país, com tarifas específicas e prazos de adesão.

O Iedi afirma que, ao privilegiar as negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), em discussão desde 2001, o Brasil não correu atrás de acordos preferenciais de comércio, se afastando de outras economias relevantes que investiram nessa estratégia. Em dezembro, o futuro de Doha será tema da reunião da OMC, agora sob direção do brasileiro Roberto Azevêdo.

Recuo. Nos anos 70 e 80, a indústria brasileira representava 3% da indústria global e 1,5% do comércio mundial de produtos. Hoje, essas fatias caíram para 1,7% e 0,7%, respectivamente. Com a cruzada pela inserção do País em acordos de grande abrangência, Passos afirma ter como "meta ou sonho" a recuperação dessa presença. "Não se trata, portanto, de um esforço coreano ou chinês, pois já tivemos o dobro da participação atual."

Entre as questões regulatórias que devem ser incluídas em futuros acordos, o Iedi sugere regras de origem preferenciais, mecanismos de reconhecimento mútuo de medidas não tarifárias, salvaguardas transitórias e um modelo de proteção aos investimentos que leve em conta as sensibilidades de países em desenvolvimento.

A coordenadora do Centro do Comércio Global e do Investimento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Vera Thorstensen, diz que, até o ano passado as indústrias resistiam em apoiar acordos. Alegavam perda de competitividade em razão do custo Brasil e da desvalorização cambial. Mas viram, por exemplo, que a explosão de consumo ocorrida no País foi atendida em boa parte por produtos chineses.

"A indústria nacional continua sem competição, mas percebeu que isso precisa ser usado como pressão para buscar soluções do governo", diz.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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