Especialistas entrevistados pelo DCI acreditam que, com a aproximação da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o grande potencial de investimentos em infraestrutura somado à credibilidade dada pelo Banco Central (BC) ao aumentar os juros para combater a inflação, os investimentos no País devem crescer. Contudo, a economia não deve avançar na mesma proporção, podendo apresentar alta de 1% neste primeiro semestre, o que dificultaria um aumento de 3%, conforme desejado pelo governo.
Este cenário acontece porque esses recursos públicos e privados demoram a ter efeito na economia e o setor produtivo não está conseguindo responder aos estímulos dados pelo governo - fato confirmado na última quarta-feira com a divulgação da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, de 0,6%, bem abaixo do aguardado pelo mercado.
"A economia deve avançar entre 0,3% a 0,5% no segundo trimestre [ante período imediatamente anterior], o que deve levar a uma alta de 1% do PIB no primeiro semestre. No ano, a expansão pode ficar entre 2,5% e 2,6%, dentro de um cenário de pressão inflacionária, com a expectativa de que o IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo] na casa dos 6,5% [teto da meta] anualizados nos próximos meses. Isto porque ainda vamos enfrentar problemas de logística, de qualificação de mão de obra, o que prejudica a produção", aponta o professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samy Dana.
Por outro lado, ele prevê que o lado positivo deste ano deve ser o crescimento dos investimentos, gerado pelas necessidades de melhorar nossa infraestrutura e por estarmos perto de realizar grandes eventos esportivos em 2014 e 2016 (no Rio de Janeiro).
Já na opinião tanto do gestor de investimentos da Lecca, Georges Catalão, quanto do diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello, a economia já deve apresentar neste ano um crescimento com a entrada de recursos no País, gerados pela maior credibilidade do investidor com a sinalização do BC de que vai combater a inflação.
"O impacto da elevação de 0,5 ponto percentual [para 8%] da taxa [básica de juros] Selic é positivo para o PIB. Mas é mais importante em termos de sinalização para o mercado da postura do BC do que o reflexo no PIB diretamente", entende Curvello.
O coordenador do curso de ciências contábeis da Faculdade Santa Marcelina, Reginaldo Gonçalves, compartilha da opinião do professor da FGV de que haverá investimentos, mas a economia crescerá pouco ao longo deste ano. "Se mantiver esse baixo crescimento, poderemos voltar a ter problemas com a taxa de desemprego. E para tentar sustentar o consumo das famílias com essa situação, o governo pode ter que gastar mais, além de que as despesas com juros [da dívida pública] serão maiores também [com aumento da Selic] e as contas não estão confortáveis", analisa.
De fato, desde janeiro (último mês de queda) a taxa de desemprego vem aumentando, ao passar de 4,6% naquele mês, para 5,8% em abril, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E o superávit primário do setor público consolidado, que é a economia para o pagamento dos juros da dívida pública, no acumulado do ano até abril (divulgado na última sexta-feira pelo BC) alcançou R$ 41,058 bilhões, 1,63 ponto percentual do PIB inferior ao registrado no mesmo período de 2012.
Gonçalves ressalta ainda que é preciso esperar como o mercado deverá reagir hoje na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), por exemplo, para traçar uma tendência mais concreta do cenário macroeconômico.
Superávit primário
Segundo o BC, em abril, o setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 10,3 bilhões em abril, o menor resultado para o mês em nove anos.
A autoridade monetária informou que o governo central registrou superávit de R$ 7,1 bilhões; os governos regionais, superávit de R$ 3,41 bilhões, e as empresas estatais, déficit de R$ 141 milhões.
O resultado nominal, que inclui o superávit primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 7,7 bilhões em abril. No ano, o déficit nominal alcançou R$ 39,2 bilhões, equivalente a 2,58% do PIB, 1,43 ponto percentual do PIB superior ao déficit registrado no mesmo período de 2012.
A dívida líquida do setor público (DLSP) atingiu R$ 1,602 trilhão, equivalente 35,4% do PIB, em abril, reduzindo-se 0,1 ponto em relação ao mês anterior. A dívida bruta do governo geral (governo federal, INSS, governos estaduais e governos municipais) alcançou R$ 2,682 trilhões, 59,2% do PIB, em abril, mantendo-se estável, como proporção do PIB, em relação ao mês anterior.
Na última divulgação em março, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel disse que a situação fiscal do País é sustentável. "Do ponto de vista da sustentabilidade da dívida ou da solvência, temos um quadro distinto do que tínhamos dez anos atrás", disse na época.
Veículo: DCI