Crescimento deve ser ainda menor no segundo trimestre

Leia em 4min

Especialistas entrevistados pelo DCI acreditam que, com a aproximação da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o grande potencial de investimentos em infraestrutura somado à credibilidade dada pelo Banco Central (BC) ao aumentar os juros para combater a inflação, os investimentos no País devem crescer. Contudo, a economia não deve avançar na mesma proporção, podendo apresentar alta de 1% neste primeiro semestre, o que dificultaria um aumento de 3%, conforme desejado pelo governo.

Este cenário acontece porque esses recursos públicos e privados demoram a ter efeito na economia e o setor produtivo não está conseguindo responder aos estímulos dados pelo governo - fato confirmado na última quarta-feira com a divulgação da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, de 0,6%, bem abaixo do aguardado pelo mercado.

"A economia deve avançar entre 0,3% a 0,5% no segundo trimestre [ante período imediatamente anterior], o que deve levar a uma alta de 1% do PIB no primeiro semestre. No ano, a expansão pode ficar entre 2,5% e 2,6%, dentro de um cenário de pressão inflacionária, com a expectativa de que o IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo] na casa dos 6,5% [teto da meta] anualizados nos próximos meses. Isto porque ainda vamos enfrentar problemas de logística, de qualificação de mão de obra, o que prejudica a produção", aponta o professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samy Dana.

Por outro lado, ele prevê que o lado positivo deste ano deve ser o crescimento dos investimentos, gerado pelas necessidades de melhorar nossa infraestrutura e por estarmos perto de realizar grandes eventos esportivos em 2014 e 2016 (no Rio de Janeiro).

Já na opinião tanto do gestor de investimentos da Lecca, Georges Catalão, quanto do diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello, a economia já deve apresentar neste ano um crescimento com a entrada de recursos no País, gerados pela maior credibilidade do investidor com a sinalização do BC de que vai combater a inflação.

"O impacto da elevação de 0,5 ponto percentual [para 8%] da taxa [básica de juros] Selic é positivo para o PIB. Mas é mais importante em termos de sinalização para o mercado da postura do BC do que o reflexo no PIB diretamente", entende Curvello.

O coordenador do curso de ciências contábeis da Faculdade Santa Marcelina, Reginaldo Gonçalves, compartilha da opinião do professor da FGV de que haverá investimentos, mas a economia crescerá pouco ao longo deste ano. "Se mantiver esse baixo crescimento, poderemos voltar a ter problemas com a taxa de desemprego. E para tentar sustentar o consumo das famílias com essa situação, o governo pode ter que gastar mais, além de que as despesas com juros [da dívida pública] serão maiores também [com aumento da Selic] e as contas não estão confortáveis", analisa.

De fato, desde janeiro (último mês de queda) a taxa de desemprego vem aumentando, ao passar de 4,6% naquele mês, para 5,8% em abril, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E o superávit primário do setor público consolidado, que é a economia para o pagamento dos juros da dívida pública, no acumulado do ano até abril (divulgado na última sexta-feira pelo BC) alcançou R$ 41,058 bilhões, 1,63 ponto percentual do PIB inferior ao registrado no mesmo período de 2012.

Gonçalves ressalta ainda que é preciso esperar como o mercado deverá reagir hoje na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), por exemplo, para traçar uma tendência mais concreta do cenário macroeconômico.

Superávit primário

Segundo o BC, em abril, o setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 10,3 bilhões em abril, o menor resultado para o mês em nove anos.

A autoridade monetária informou que o governo central registrou superávit de R$ 7,1 bilhões; os governos regionais, superávit de R$ 3,41 bilhões, e as empresas estatais, déficit de R$ 141 milhões.

O resultado nominal, que inclui o superávit primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 7,7 bilhões em abril. No ano, o déficit nominal alcançou R$ 39,2 bilhões, equivalente a 2,58% do PIB, 1,43 ponto percentual do PIB superior ao déficit registrado no mesmo período de 2012.

A dívida líquida do setor público (DLSP) atingiu R$ 1,602 trilhão, equivalente 35,4% do PIB, em abril, reduzindo-se 0,1 ponto em relação ao mês anterior. A dívida bruta do governo geral (governo federal, INSS, governos estaduais e governos municipais) alcançou R$ 2,682 trilhões, 59,2% do PIB, em abril, mantendo-se estável, como proporção do PIB, em relação ao mês anterior.

Na última divulgação em março, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel disse que a situação fiscal do País é sustentável. "Do ponto de vista da sustentabilidade da dívida ou da solvência, temos um quadro distinto do que tínhamos dez anos atrás", disse na época.



Veículo: DCI


Veja também

Tributo sobre consumo é o verdadeiro leão

Impostos sobre bens consumidos são 43% da arrecadação brasileira; modelo prejudica populaç&a...

Veja mais
Setor de serviços derruba o PIB paulista no 1º tri

Responsável por um terço do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a economia do Estado de São Pau...

Veja mais
Ao elevar juros, Brasil se iguala a Gâmbia e Gana

Enquanto a maioria dos países está com inflação baixa e reduz ou mantém juros, Brasil...

Veja mais
Investimento pode fazer o PIB ter a maior alta da era Dilma

O investimento decolou no primeiro trimestre e ajudou a sustentar uma taxa de crescimento mais forte da economia no per&...

Veja mais
Sem poupança forte, Brasil deveria focar menos na indústria, dizem economistas

Com uma taxa de poupança interna cronicamente baixa e grande propensão ao consumo, talvez o Brasil devesse...

Veja mais
Governo estabelece como meta crescer pelo menos 2,7% este ano

Equipe econômica tomará medidas para tentar garantir em 2013 o melhor resultado do governo Dilma, mas pesqu...

Veja mais
Real cai menos entre divisas de exportadores

Mesmo depois da alta do dólar ante o real de 0,69% na semana passada e de 2,39% em maio, a moeda brasileira ainda...

Veja mais
Confiança do consumidor no varejo segue em desaceleração

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), caiu ...

Veja mais
Falta de planejamento entrava maior crescimento do Brasil

"O Brasil não está estruturado nem planejado para crescer 5% ou 6%" afirmou o diretor da RC Consultores, P...

Veja mais