Câmbio flutuante continua a melhor opção

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A política de combate à inflação não pode ficar contando com a valorização artificial da moeda, para evitar alta nos preços no mercado interno
 
O câmbio foi peça fundamental para o êxito do Plano Real e desde então a valorização da moeda brasileira é vista como essencial para que a inflação seja mantida sob controle. De fato, para uma economia habituada à proteção, a exposição à concorrência externa é uma barreira à alta de preços no mercado interno.

Ao se decompor os índices de preços, observa-se que os chamados produtos comercializáveis (ou seja, aqueles que podem sofrer concorrência externa) têm um comportamento mais moderado que aqueles não sujeitos à tal competição. Os serviços, especialmente, têm encarecido bem acima da média.

Então, o real valorizado de fato acaba ajudando a segurar a inflação. Mas, se a moeda fica fora de prumo (o que significa que o câmbio pode estar em um patamar capaz de provocar fortes desequilíbrios futuros), os ganhos no curto prazo obtidos na contenção dos preços podem virar um bumerangue, transformando-se em uma pressão inflacionária repentina, pela necessidade de forte ajuste nas contas externas do país.

Para evitar que isso ocorra, o regime de câmbio mais adequado é, assim, o flutuante, pois os mercados conseguem antever fatores positivos e negativos que possam influenciar a trajetória das contas externas no curto, médio e longo prazos.

Se o câmbio está muito fora do prumo, isso acaba alimentando movimentos de capitais especulativos. A atuação do Banco Central no mercado só é recomendável para atenuar oscilações acentuadas no dia a dia, mas não a ponto de evitar correções naturais de rumo. Nos últimos dias, o real se desvalorizou frente ao dólar, acompanhando uma tendência das moedas em geral.

Se o Banco Central tentasse neutralizar tal flutuação correria o risco de alimentar movimentos especulativos que causariam mais danos à economia do que essa desvalorização, que poderá ser duradoura ou não.

A economia brasileira precisa se habituar a esses ajustes no câmbio, superando o temor de perda de controle da inflação. Mudanças de preços relativos fazem parte da atividade econômica, e o que se espera da ação das autoridades monetárias e das políticas públicas é que elas estimulem a economia de maneira benigna.

O problema da inflação no Brasil não está no segmento dos produtos comercializáveis com exposição à competição externa, mas exatamente nos que estão menos sujeitos a essa concorrência e sofrem mais influência dos mecanismos de indexação remanescentes do período de alta aguda de preços.

O câmbio pouco a pouco tem deixado de ser um desses mecanismos de indexação automática e é melhor que assim seja, flutuando de acordo com as condições de mercado.

 

Veículo: O Globo - RJ


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