Mesmo sem petróleo, importação afeta saldo

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O aumento de 9% das importações no acumulado do ano até maio ante o mesmo período do ano passado é a principal causa do déficit de US$ 5,39 bilhões registrado na balança comercial brasileira nos cinco primeiros meses de 2013. Embora o valor total seja influenciado pelo registro atrasado das compras de petróleo e derivados, a balança comercial mostra uma expressiva importação de bens intermediários, que também cresceu 9%. Essa categoria de uso representa 42% do valor total importado.

Como os intermediários abastecem a indústria nacional, mas o ritmo da importação é muito superior ao da produção local, os dados sugerem que os bens importados, a exemplo do que ocorreu no primeiro trimestre, continuam a tomar espaço do produto doméstico. Mesmo sem petróleo e derivados, a alta das importações no quadrimestre foi de 6,7%.

Ao mesmo tempo, as exportações ajudaram pouco o saldo comercial, com queda de 2,8% no acumulado do ano. Esse resultado foi puxado pela retração de 2,9% no embarque de industrializados - que reúne manufaturados e semimanufaturados - e foi afetado pela queda de 2,5% em básicos. Mesmo em maio, o desempenho das exportações seguiu fraco, com alta de apenas 1,7% em básicos e recuo de 4,4% em industrializados, sempre em relação ao mesmo período de 2012.

O problema está no descompasso entre as duas pontas, de acordo com Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Até o ano passado, o ritmo do aumento das importações era acompanhado pelo compasso das exportações. Neste ano, além das compras do exterior terem acelerado, a geração de divisas com as vendas ao exterior está menor. "Quanto mais tempo isso permanecer, menor ficará a perspectiva de superávit para este ano", diz Branco.

Em maio, as exportações brasileiras superaram as importações em US$ 760 milhões, superávit fraco perante o resultado negativo de US$ 6,15 bilhões acumulado até abril. Em nenhum outro ano as importações superaram tanto as exportações no acumulado até maio, segundo série histórica do Ministério do Desenvolvimento (Mdic), iniciada em 1993.

As importações de combustíveis continuam fazendo diferença na balança. No acumulado do ano, há ainda o efeito do registro em atraso da importação de combustíveis, mas isso não justifica o resultante frustrante do comércio exterior. Desconsiderando os US$ 4,6 bilhões do registro atrasado de combustíveis, o saldo ainda seria deficitário em US$ 803 milhões. Esse seria o pior resultado desde 1998.

Em relatório, o Itaú Unibanco diz que o saldo de maio ficou aquém das estimativas. O banco, porém, mantém previsão de superávit de US$ 6 bilhões no ano, e relata tendência de melhora nos próximos meses. Enquanto as exportações de petróleo devem se acelerar com o fim da manutenção de várias plataformas e consequente alta na produção, o passivo de combustíveis importados em 2012 e registrados este ano finalmente chegou ao fim. Além disso, diz o banco, as exportações de soja ainda devem ser elevadas em junho e, após este período, haverá espaço disponível nos portos para mais exportações de açúcar e milho. Relatório da Rosenberg Associados aponta que excluindo tanto as exportações quanto as importações de petróleo da balança comercial, o saldo em maio seria positivo de US$ 3,6 bilhões, compatível com a sazonalidade do período.

Menos otimista, José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o desempenho da balança até maio deixou uma chance maior de déficit para 2013. "Se houver neste ano superávit, com certeza ficará abaixo de US$ 5 bilhões. Maio deveria ter sido melhor, pois houve grandes embarques de soja e minério de ferro."

Pelas contas dele, já foram embarcadas 52% da soja prevista para este ano. O comportamento do preço, porém, tirou parte do ganho que o grão poderia trazer com o embarque num ano de safra recorde. Em maio a exportação brasileira de soja em grão cresceu 14,3% contra o mesmo mês de 2012, mas os preços caíram 1,1%. Com isso, o valor embarcado do grão teve alta de 13,1%. Para complementar um cenário mais pessimista para o segundo semestre, diz Castro, o preço do minério de ferro está em queda. Ao mesmo tempo, diz ele, o ritmo da importação deve-se manter. "O fornecedor externo tem gordura para queimar, ao contrário do produtor nacional. A importação continua trazendo maior rentabilidade."

No ano, o problema do desempenho da balança está no eventual impacto das transações correntes, diz Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da Go Associados. De forma mais imediata, o resultado ruim da balança aumenta a expectativa em torno da política cambial. "Há uma incerteza muito grande sobre a adoção de uma nova banda cambial nas próximas semanas, que migre de um preço de dólar dos atuais R$ 1,95 a R$ 2,05 para R$ 2,05 a R$ 2,15."

O resultado faz pressão adicional para a desvalorização do real frente ao dólar, diz Silveira. "Ao mesmo tempo em que parece haver uma mudança de banda, é claro que não se pode desvalorizar muito a moeda nacional porque isso pode trazer inflação."



Veículo: Valor Econômico


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