Expectativas do relatório trimestral de inflação do Banco Central, que aposta no consumo das famílias para manter mercado interno aquecido, não é compartilhada por indústria e comércio
A capacidade de as famílias continuarem consumindo sustenta a convicção do Banco Central (BC)de que a atividade seguirá crescendo no segundo semestre deste ano e puxando a economia. “O cenário central contempla ritmo de atividade doméstica mais intenso neste e no próximo ano”, informa relatório trimestral do BC, divulgado ontem.Há, no entanto, um descompasso entre a projeção da autoridade monetária e as expectativas moderadas de empresários e consumidores para o desempenho do mercado interno daqui para frente, perceptíveis nos indicadores da Fundação Getúlio Vargas( FGV) e da Confederação Nacional do Comércio( CNC).
Neste momento, o que preocupa o governo é a alta da inflação, que deverá influenciar a expansão da economia no ano.As projeções do PIB foram revistas de 3,1% para 2,7%, e da inflação oficial, o IPCA, de 5,7% para 6,0%. “A política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos”, segundo o relatório.No que diz respeito ao consumo, entretanto, permanece o tom otimista de avaliações anteriores, com pinceladas consecutivas de projeções de crescimento.
O BC comemora o “desempenho robusto” do setor agrícola, com destaque para os grãos, embora o setor tenha menos peso na composição das contas nacionais do que os demais. E projeta a “continuidade da recuperação da indústria”. Em um segundo momento do texto, utiliza novamente o adjetivo “robusto”,dessa vez, para qualificar a demanda doméstica, que, em sua avaliação, deverá ser impulsionada pela renda e acesso ao crédito. “Esse ambiente tende a prevalecer neste e nos próximos semestres, quando a demanda doméstica será impactada pelos efeitos remanescentes das ações de política implementadas em 2012”, justifica.
Na indústria, a previsão é que o nível ajustado dos estoques e a melhora da confiança dos empresários criem um ambiente favorável ao investimento e à recuperação da produção. Mas não é isso o que demonstramos indicadores. Tanto na indústria, quanto no comércio, como reflexo do esgotamento de uma política baseada no consumo e também por causa do endividamento das famílias, as expectativas estão em queda.
O Indicador de Confiança da Indústria (ICI) caiu 1,1% em junho e a Sondagem da Construção Civil, 3,6%, ambos indicadores da FGV. A confiança do comércio retraiu 3,3% e a intenção de consumo das famílias, 3,8%, como demonstra a CNC. Além disso, 63% das famílias informam estar endividadas, de acordo coma instituição do comércio.
O BC errou em sua projeção de consumo, segundo o economista chefe da corretora Gradual Investimentos, André Perfeito. “Não tem como estar certo sempre. Mas não dá para confundir com má fé. Acho que ele foi excessivamente otimista, mas não acho que faça de propósito para mexer no mercado”, diz Perfeito.
Aloisio Campelo, da FGV, ressalta que as expectativas da indústria vêm caindo mês a mês, sobretudo, em relação à produção. “O que observamos é que o crescimento deste ano não foi tão disseminado. Cada momento um segmento está indo mais forte do que o outro”, analisa. Em junho, os bens de capital e os duráveis foram os menos otimistas em suas perspectivas de crescimento.
“A inflação já tem impacto no consumo e na produção, principalmente entre as parcelas mais pobres da população, o que pode permanecer ao longo do segundo semestre. E o cenário internacional também não ajuda”, diz Campelo.
Para Bruno Fernandes, economista da CNC, as vendas no comércio continuarão crescendo neste ano (a projeção é de 4,3%), porém em patamar bastante inferior às de 2012, de 8,4%, considerando a Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE.
Veículo: Brasil Econômico