Inflação prejudica fabricação de alimentos

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A disparada da inflação já causa estragos na produção de alguns setores da indústria sobretudo o de alimentos. De abril para maio, o ramo registrou queda de 4,4%, a de maior impacto no índice geral da indústria, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Na avaliação do economista do IBGE, André Macedo, os preços "tiveram alta considerável" e já inibem o consumo de itens de alimentação.

O custo de vida maior também reduz a chamada renda disponível das famílias, que têm de gastar mais para comprar a mesma cesta habitual de consumo. Desse modo, sobra menos dinheiro para outros gastos. Um sinal claro do impacto da inflação sobre a indústria é o comportamento da categoria de bens semi e não duráveis, que inclui alimentos, bebidas, remédios e vestuário.

Esse grupo de produtos registrou queda de 1% no acumulado de janeiro a maio. Foi a única categoria - na qual a indústria alimentícia é a de maior peso - a apresentar uma taxa negativa nessa base de comparação.

Macedo diz ainda que o ramo de bebidas também sofreu com preços maiores. Embora tenha sido um dos poucos com expansão de abril para maio (4,8%), o setor vem de sucessivas quedas em razão do custo mais elevado de seus produtos. Na comparação com março, o recuo havia sido de 5,9%.

Com a queda dos alimentos (setor que concentra uma gama muito grande de produtos) e a perda em 20 dos 27 setores pesquisados, a fabricação de apenas 45,6% dos produtos da indústria geral pesquisados pelo IBGE tiveram expansão. Foi o pior desempenho desde dezembro de 2008.

O varejo já havia sentido a força da inflação e seu desempenho neste ano foi afetado pela retração das vendas de supermercados - que vendem principalmente produtos desses dois segmentos industriais. Com o consumo contrário diante dos preços mais altos, o comércio encomendou menos à indústria, que já sente os reflexos da inflação em alta.

Com a redução do desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para móveis e itens da linha branca, diz Macedo, é possível que a demanda por esse bens também recue e rebata na produção industrial nos próximos meses.


Previsões - Para a LCA Consultores, a queda da indústria não pode ser lida como o fim de um processo de retomada, que se mostra "gradual e irregular". "A produção industrial devolveu em maio o forte avanço do mês anterior, interrompendo dois meses consecutivos de crescimento. De forma geral, é possível afirmar que o quadro de recuperação irregular e gradual da produção industrial persiste, expectativa reforçada pelos recentes sinais de crescimento mais contido da economia e comércio mundial e o aumento das incertezas no cenário doméstico, com a escalada de manifestações sociais em todo o país."

A consultoria diz que os "os indicadores de expectativas apontam para uma produção industrial levemente positiva nos próximos meses." Um fator que pode ajudar, afirma, é a retomada da produção de petróleo da Petrobras no segundo semestre. A estimativa preliminar da LCA aponta para uma alta de 2% na indústria em junho.

Para o Bradesco, a queda da produção industrial em maio "reforça expectativa de crescimento de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre", um pouco melhor do que o 0,6% do primeiro trimestre. "O desempenho da produção industrial surpreendeu de forma negativa em maio, especialmente por conta da retração da produção de bens intermediários (afetados por importados) e de consumo duráveis", diz o banco.



Veículo: Diário do Comércio - MG


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