Calor derrete preços em BH

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Frio que não chegou e retração na economia fazem os estoques encalharem e obrigam lojistas a oferecer descontos de até 70%. Prioridade agora é abrir espaço para os artigos de verão

Os descontos de inverno começaram tímidos, em torno de 20%. Aos poucos, passaram para 30% e 40%. Agora, no final de julho, já chegam a 70% nas vitrines de Belo Horizonte. O saldão generalizado entre os lojistas é reflexo de uma combinação bombástica para o comércio: a retração da economia e o frio, que não veio. O estoque de inverno maior nas prateleiras leva empresários a antecipar as promoções e lançar a coleção de verão mais cedo. Em muitas lojas, ela chega à vitrine a partir de hoje.

A loja de roupas femininas Complemento Nominal, na Savassi, começou sua liquidação ainda em maio, com descontos entre 10% e 30%. Em junho cortou os preços em 50% e agora chegou a 70%. “Tivemos poucos dias de frio neste ano, o que acaba prejudicando as vendas de inverno. O tempo foi curto para esvaziar a loja para o verão chegar”, afirma a gerente Cristiane de Almeida. Ela ressalta, no entanto, que sempre é preciso apostar em estoque. “Se não compramos a roupa de inverno, o concorrente compra”, diz. A coleção de primavera-verão chega à loja no próximo sábado.

A economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Iraci Pimenta, revela que, na tentativa de driblar as quedas de vendas no setor, o comércio tem investido em promoções e liquidações antecipadas. Ela avalia que os empresários estão temerosos com o baixo crescimento das vendas e, com isso, têm medo de fazer altos investimentos. “Esperamos crescimento de 6,5% a 7,5% para o ano em comparação com 2012. No entanto, a alta da inflação e o endividamento das famílias não refletem boa economia, o que deixa os empresários temerosos”, afirma.

A empresária Simone Mello aproveitou a folga que teve ontem e foi conferir as promoções nas lojas. “Cheguei a encontrar descontos de até 70%”, diz. A blusa que comprou custava R$ 350 e, com o desconto, saiu por R$ 105. “Se chover ou fizer um ventinho, dá para usar. Tenho um sítio em Casa Branca e lá é mais frio, pois fica entre montanhas. Além disso, vou para a Argentina em agosto e vou poder vestir lá também”, diz. A estudante de medicina Jordânia Barros comprou ontem um cardigã e uma bota por R$ 200. “Eu vim aproveitar a liquidação e achei os preços bons. Estamos no final do inverno, ainda dá para usar os produtos”, diz.

No Belvedere, a loja de sapatos, bolsas e acessórios Mima-me lança amanhã sua coleção de verão. A promoção da loja começou em junho, com 30% de desconto. Em julho, o corte passou para 50% e nos últimos dias do mês chegou a 70%. “O calendário de moda foi antecipado e as coleções estão sendo lançadas mais cedo”, afirma Vanessa Paschoalin, dona da loja. Além disso, diz, o frio este ano foi mais rápido e brando. “Ninguém está procurando mais bota para comprar”, observa.

A Loja Por 1 Fio, no Diamond Mall, também iniciou o saldão com descontos de 20% em julho. Hoje, os preços das mercadorias estão 70% menores. “O inverno foi mais ameno e prejudicou as nossas vendas. Os casacos e as peças mais caras não saíram tanto. Estava esperando aumento de 20% a 30% nas vendas, mas elas acabaram empatadas com as do ano passado”, afirma a gerente Viviane de Fátima Almeida.

CONFIANÇA

O Índice de Confiança dos Empresários do Comércio (Icec) cresceu 0,6% em julho, na comparação com o mesmo período do ano passado. Esse é o primeiro resultado positivo desde junho de 2012, de acordo com pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada ontem. Mesmo com o resultado positivo, o economista da CNC, Fábio Bentes, diz que ainda é cedo para acreditar em recuperação. “Esse resultado positivo é sobre uma base ruim de 2012, quando o Icec registrou o nível mais baixo da história. O comércio cresce, experimenta melhoria, mas a percepção do empresário só piora em relação à economia. O setor vive os piores cinco meses de vendas dos últimos 10 anos, considerando o período de janeiro a maio. Em junho, as vendas se mantiveram estáveis e a economias não dá sinais de melhora”, completa.

 

Sorvete e chope faturam

 

Enquanto o comércio tenta se livrar dos estoques de inverno com promoções e liquidações, os negócios de verão, como sorveterias e bares, comemoram as altas temperaturas. Ignorando a estação supostamente mais fria do ano, o consumo de sorvetes e chope, por exemplo, segue alto. De acordo com a diretora geral da rede Salada, Raquel Bravo Elias, este é o melhor inverno dos últimos anos para o setor. “A pior temporada para nós é, historicamente, entre maio e julho. No entanto, este ano tivemos uma surpresa positiva, com um inverno quente, o que nos proporcionou vendas 12% acima da expectativa para julho”, revela.
O proprietário da choperia Albano’s, Rodrigo Ferraz, revela que o setor enfrenta dificuldades para manter o funcionamento, em função da inflação, da lei seca e das manifestações recentes. Mas a temperatura ajuda a manter a atividade. Hoje, ele registra movimento cerca de 5% maior que no mesmo período do ano passado. Em abril, época de calor mais intenso, seu movimento cresceu 20% comparado ao mesmo mês em 2012. “O inverno não está tão rigoroso como em outros anos. Nos fins de semana mais quentes, o consumo é maior. Em outros dias, de temperatura mais baixa, registramos queda. Além disso, há outros fatores que influenciam nas vendas, como as férias, dias de jogos de futebol e a própria lei seca”, revela.



Veículo: Estado de Minas


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