A desaceleração dos preços na primeira prévia do IGP-M de agosto não garante uma queda consistente do indicador no mês. O dado divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) trouxe variação de 0,13%, ante alta de 0,26% na prévia de julho. "É preciso olhar nas entrelinhas. Há sinais de transformação nos preços, no sentido de elevar a taxa, que vão ficar mais evidentes ao longo do mês", afirmou o coordenador dos IGPs do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), Salomão Quadros.
O economista aponta uma preocupação relativa ao comportamento dos bens finais no atacado e que devem chegar ao consumidor. É o caso dos alimentos in natura, que vêm caindo e agora já chegam ao limite da desaceleração. "É o primeiro passo para a queda virar elevação", diz Quadros. Os alimentos processados já registraram uma aceleração no mês. "A contaminação do IPC já está começando", atesta.
Além do esgotamento do potencial de desaceleração de alguns itens, o efeito da valorização do dólar frente ao real também tende a aparecer com mais nitidez. O câmbio é um dos responsáveis por manter em 1,05% a inflação de bens intermediários nesta prévia, caso de insumos industriais e também produtos voltados à exportação, como a carne bovina, que subiu de 2,85% para 5,82%.
A redução significativa do preço das matérias-primas brutas (-0,97%) ajudou a jogar para baixo o indicador geral. No entanto, o especialista salienta que ela foi apoiada na queda brusca da cotação da soja (de +4,07% para -2,82%) e do milho (de +0,16% para -5,52%) na passagem de julho para agosto. No primeiro caso há uma devolução da alta causada por uma corrida preventiva ao produto pelo temor de que a safra americana da soja decepcionasse.
"O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) está bem menor, mas a composição preocupa. Os alimentos já não estão caindo como antes e entre as matérias-primas há mais itens subindo que caindo", diz Quadros. Apesar de ofuscados pelo peso da soja, itens como leite in natura, aves e arroz sinalizam alta e devem impactar o varejo em breve. O IPA tem peso de 60% na composição do IGP-M e ficou em 0,15% no período de 21 a 31 de julho, intervalo em que foi coletada a prévia de agosto.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) já sente uma menor contribuição dos alimentos para a desaceleração. As massas e farinhas saíram de uma queda de -0,26% na prévia de julho para alta de 0,49% em agosto.
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) fechou a prévia em 0,33%. Para o economista da FGV, o índice é o único em que é possível garantir a contínua trégua à inflação.
Veículo: DCI