Mesmo com incertezas, "agroinflação" tende a se manter sob controle

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No que depender da agricultura, a inflação no Brasil não deve ter um repique significativo no fim do ano. Apesar da forte volatilidade do câmbio nos últimos meses, da entressafra de produtos como soja, milho e feijão e dos riscos climáticos típicos do período, a tendência é de um fim de ano menos turbulento do que o de 2012, quando o Brasil sofreu os efeitos de uma das piores secas da história nos Estados Unidos.

Diante de uma colheita recorde de soja e milho nos EUA e a perspectiva de mais uma grande safra no Brasil em 2014, os preços dos grãos se acomodaram e não apresentam "viés de alta" nos próximos meses, segundo analistas consultados pelo Valor. Já em relação às carnes, que têm seu pico de demanda nas festas de fim de ano, o patamar de preços já é elevado, o que tende a impedir altas expressivas a despeito da menor oferta de suínos e aves. Com preços salgados na maior parte do ano, o leite agora pode ajudar.

Mas existem alguns riscos. No radar das preocupações inflacionárias, estão produtos como trigo - bastante influenciado pelo câmbio -, etanol e feijão, que se aproximam da entressafra.

"Se a taxa de câmbio ficar calma, não vejo por que os preços em reais devam subir muito. Como tendência para a inflação, não acho que deve ter grandes surpresas", afirmou o economista Alexandre Mendonça de Barros, sócio-consultor da MB Agro.

A avaliação é corroborada pela economista da Tendências Consultoria, Amaryllis Romano. "O que está se imaginando é que os grãos [soja e milho] continuem em queda, ou no mínimo acomodados. Uma elevação dos grãos seria uma surpresa extraordinária", disse ela.

Depois de atingirem máximas históricas no ano passado, após a grave quebra da safra de grãos nos EUA, milho e soja recuaram de maneira significativa em 2013, sinalizando principalmente a recomposição de estoques a partir da colheita recorde americana da safra 2013/14, que está pleno andamento.

Desde o início do ano, o preço médio do milho caiu cerca de 12,03%, conforme levantamento do Valor Data. Mesmo a soja, que subiu nos últimos meses devido às preocupações com o clima nos Estados Unidos, registra no acumulado do ano um preço médio 5,07% inferior ao registrado no mesmo período de 2012.

Um fator de risco para a soja, pondera Mendonça de Barros, é o clima. Na próxima semana, as previsões indicam chuvas no Meio-Oeste americano, o que pode retardar a colheita de soja e elevar os preços. Mudanças climáticas no Brasil também podem afetar as perspectivas do próximo ano e influenciar as cotações.

Com preços de soja e milho mais comportados, os custos com ração não devem ser um fator de pressão sobre as carnes, apesar dos estoques baixos de farelo de soja. "O preço do farelo de soja deve seguir firme até a entrada da próxima safra, em fevereiro. Mas os preços não vão muito além do patamar em que se encontram", afirma o economista da MB Agro.

O que pode pesar sobre as carnes, entretanto, é a demanda. "Em carnes, o repique esperado é tradicional de fim de ano por causa da maior demanda, mas nada além do normal", afirma Amaryllis. Para Mendonça de Barros, o patamar já elevado das carnes impedirá elevações expressivas. "Não vejo um estresse maior para as carnes. O cenário vai seguir apertado para aves e suínos, mas não vai ser algo fora do comum, porque o nível já está muito alto".

Matéria-prima para a produção de pães e massas, o trigo é um dos motivos de preocupação, uma vez que o Brasil não é autossuficiente e a produção global do cereal não deve se recompor como nos casos de soja e milho. "Como vamos ter que importar muito trigo, o câmbio acaba sendo a variável chave", afirma Mendonça de Barros. De todo modo, o economista avalia que o "pior" já passou e que as cotações do cereal devem ficar estáveis.

Na lista de preocupações, também figura o etanol. Com a safra de cana perto do fim e o consumo do biocombustível em alta, o mercado já trabalha com a possibilidade de preços maiores para equilibrar oferta e demanda entre o fim do ano e o primeiro trimestre de 2014.

Além disso, a esperada alta de 5% da gasolina em 2013 também deve impulsionar os preços do biocombustível. "O preço maior do etanol vai bater na bomba, sim", afirma Amaryllis. Também perto da entressafra, o feijão tem "viés de alta" para o fim do ano, de acordo com Mendonça de Barros.



Veículo: Valor Econômico


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