A taxa de desemprego nacional teve queda no último mês do ano passado e marcou 6,8% da população economicamente ativa (PEA), a menor da série iniciada em março de 2002 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em novembro, o indicador se situou em 7,6%. Em dezembro de 2007, a taxa de desocupação tinha sido de 7,4%.
O contingente de desocupados nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo instituto caiu 11% perante novembro, para 1,6 milhão de pessoas. Ante dezembro de 2007, a diminuição desse contingente foi de 6,3%. Pelo levantamento, o número de pessoas ocupadas ficou em 22,1 milhões, estável ante novembro. Na comparação com o mês final de 2007, esse contingente subiu 3,4%, com a criação de 734 mil vagas.
Esses números divulgados pelo IBGE, entretanto, ainda não refletem os efeitos da crise, alerta o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), Cimar Azeredo. Segundo ele, possíveis efeitos poderão ser observados em janeiro, quando as dispensas de trabalhadores temporários contratados no fim do ano se refletirão na pesquisa. "O efeito da crise demanda um tempo. Temos que levar em conta que em dezembro entram muitos trabalhadores temporários e, na última semana, praticamente não há procura por emprego, o que reduz a população desocupada", afirmou o pesquisador.
O economista José Márcio Camargo atribuiu as divergências entre a pesquisa de emprego do IBGE e a do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que computou 650 mil demissões no mercado de trabalho formal do país em dezembro, a diferenças metodológicas.
Ele disse que o Caged leva em conta informações das empresas do mercado formal no mês inteiro, enquanto a PME entrevista os trabalhadores no domicílio e computa emprego formal, informal e os que estão fora do mercado, além de fazer esse levantamento só até o dia 20 de cada mês e pesquisar apenas em seis regiões metropolitanas.
Para Camargo, que hoje trabalha como economista-chefe da gestora de recursos Opus, por conta dessa metodologia do IBGE, que não leva em conta também a questão da sazonalidade, "parte importante do emprego de dezembro só vai aparecer na pesquisa de janeiro".
Para ele, pelo método do IBGE, sazonalmente, a taxa de dezembro é sempre a menor do ano. Se a taxa for dessazonalizada, como fez Camargo, o desemprego do último mês do ano aumenta. Ele calculou a taxa dessazonalizada de dezembro em 8,03%, ante os 6,77% efetivos levantados pelo IBGE. "Essa diferença é substancial e está aumentando entre a taxa de desemprego dessazonalizada e a taxa efetiva. Isso indica que quando chegar janeiro, mês sazonal, tende a aumentar a taxa de desemprego. O fator sazonal vai puxar a taxa para cima. Deve ter um pulo na taxa de desemprego de janeiro", alerta.
Camargo está preocupado com a crise e acredita que o primeiro trimestre do ano terá um forte aumento no desemprego. Ele atribuiu essa situação à forte contração do crédito e, como disse, as economias modernas funcionam à base do crédito. Ele explicou que as empresas usam o crédito para pagar a folha salarial e usam o lucro para investir. "Empresa que usa o caixa para pagar a folha salarial vai à falência", ensinou.
Camargo acredita que este ano a taxa média de desemprego do país deve subir entre 1,5 a 2 pontos percentuais ante 2008. Ele projeta uma taxa de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano entre 1,5% a 2%.
Cimar Azeredo, do IBGE, diz que outro fator que pode ter influenciado a diferença entre os números é o fato de o Caged ter captado as admissões a demissões durante todo o mês de dezembro. A Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE registrou o movimento do mercado de trabalho nas seis regiões metropolitanas entre 30 de novembro e 26 de dezembro. Nessas regiões, estão concentrados 25% da população ocupada do país.
Os dados da PME de dezembro mostram que as contratações temporárias, concentradas no comércio, refletiram-se na abertura 113 mil postos de trabalho no setor, incremento de 2,7% frente a novembro, e de 2,2% sobre dezembro de 2007. Ao mesmo tempo, foram fechadas 90 mil vagas na indústria, redução de 2,4% em relação a novembro. Na comparação com igual período em 2007, porém, houve alta de 3%.
Azeredo destacou que essas estatísticas estão em linha com o que ocorreu em 2007, quando o cenário econômico era diferente. Por isso, reforça, não houve efeitos da crise na PME de dezembro. "Um possível efeito da crise pode ter acontecido nos empregos relacionados a serviços domésticos, que caíram tanto em relação a novembro, como na comparação com o ano passado. As pessoas, quando começam a cortar custos, geralmente começam pelos serviços domésticos. Mas isso precisa ser melhor avaliado nos próximos meses."(
Veículo: Valor Econômico