O governo recebeu ontem uma má notícia para o controle da inflação. O ainda pouco explorado Índice de Preços ao Produtor (IPP) mostrou um forte aumento de preços industriais no setor de transformação em novembro. A alta foi de 0,62%, acumulando 5,04% no ano, e ela veio após deflação em outubro. Parte dessa inflação ainda não chegou ao consumidor e pode pressionar dezembro e o começo de 2014.

O IPP é considerado o índice de preços na porta da fábrica, ou seja, aquele preço efetivamente negociado entre o fornecedor e o varejo, ou entre duas indústrias.

Para olhar o impacto do IPP no varejo, um bom indicador pode ser a evolução dos preços de bens comercializáveis no IPCA. Olhando uma série de 12 meses, e considerando que há uma defasagem (que não se sabe exatamente qual é) até que os aumentos na indústria cheguem ao consumidor, os dados do IPP sugerem que há uma pressão a caminho sobre o IPCA.

Em 2012, no primeiro semestre, a valorização do câmbio influenciou o IPP e fez o índice acumular alta de 4,45%. Esse aumento só apareceu na inflação dos bens comercializáveis no segundo semestre, quando os preços subiram 3,95%, ante apenas 0,44% nos primeiros seis meses. Naquele ano, o IPP subiu 7,28% (após uma valorização do câmbio no segundo semestre) para um IPCA de comercializáveis de 4,47%.

Em 2013, o IPP acumula alta de 5,04%, acompanhado de perto pelo IPCA de comercializáveis, que subiu 5,3%. O que preocupa é que o IPP acumula desde junho uma inflação de 4,8%, enquanto os bens comercializáveis no IPCA subiram menos, 2,6%, indicando que a inflexão nesse conjunto de preços - que vinha justamente desde junho - pode ser interrompida em dezembro e ainda guardar surpresas negativas para o começo do ano, quando a inflação já sofre influências sazonais de reajustes relacionados à educação e algumas tarifas municipais.

Alguns produtos típicos de fim de ano subiram fortemente em novembro na indústria e devem ter afetado os preços ao consumidor em dezembro, como calçados, cujos preços na indústria aumentaram 2,78% em novembro, enquanto subiam 0,78% ao consumidor (IPCA). Equipamentos de informática subiram 0,80% em novembro no IPP, e caíram no IPCA naquele mês, enquanto produtos farmacêuticos subiram 0,68% no IPP e 0,28% no IPCA.

Por outro lado, essa alta forte de preços deve ter elevado o faturamento da indústria (e talvez seu lucro), e, em consequência, o recolhimento de impostos federais e estaduais. Na esfera da União, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já informou que a arrecadação foi forte (os dados anunciados por ele sugerem um aumento de 6% reais sobre dezembro de 2012). Talvez a indústria tenha contribuído. Mas, com certeza, o governo preferia uma inflação com menos riscos de pressionar o IPCA.



Veículo: Valor Econômico