Inflação mais baixa de SP não deve se repetir em 2014

Leia em 3min 30s

A inflação de apenas 3,88% na cidade de São Paulo em 2013, capturada pelo Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), foi a menor desde 2009 - quando o indicador subiu 3,65% - mas este quadro mais benigno não vai se repetir em 2014.

A avaliação é de Rafael Costa Lima, coordenador do IPC-Fipe, para quem uma "dispersão" maior da dinâmica de preços explica a variação tão baixa do índice no ano passado, assim como a diferença em relação à inflação oficial. Segundo o consenso de mercado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, deve ter avançado 5,74% no período.

Entre novembro e dezembro, os preços medidos pela Fipe se aceleraram de 0,46% para 0,65%. O principal impacto de alta no IPC, de 0,08 ponto percentual, partiu do aumento de 4,1% da gasolina, em função do reajuste de 4% nas refinarias. Na passagem mensal, o grupo transportes deixou queda de 0,02% para avanço de 0,90%. Também mostraram taxas maiores as partes de habitação (0,44% para 0,56%), despesas pessoais (0,74% para 0,79%) e vestuário (0,34% para 0,83%).

"Tivemos uma dispersão muito grande dentro da inflação ao longo de 2013", disse Lima. "Muitos itens importantes subiram bastante, mas também tivemos itens importantes com quedas fortes. Se todos os preços tivessem subido no mesmo ritmo, os dois índices [da Fipe e do IBGE] teriam mostrado um resultado mais parecido."

Como exemplo de principais influências positivas do IPC-Fipe do ano anterior, o economista mencionou os itens pão francês, refeição fora de casa e contratos de assistência médica, que subiram 15,5%, 11,3% e 9,3%, respectivamente. Por outro lado, a deflação de 17,1% nos preços de energia elétrica reduziu o indicador acumulado do ano em 0,70 ponto percentual. Embora com impacto mais difícil de ser estimado, a desoneração da cesta básica também aliviou a inflação em 2013, acrescentou.

Para Lima, a interferência do governo em impostos e tarifas ao longo do ano passado acentuou as divergências metodológicas entre o IPC da Fipe e o indicador oficial de inflação. Ele explicou que, de acordo com a metodologia da Fipe, as participações de cada item dentro do índice só mudam quando é feita uma nova pesquisa de orçamento familiar.

No caso do IPCA, disse, há reponderações mensais, de acordo com a variação de cada preço. Se algum componente aumenta 10% em um mês, por exemplo, a tendência é que seu peso na inflação suba na mesma proporção. "A metodologia do IPC-Fipe tende a subestimar a inflação, enquanto a do IPCA tende a superestimá-la. Normalmente, a inflação correta está entre os dois indicadores", disse.

O coordenador do IPC-Fipe ainda lembrou que, embora em menor grau, o universo de pesquisa dos dois indicadores também tem influência sobre suas variações. O índice da Fipe mede a inflação para famílias que ganham até dez salários mínimos, enquanto, no indicador oficial de inflação, a abrangência é bem maior, até 40 salários mínimos.

Para 2014, a expectativa é que a inflação na capital paulista e a medida pelo IPCA voltem a ficar um pouco mais próximas. Nas estimativas da Fipe, o IPC da instituição vai aumentar por volta de 5% este ano, já que, com situação fiscal mais delicada, a capacidade do governo de promover mais isenções tributárias é menor.

Na visão da Fipe, os transportes também serão importante foco de pressão sobre os preços ao longo do ano. O reajuste da gasolina concedido no fim de novembro não foi suficiente para melhorar a situação do caixa da Petrobras e, por isso, mais uma correção dos preços deve ser feita este ano, disse Lima, para que a estatal possa fazer frente aos próximos leilões do pré-sal.

Além dos combustíveis, há a questão dos preços de transporte coletivo, que, por enquanto, são uma dúvida em São Paulo. "Se não houver reajuste de ônibus, alguma compensação deve ocorrer que também vai pressionar os transportes, como a cobrança de algum imposto adicional sobre a gasolina, por exemplo", sustenta o coordenador do IPC-Fipe.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Varejo prevê crescimento de 7% para o ano de 2013

Resultado positivo é a metade do esperado para o exercícioMesmo apostando em novas ações par...

Veja mais
O Natal não foi o pior para o varejo

Não, o Natal de 2013 não foi o pior dos últimos anos, garantem especialistas no setor, que se assus...

Veja mais
Setor externo deve ajudar PIB em 2014

Por Tainara Machado e Arícia Martins | De São PauloO setor externo vai contribuir positivamente para o cre...

Veja mais
Produtos básicos têm alta de 3,12% no ano passado

Os preços dos produtos básicos que mais afetam a inflação no Brasil  subiram em dezembr...

Veja mais
ACSP registra alta de 1,6% nas vendas a prazo em 2013

FRANCISCO CARLOS DE ASSIS SÃO PAULO - Conforme o esperado, o crescimento das vendas do comércio na cidade ...

Veja mais
Em ano eleitoral, setor deve complicar inflação mais uma vez

Por Arícia Martins | De São PauloO ciclo de aperto monetário e a perda de dinamismo do mercado de t...

Veja mais
Importação cresceu mais e afetou saldo em 2013

Por Rodrigo Pedroso | De São PauloO Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exte...

Veja mais
Redes zeram os estoques no Natal

Mesmo com o menor crescimento dos últimos cinco anos, os estoques de produtos comprados para o Natal dentro dos s...

Veja mais
Varejos registram alta de até 20% nas vendas de fim de ano

Confirmando o movimento percebido na primeira semana de dezembro, e contrariando as piores expectativas diante dos indic...

Veja mais