IPCA-15 surpreende com deflação

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A primeira divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) no ano mostrou alívio da inflação no curto prazo. O indicador desacelerou de 0,75% para 0,67% em janeiro, variação bem inferior à média das projeções colhidas pelo Valor Data com 20 instituições, de 0,79%.

O resultado, que deve influenciar o IPCA fechado do mês, quebra o clima ruim gerado pela aceleração da inflação oficial em dezembro, de 0,92%, mas não muda, segundo analistas, a avaliação de que a alta dos preços, persistente e disseminada, deve ficar neste ano mais próxima do teto da meta estipulada pelo governo, de 6,5%.

Passagens aéreas e alimentos foram os principais responsáveis pela surpresa positiva. O primeiro item registrou queda de 16,32% nos preços entre dezembro e janeiro, depois de subir 20,15% no mês anterior, e tirou 0,1 ponto percentual do índice, deflação que deve ser carregada para o IPCA fechado do mês, afirma Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. O desempenho contribuiu também para a desaceleração da inflação de serviços, que passou de 1,1% para 0,5%, e daquela do grupo de transportes - de 1,17% em dezembro para 0,43%.

O aumento sazonal dos preços dos alimentos, por sua vez, acelerou o índice de 0,59% para 0,96% - abaixo do patamar de 1% esperado pelos analistas. As carnes deram a principal contribuição, com alta de 3,91%. Leites e derivados puxaram o indicador para baixo, com deflação de 3,21% na passagem de dezembro para janeiro. O preço do leite longa vida recuou 6,59%.

A gasolina se comportou dentro das expectativas e acrescentou 0,11 ponto percentual ao índice, o mais forte impacto individual, com o litro 2,90% mais caro. A inflação em 12 meses medida pelo IPCA-15 desacelerou de 5,85% no mês anterior para 5,63%. "O resultado é uma boa notícia no curto prazo, quebra o clima ruim gerado pelo IPCA de dezembro e pode melhorar as expectativas", afirma Leal.

Fernando Parmagnani, da Rosenberg & Associados, acredita que o indicador dificilmente voltará a surpreender para baixo neste ano. Para ele, os principais impactos no mês foram fatores pontuais, que não devem se repetir no médio prazo. Ele chama atenção para o índice de difusão, que subiu de 70,1% para 75,1% e mostra que a inflação está bastante disseminada. "Qualquer choque vai colocar o indicador acima do teto da meta."

Segundo Leal, do ABC Brasil, esse é o maior nível do indicador desde abril de 2003, "quando houve um choque fortíssimo por conta das eleições". Sem a influência do grupo alimentos, porém, segundo cálculos do banco Itaú, a dispersão foi de 70,6%, contra 69,7% em dezembro. Ainda assim o patamar é elevado, avalia Elson Teles, economista da instituição. Com ajuste sazonal, diz, a difusão tem girado ao redor de 68%. "Em anos em que a inflação esteve próxima da meta, 2007 e 2009, a média anual ficava em 58%".

A média dos núcleos do IPCA-15, medida que expurga os itens de maior volatilidade, também desacelerou, de 0,64% para 0,55%, mas ainda se mantém alta, na análise do economista, já que, anualizada, equivale a 6,8%.

O reajuste de 7,5% no preço da energia elétrica, apontado no relatório do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgado ontem, não surpreendeu, segundo Leal. "O mercado já trabalhava com algo próximo disso, já que prevê aumento de 3,5% nos preços administrados. Essa alta tem que vir de algum lugar."

Parmagnani calculava correção de 5% na tarifa de energia. O impacto do item no indicador do ano, antes previsto em 0,2 ponto percentual, passou a 0,3 ponto. Depois do resultado da prévia, a Rosenberg consultoria revisou a projeção do indicador oficial para 0,6% em janeiro, estimativa semelhante à do ABC Brasil, que até ontem era de 0,7%. Em 12 meses, ela passou de 5,91% para 5,64%. A previsão do Itaú, que contava com alta de 0,82% no IPCA-15 de janeiro, recuou pouco mais de um ponto percentual, de 0,77% para 0,64%.



Veículo: Valor Econômico


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