A inflação ao consumidor, além de persistentemente alta, tem se mostrado cada vez mais difícil de se administrar, na avaliação de Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Getulio Vargas (FGV). A piora no perfil da inflação, diz ele, pode ser notada por meio dos núcleos, medidas que retiram dos indicadores de preços os itens de maior volatilidade, permitindo visão mais clara de sua estrutura.
No mês passado, o IPC subiu 0,99%, menos que a alta de 1,01% registrada em janeiro de 2013. O núcleo do indicador, entretanto, mostra comportamento inflacionário diferente: o avanço em janeiro deste ano, de 0,63%, ultrapassa a elevação de 0,58% de janeiro de 2013. A mesma dinâmica é válida para períodos mais longos. Nos 12 meses encerrados em janeiro, o IPC subiu 5,61%, abaixo dos 5,95% acumulados nos 12 meses até janeiro de 2013. O núcleo do IPC, porém, mostra que a alta passou 5,03% no período findo em janeiro de 2013 para 5,10% no intervalo que se estende até janeiro de 2014.
Para Picchetti, os números indicam tendência de inflação aquecida em 2014. Sem a ajuda dos preços administrados e com pressões derivadas da valorização do dólar frente ao real, a expectativa é de alta de 5,9% no IPC em 2014 - acima dos 5,6% de 2013. "Não será uma grande aceleração, mas teremos mais um ano de inflação acima da meta de 4,5% ", diz.
"Não existe outra solução. Precisamos rever a política fiscal, cortando gastos correntes e atrelando o reajuste dos salários ao aumento de produtividade", afirma Picchetti. A principal fonte de pressão inflacionária atualmente - os serviços -, diz ele, não responde ao aumento dos juros.
Veículo: Valor Econômico