Demanda deve facilitar reajuste de preço

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Após recuar 2% em 2013, o volume de produção de cervejas no Brasil cresceu 10,5% no primeiro trimestre de 2014 em relação a igual período do ano passado. Segundo analistas de bancos, o cenário de forte demanda é um facilitador para que a indústria repasse ao consumidor o aumento da tributação que entrou em vigor ontem. O governo elevou os percentuais aplicados sobre os preços que servem de referência para calcular o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e as contribuições PIS e Cofins de cervejas, isotônicos e energéticos.

Passado um verão de temperaturas recordes e Carnaval tardio, que ajudaram a impulsionar as vendas, as cervejarias têm à frente a expectativa positiva do consumo durante a Copa do Mundo. Somente em março, mês do Carnaval este ano, a indústria produziu 23% mais cerveja do que em março do ano passado, segundo dados preliminares do sistema de controle da Receita Federal. No ano passado, a data caiu em fevereiro.

Relatórios do Credit Suisse e do Bank of America Merrill Lynch (BofA) apontam que a Ambev - maior cervejaria do país, dona de marcas como Brahma, Skol, Antarctica e Bohemia - teria que aumentar os preços em 1% a 1,5%, devido à alta dos impostos, para manter a rentabilidade.

Segundo o relatório do Credit, apesar do impacto que a elevação de preços poderia ter no volume de produtos vendidos, o reajuste pode ajudar o cumprimento da projeção de alta na receita da Ambev no ano, de um dígito alto a dois dígitos baixos.

Em análise, a equipe do BofA estima que "fortes volumes devem ser impulsionados pela Copa do Mundo, enquanto um melhor mix deve sustentar as margens", referindo-se à Ambev. Para o banco, se a cervejaria apresentar um aumento de volume de vendas no primeiro trimestre em linha com o registrado pelo mercado (ao redor de 11%), conseguirá atingir sua projeção de expansão da receita para 2014, mesmo que o volume vendido fique estável no segundo semestre, na comparação com igual período de 2013.

A Ambev detém quase 70% do mercado de cerveja no país. Procurada para comentar os possíveis efeitos da alta de impostos, a companhia não se pronunciou. Ontem, suas ações fecharam em alta de 0,88% na bolsa. Para a XP Investimentos, a decisão do governo não deve provocar oscilações negativas no papel. "Acreditamos que as ações da Ambev já precificam este aumento de tributos."

Apesar de os analistas que acompanham o setor minimizarem o impacto da carga tributária maior, a CervBrasil - associação que reúne Ambev, Brasil Kirin, Heineken e Petrópolis - afirmou que as cervejarias terão dificuldade para absorver o aumento, dadas as fortes pressões de custo incidentes sobre o setor. Paulo Petroni, presidente da entidade, cita o avanço de gastos com mão de obra, energia elétrica e insumos importados como cevada e lúpulo. Segundo o executivo, diversos Estados também aumentaram recentemente a carga tributária, inclusive este ano. Mas ele afirma que o setor "não está chorando".

"Estamos confiantes no diálogo constante que estabelecemos com as autoridades governamentais e temos confiança de que vamos buscar alternativas para continuar tendo o crescimento necessário para manter e, quem sabe, até aumentar o investimento no Brasil", diz Petroni.

Segundo ele, 2013 foi um ano de ajustes. No ano passado, o volume de cervejas produzido recuou 2,6%, após sete anos de crescimento acima de 6%. "A postergação do imposto [maior] em outubro permitiu que o setor trabalhasse adequadamente a distribuição, o cliente, a precificação, e os volumes voltaram."

Dados da Receita Federal referentes ao acumulado de 12 meses, mostram que o setor voltou a registrar variação positiva no volume de produção, com um leve crescimento de 0,2% até março.



Para Fazenda, nova carga tributária significará alta média de 0,4% na gôndola



Sem espaço fiscal, o governo não se rendeu aos apelos da indústria e divulgou ontem aumento na carga tributária da cerveja, isotônicos e energéticos. Se o ajuste na tributação for integralmente repassado ao consumidor, os preços desses produtos terão um reajuste médio de 0,4%, segundo o secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda, Dyogo de Oliveira.

Em outubro do ano passado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, postergou para este mês a revisão dos impostos. Na ocasião, o ministro tinha como objetivo evitar demissões de trabalhadores. Desde vez, as empresas novamente tentaram um adiamento, mas não tiveram sucesso.

Em 18 de março, o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, antecipou que a Receita estava preparando o aumento da carga tributária do setor e que dificilmente o governo cederia. Ontem, o Ministério da Fazenda publicou no Diário Oficial da União a portaria nº 181 e elevou em 1,5 ponto percentual o multiplicador que incide sobre os preços para se chegar à base de cálculo do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e da PIS/Cofins. A mudança impacta cerveja e isotônicos e energéticos vendidos em lata ou vidro.

Em outubro, haverá novo ajuste do multiplicador para o setor de bebidas frias, que incluirá refrigerantes. No caso da água mineral, a alíquota continuará zerada.

A atualização do redutor vai gerar uma receita adicional de R$ 200 milhões, conforme previsão constante da Lei Orçamentária Anual para 2014. No atual momento, o governo não pode atender o pleito da indústria pois não tem margem para abrir mão de receita. As despesas do governo subiram com a necessidade de bancar repasses adicionais à Conta de Desenvolvimento de Energia (CDE) devido ao uso, por um período mais prolongado, das termoelétricas. Ou seja, a área econômica já contava com o aumento da carga tributária para ajudar no cumprimento da meta de superávit primário do setor público consolidado de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.

Apesar das alegações da indústria para pedir a postergação da medida, Oliveira afirmou que desta vez o governo decidiu "cumprir o que já está previsto e considerado na receita". "Senão teríamos que compensar essa arrecadação. A melhor decisão foi manter o que está previsto", destacou Oliveira. No ano passado, segundo Oliveira, o ajuste no multiplicador foi adiado por duas vezes.

Ao priorizar o fiscal, a área econômica terá que conviver com o impacto da medida para a inflação. Oliveira frisou que ainda não tem um cálculo preciso do efeito no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) porque a indústria poderá absorver parte do ajuste. Segundo informações do Ministério da Fazenda, o aumento médio da carga tributária da cerveja será de cerca de 4%.

O presidente da Associação Brasileiras das Microcervejarias (ABM), Marcelo Carneiro da Rocha, afirmou que as pequenas empresas não têm como absorver o efeito dessa alta. "O aumento para as grandes empresas é de centavos, para a gente são reais. Não temos como diminuir os custos para absorver isso", disse Rocha, acrescentando que entidade não foi ouvida pelo governo.



Veículo: Valor Econômico


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