Analistas veem inflação chegar a 6,41% em abril

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Embora o choque recente de preços de alimentos comece a perder força, os reajustes das tarifas de energia elétrica autorizados em algumas capitais nas últimas semanas devem ser fonte de pressão importante para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em abril, afirmam economistas, o que deve ter evitado desaceleração mais acentuada do indicador no período.

Após alta de 0,92% em março, a média de 19 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data estima avanço de 0,79% do índice oficial de inflação em abril. O intervalo entre as projeções para o indicador, que será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), varia entre 0,73% e 0,83%. Apesar da perspectiva de desaceleração na passagem mensal, a inflação acumulada em 12 meses deve passar de 6,15% em março para 6,41% no mês passado, já que em abril do ano passado o IPCA teve alta de 0,55%.

Para Fabio Romão, da LCA Consultores, a inflação ainda vai se manter elevada em abril tanto por causa dos aumentos da conta de luz quanto pela perda de fôlego um pouco mais lenta do que antecipado dos preços de alimentos. Romão comenta que, no mês passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou reajustes das tarifas de energia elétrica em diversas capitais que fazem parte do IPCA, como Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Belém e Porto Alegre.

Os aumentos, motivados principalmente pela necessidade das distribuidoras de comprar energia de fontes mais caras, como térmicas, em função do baixo nível dos reservatórios de hidrelétricas por causa da seca, devem ter levado o item energia elétrica residencial a avançar 1,85% no mês passado, após deflação de 0,87% em março, estima Romão. O economista, que projeta alta de 0,79% para o IPCA no mês passado, calcula que, caso esse preço tivesse ficado estável no mês, o índice oficial de inflação teria encerrado o mês em 0,74%.

Além de energia elétrica, os aumentos da tarifa de água e esgoto em Curitiba, Recife e Belo Horizonte também vão pressionar a inflação de preços administrados, afirma André Muller, economista da Quest Investimentos. Para ele, o conjunto de preços monitorados por contrato deve ter subido 0,77% em abril, após deflação de 0,02% no mês imediatamente anterior.

É por isso que a inflação não deve perder mais força na passagem mensal, comenta Muller, que projeta alta de 0,80% para o IPCA no mês passado. O índice também deve ficar bem acima do observado em igual período de 2013 porque o grupo alimentação e bebidas ainda deve ter subido 1,5% no mês passado - menos do que o avanço de 1,92% de março, mas ainda bastante acima da alta de 0,96% registrada em abril do ano passado, acrescentou.

Romão, da LCA, avalia que os alimentos e bebidas estão cedendo um pouco mais lentamente do que era esperado. Embora a expectativa seja de que a alta de 1,51% esperada para o grupo em abril contribua para avanço um pouco mais tímido do IPCA no período, o economista ressalta que as proteínas animais, como carnes, ovos e leite vão acelerar na passagem mensal, como resultado de pressões ainda observadas no atacado.

Além disso, os alimentos in natura, que em geral têm ciclos curtos de produção e por isso costumam devolver rapidamente altas mais acentuadas, não devem desacelerar tanto quanto imaginado. "No começo do mês passado, não era exagerado esperar deflação de hortaliças e verduras após a alta de 9,36% em março", comenta Romão, mas este cenário acabou não se concretizando. O economista projeta aumento de 1,09% para esse subgrupo do índice. Por outro lado, o tomate, que subiu 32,85% no terceiro mês do ano, agora deve cair 2%.

Para a LCA, outro grupo que deve recuar são as despesas pessoais, por causa da sazonalidade mais favorável. Como o reajuste do salário mínimo tem impacto sobre os gastos com empregado doméstico em março, esse item subiu 1,28% naquele mês, alta que deve cair quase pela metade em abril, para 0,58%, diz Romão. "Como o reajuste do piso salarial foi menor, de 1% em termos reais, essa despesa deve ser uma fonte menor de pressão neste ano", prevê o economista, que estima alta de 10% para esse item em 2014, ante 11,2% em 2013.

Por último, diz Romão, as passagens aéreas também devem ter contribuído para alguma moderação da inflação no mês passado. Após alta de 26,49% no terceiro mês do ano, o item teve deflação de 1,79% na prévia de abril, o IPCA-15, variação que deve se repetir nesta divulgação.

Como a expectativa é que as passagens aéreas continuem em trajetória de desaceleração em maio, assim como os alimentos e bebidas, Romão estima alta de 0,45% do IPCA para este mês. Embora bem menor do que a projeção para o dado de abril, a inflação ainda vai superar o patamar observado em igual mês do ano passado, quando os preços subiram 0,37%. Por isso, diz Romão, a inflação deve praticamente encostar no teto da meta em maio, ao ficar em 6,48%.

Para Muller, da Quest, as estimativas preliminares apontam para avanço de 0,50% do IPCA no mês atual, o que levaria o índice acumulado em 12 meses a ultrapassar o teto da meta de 6,5% perseguida pelo Banco Central. Segundo ele, o principal risco para essa projeção é para cima, já que os alimentos estão mostrando resistência um pouco maior do que o antecipado.

Com o choque de alimentos em março e abril, Muller avalia que os riscos de a inflação superar o teto da meta são relevantes, ainda mais em um cenário de defasagem de preços administrados. "Projetamos IPCA de 6,5% ao fim do ano, mas o nosso cenário não contempla nenhum reajuste de combustíveis", pondera.



Veículo: Valor Econômico


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