Varejo registram melhora no movimento

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O ex-vigilante Evaldo Sidney ficou milionário em abril por uma sequência de fatos corriqueiros. Primeiro, teve uma discussão feia com a esposa, Gisele, que o levou a trocar o aparelho celular (atirado contra a parede na ocasião). Segundo, Sidney resolveu comprar um novo telefone, ao que tudo indica, na hora e lugar certos para ele às vésperas da Copa do Mundo no Brasil. No dia seguinte à briga, o casal (pazes já feitas) adquiriu um novo telefone, cujo preço se aproximava dos R$ 600, em uma loja da rede Magazine Luiza. No momento de fechar a compra, os dois foram avisados da possibilidade de participar de uma promoção da rede que sortearia dois prédios para os clientes - cada R$ 100 em compras dava direito a um cupom. Seis deles foram então preenchidos e levados a uma urna. "Raramente participamos de alguma promoção", diz. "A surpresa foi grande e posso dizer que tive a melhor briga do mundo. Ainda bem que aquele telefone foi parar na parede", brinca Sidney. Ele e a esposa ganharam R$ 1 milhão em março e agora querem abrir um restaurante na cidade gaúcha de Gravataí, onde moram. O outro prédio será sorteado no fim da Copa.

Resultado de uma estratégia agressiva desenhada para a época, e que inclui além dessa promoção o patrocínio na transmissões de jogos, a companhia está conseguindo atrair gente para as lojas por mais tempo do que esperava. "No nosso negócio, geralmente as vendas em períodos de Copa do Mundo crescem nos meses que antecedem o evento porque é quando as pessoas resolvem trocar televisores, por exemplo", diz Frederico Trajano, diretor de operações do Magazine Luiza. "Mas junho, às vésperas do início, começou mais agitado do que imaginávamos. Só nos dez primeiros dias já tínhamos um terço do movimento do mês anterior".

Trajano espera por um bom segundo trimestre para o Magazine, que viu as vendas nas mesmas lojas (abertas há mais de 12 meses) crescerem 25% entre janeiro e março de 2014, durante um período em que o ambiente econômico não é dos mais promissores, com inflação pressionada e o crédito ficando mais caro. Nos mesmos meses, a companhia obteve lucro de R$ 20 milhões - 25 vezes maior que em igual trimestre de 2013. Ele diz, ainda, que outro motivo para o aumento de vendas é o fato de existirem mais categorias de produtos com potencial para vendas. Em Copas do Mundo passadas, os tablets e celulares não eram tão procurados como hoje e são aparelhos que também possibilitam assistir a jogos de futebol. "Essas categorias cresceram mais que a média de vendas da empresa", diz, sem divulgar os dados.

As vendas de eletroeletrônicos, roupas esportivas, souvenires e calçados estão entre as mais procuradas pelos turistas - brasileiros e estrangeiros - que visitaram os centros comerciais localizados nas cidades sede da Copa às vésperas da abertura do evento. Na semana do dia 9 de junho, o Shopping Rio Sul, que fica em Botafogo, no Rio de Janeiro, começou a perceber movimento maior. O volume de pessoas cresceu 30% e o ônibus que transporta visitantes e circula até São Conrado viajou sete em vez de cinco vezes diárias. "O shopping vinha num ritmo de crescimento mensal de 10% em 2014", diz Márcio Werner, superintendente do Rio Sul. "Por causa do movimento que estamos vendo, esperamos que o percentual de crescimento se repita nesses meses, que seriam mais fracos se a Copa estivesse sendo realizada fora do Brasil". Werner estima que as vendas devem alcançar R$ 1,2 bilhão em junho.

Só pelo Estado do Rio, cuja capital vai sediar o jogo da final, devem passar cerca de 1,2 milhão de turistas em função do evento. Devido ao fluxo, 41% de 403 empresários fluminenses espalhados por 22 municípios esperam receber mais gente em suas lojas. Do mesmo total, 21% disseram que outra consequência será o aumento de contratações. Entre os investimentos, 43% investiram para reforçar a oferta de produtos ou serviços e 33% em ações de marketing - os principais destinos do dinheiro. Os dados são de pesquisa realizada pela Fecomércio-RJ em parceria com o Instituto GPP entre os dias 28 de abril e 3 de maio. Apesar do ambiente não ser de euforia, 52% acreditam que a realização da Copa trará melhorias para o Estado.

"Os 48% restantes responderam motivados pelo clima que antecedeu o evento", diz Christian Travassos, gerente de economia da Fecomércio-RJ. "Não surpreende a descrença devido à repercussão polêmica em torno do evento, com a realização de várias manifestações". A percepção do economista é a de que esse empresário deverá se surpreender positivamente.

Além de shoppings do Rio, os que ficam em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Recife e Salvador também começaram a ver mais movimento já nos dias que antecederam a abertura do evento. A Multiplan, que detém centros comerciais nas seis primeiras citadas - além de mais dois empreendimentos em Ribeirão Preto - espera fluxo maior de turistas em todos. No entanto, os primeiros sinais foram vistos primeiro no Barra Shopping Sul, na capital gaúcha. Fora a movimentação natural de quem está pela cidade passeando e resolve fazer compras, o local abriga o centro de retirada de ingressos da Fifa, o que explica em parte o aumento de 41% do movimento no domingo dia 8 de junho. Ao todo, na primeira semana do mês, o aumento do tráfego foi de 18%.

"O empreendimento está perto do estádio Beira-Rio e nosso estacionamento será utilizado pelos torcedores nos dias de jogos", afirma Tânia Nascimento, gerente de marketing do Barra Shopping Sul. "É outro fator para ajudar nosso movimento". Em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a Multiplan espera reforço porque o estádio Santa Cruz abriga o centro de treinamento da seleção francesa.

Outro que apostou na região foi o grupo Pão de Açúcar. As lojas do Supermercado Extra e do Pão de Açúcar do entorno ganharam reforço de sortimento de produtos franceses nas gôndolas. Com essa e outras ações de marketing de maior peso - o Extra é patrocinador da seleção brasileira e abastece duas vezes por semana a granja Comary, sede do time comandado por Luís Felipe Scolari - a companhia espera que as vendas de cerveja cresçam 40% e a de refrigerantes 20% no período dos jogos, em comparação aos mesmos meses de 2013.

Em Belo Horizonte, as seleções da Inglaterra, Argélia, Irã e Grécia estão em um hotel próximo ao BH Shopping, também da Multiplan. "Já percebemos movimento da imprensa estrangeira e equipe de apoio das seleções na semana da abertura", diz Renato Tavares, gerente de marketing do shopping. Ele diz que estava esperando mais turistas logo depois do primeiro jogo na cidade, no dia 14. Dois empreendimentos do grupo JCPM, em Salvador e Recife, também começaram a receber mais visitantes às vésperas do dia 12 de junho.

Por ora, apesar das expectativas em relação às planilhas e dos corredores cheios, a Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) mantém a estimativa de crescimento traçada no início do ano, de 8,5% das vendas do setor - para R$ 140 bilhões neste ano. "Não consideramos a Copa quando traçamos a estimativa", diz Luiz Fernando Veiga, presidente da associação. "Pode ser que esse resultado seja melhor em função do evento, mas é preciso aguardar". Nos primeiros quatro meses do ano, o setor viu as vendas aumentarem 7,8%.



Veículo: Valor Econômico


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