O elevado endividamento das famílias, o aumento de juros no financiamento do consumo provocado pelo aperto monetário, a inadimplência mais elevada e o temor de perder o emprego estão afastando os brasileiros das lojas, aponta pesquisa trimestral de intenção de compras no varejo, realizada pelo Programa de Administração de Varejo, da Fundação Instituto de Administração (Provar/FIA) em parceria com a Felisoni Consultores Associados.
Os pesquisadores apontam que os dados permitem projetar para este ano um aumento das vendas no varejo entre 1,5% e 1,7% na comparação com o desempenho de 2013. Ano passado, o avanço tinha sido de 3,7%. E em 2012, maior, de 7,8%.
Esse cenário foi reforçado pela apuração da intenção de compras entre os paulistanos, referente aos meses de julho a agosto, que apontou o mais baixo desejo de consumir entre esses consumidores desde 2002.
Segundo o presidente do conselho do Provar/FIA, Claudio Felisoni, os fatores macroeconômicos são as principais obstáculos à demanda. O especialista citou juros, estagnação de emprego e maior endividamento das famílias. Nos modelos matemáticos usados pelo Provar/FIA, a inadimplência projetada para este ano vai atingir 155,3 pontos, ante 144 pontos um ano atrás.
Enquanto os juros médios no varejo paulistano atingiram 71,2% no acumulado até abril, em relação a 60,1% um ano atrás, a fatia do orçamento familiar comprometido com crediário subiu de 19,7% para 25,8% no mesmo período.
"A condição fiscal impede que o governo volte a estimular o consumo. As condições para 2014 são desfavoráveis e, para 2015, não teremos nem Copa nem eleições", disse Felisoni, citando o déficit primário (resultado líquido das contas públicas antes de pagar juros e dívida) de R$ 10,5 bilhões em maio último.
O presidente do conselho do Provar admitiu que a Copa sustentou as vendas de eletroeletrônicos, por exemplo, item que sustentou a intenção de compra em 9%, enquanto a maior parte dos segmentos teve queda de interesse junto aos consumidores. A mesma tese vale para o segmento de turismo e viagens, estimulada pela maior movimentação dos torcedores locais e estrangeiros.
O Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração aponta que o índice de brasileiros que pretendem fazer pelo menos uma compra de bens duráveis entre julho e agosto deste ano é de 46,8%.
Esse indicador é 6,6 pontos percentuais menor do que no segundo trimestre de 2014 e 3,8 pontos percentuais inferior ao apurado no mesmo período do ano passado.
A pesquisa, feita com 500 consumidores da cidade de São Paulo, aponta a intenção de compra e de gastos com produtos de 13 categorias, de eletroeletrônicos a móveis a eletroportáteis.
Segundo Claudio Felisoni, os resultados referentes ao terceiro trimestre apenas reforçam um cenário que vem sendo traçado desde o início do ano, quando a expectativa era de uma "expansão pífia" do consumo em 2014. "O percentual de intenção de compras é o mais baixo dos terceiros trimestres desde 2002", disse Felisoni.
Veículo: Valor Econômico