Deflação de alimentos no atacado deve ajudar IPCA

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A forte desaceleração dos preços agrícolas no atacado, especialmente dos itens in natura, está chegando gradualmente ao varejo e em junho os alimentos e bebidas devem ficar próximos da estabilidade ou até mostrar deflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de acordo com analistas ouvidos pelo Valor. Outros fatores, porém, continuam a pressionar a inflação ao consumidor, como a recomposição dos preços administrados, a resistência de serviços e altas de itens em função da Copa do Mundo. Por isso, os economistas continuam a estimar alta do IPCA próxima do teto da meta ao fim deste ano.

Após queda de 0,13% em maio, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) registrou deflação de 0,74% em junho, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), menor variação desde o mesmo mês de 2003. A desaceleração foi mais forte no atacado, em que o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) passou de retração de 0,65% para queda de 1,44% no período.

Para Salomão Quadros, superintendente-adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, a maior influência de baixa partiu dos preços agrícolas, que diminuíram 3,7%. O economista observa que houve recuo generalizado em vários itens que foram afetados pelo clima mais seco e agora estão devolvendo esse impacto, com destaque para os alimentos in natura, que aumentaram sua deflação de 3% para 12,7%. Também perderam fôlego o milho (-2,49% para -8,88%), o trigo (2,22% para -4,2%), bovinos (-0,15% para -0,28%) e suínos (-1,27% para -1,41%). "Os produtos mais primários estão com queda intensa, mas os transformados e finais ainda não, o que se reproduz no varejo, onde o que está recuando mais intensamente é alimentação", disse.

Para Fabio Romão, da LCA Consultores, a deflação no atacado começa a chegar ao varejo, mas em intensidade mais moderada porque os preços ao produtor são mais sujeitos a choques e, por isso, oscilam mais. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) cedeu de 0,68% para 0,34% entre maio e junho, puxado principalmente pelo grupo alimentação, que desacelerou de 0,81% para 0,03%. No IPCA, índice oficial de inflação, o grupo alimentação e bebidas deve encerrar o mês com modesta deflação de 0,01%, estima Romão.

Flavio Serrano, economista-sênio do BES Investimentos, ressalta que diversos itens em queda no atacado têm repasse quase imediato para o consumidor, o que explica as variações de hortaliças e legumes, que deixaram alta de 1,26% para queda de 8,76%, e das frutas, que ampliaram sua deflação de 1,74% para 3,99%, no IPC.

No entanto, se os preços dos alimentos estão dando algum alívio para os índice de inflação, outros componentes não dão sinais de desaceleração, avalia Quadros, da FGV. Por isso, diz, o fato de o IGP-M estar em deflação há dois meses não é incompatível com projeções de IPCA próximo do teto da meta. "A inflação de administrados deve superar 5% em 2015 e pode até ficar acima dos 7% se houver um reajuste da gasolina e continuidade da correção das tarifas de energia elétrica", previu Quadros.

A Copa do Mundo também tem sido fonte de pressão, afirma Romão, da LCA. As passagens aéreas, por exemplo, subiram 22,15% no IPCA-15 de junho, maior alta para o mês desde 2006, pelo menos. Já a carne bovina, em deflação no atacado, acelerou no varejo entre maio e junho, o que pode ser resultado de pressão pontual por causa do aumento do consumo durante os jogos. Alimentação fora do domicílio e recreação são outros itens que subiram com mais força no IPCA-15 deste mês e que podem estar sendo influenciados pela Copa.

O economista estima alta de 0,37% do IPCA em junho e de 0,18% em julho, o que levaria a inflação acumulada em 12 meses a 6,65% no mês que vem, afirma. Para o fim do ano, Romão projeta alta de 6,4% do IPCA.

Serrano, do BES, também estima IPCA de 6,4% ao fim deste ano e não avalia que a descompressão dos preços de alimentos vai alterar seu cenário. "Passado esse período mais favorável, a inflação vai voltar a acelerar, ainda pressionada por serviços e administrados". Uma evidência, afirma, é o comportamento dos núcleos de inflação, que continuam com altas próximas de 0,5% a 0,6% por mês e reforçam que a tendência de alta dos preços entre 6% e 6,5% não se alterou subtancialmente.

Para Quadros, da FGV, os efeitos da atividade mais fraca, que poderiam amenizar os reajustes no setor de serviços, parecem ainda não ter chegado sobre os índices de preços, seja no atacado ou no varejo. "É difícil afirmar isso porque os preços de bens finais e de bens de consumo não estão caindo".




Veículo: Valor Econômico


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