O setor produtivo brasileiro está apreensivo com os desdobramentos da crise financeira internacional. No entanto, representantes da agropecuária, indústria e comércio e serviços mostram, de um forma geral, confiança em relação ao desempenho da economia neste ano. Essa é a conclusão do "Sensor Econômico", levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com 115 entidades representativas de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) entre a terceira e quarta semanas de janeiro.
Em uma escala de -100 a +100, o indicador, divulgado ontem pela primeira vez, ficou em 6,78 em janeiro, apontando para um quadro de apreensão do setor produtivo, ou seja, uma expectativa de baixo crescimento econômico e sem melhoria social. "Não está claro um quadro de uma melhora nem tampouco uma piora, mas de aguardo acerca do que pode vir a acontecer no País", afirma o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.
Pela metodologia da pesquisa, que será mensal, uma variação entre 60 e 100 aponta para otimismo em relação aos próximos 12 meses; de 20 a 60, confiança; de -20 a 20, apreensão, enquanto o intervalo de -100 a -60 indica pessimismo.
Entre os componentes, o índice referente às contas nacionais somou 19,76, no limite entre um quadro apreensivo e de confiança. Ao mesmo tempo em que o setor produtivo espera um cenário adverso para exportações, demonstra confiança em um crescimento entre 1,6% e 4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano. Já em relação a parâmetros econômicos, o setor produtivo se mostra confiante. "Há uma interpretação de que os dados de inflação estão em queda, que teremos taxas de juros decrescentes e uma estabilidade do câmbio, após uma desvalorização significativa da moeda nacional", justificou Pochmann.
Por outro lado, o desempenho das empresas é motivo de apreensão entre agentes econômicos. Para esse quesito, a pontuação ficou em -11,87, resultado da avaliação de uma visão adversa quanto à margem de lucro e contratação. O quadro mostra ainda que não há projeção de aumento do uso da capacidade instalada. "Salvo o setor agropecuário que tem uma visão confiante, os demais vêm com apreensão a utilização da capacidade instalada", disse.
O setor produtivo considera o cenário adverso no futuro próximo para aspectos sociais , cujo indicador atingiu -22,87. Esse componente abrange visão dos agentes sobre pobreza e desigualdade e violência urbana.
Para Júlio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a avaliação menos favorável em relação ao desempenho das empresas e aos aspectos sociais é reflexo dos impactos diretos da crise. Por outro lado, há confiança nos parâmetros econômicos, já que, diferentemente de outras crises, o setor produtivo não vislumbra descontrole inflacionário, fiscal ou cambial. "É uma crise tão forte e violenta, que ela arrasa com a produção de diversos setores, e as empresas sentem isso na carne. Mas, ao mesmo tempo, há uma confiança na capacidade da economia de resistir, muito embora o impacto inicial da crise tenha se refletido na avaliação no desempenho das empresas e dos aspecto social", avaliou o economista.
Segundo a pesquisa, entre os setores, comércio e serviços é o que se mostra mais otimista, com uma pontuação de 11,2. Na indústria e agropecuária, os indicadores atingiram 4,4 e 3,3, respectivamente. "Comércio e serviços está, por exemplo, otimista em relação às contas nacionais. Para o setor, a economia cresceria acima de 4%", afirma Pochmann, avaliando que talvez o segmento não tenha sofrido diretamente os efeitos da crise. O setor agropecuário, por sua vez, não acredita em uma expansão do PIB superior a 1,5%.
Veículo: Gazeta Mercantil