Indústria e agropecuária perdem peso no PIB

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Após mudança nos métodos do IBGE, participação industrial e do agronegócio na economia terá menos representatividade

 

 



A adoção de uma nova metodologia para o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) do País levou a indústria e a agropecuária a perderem seus pesos na economia brasileira, em detrimento ao setores de serviços. A tendência, que já vinha ocorrendo nos últimos anos, ficou mais explícita com os dados revisados, divulgados ontem pelo IBGE.

Na série antiga do PIB, com base em 2000, a participação do setor industrial era de 28,1%. Na revisão, a atividade perdeu espaço e correspondia a 27,4% da produção nacional em 2010 (o novo ano de referência utilizado pelo IBGE). As maiores perdas ocorreram nos subsetores da indústria de transformação e energia, gás, água, esgoto e limpeza urbana. Por outro lado, a indústria extrativa e a construção ganharam peso, mas não compensaram a perda dos demais segmentos.

A indústria perdeu terreno apesar da incorporação dos gastos em pesquisa e desenvolvimento como investimento, o que turbinou o PIB como um todo. O motivo principal é que as atividades administrativas e auxiliares realizadas pelas sedes das companhias, que costumam dar suporte à atividade produtiva, migraram para o setor de serviços, segundo avalia o IBGE.

De 2001 a 2011, por exemplo, a taxa média anual de crescimento do PIB industrial (volume de bens e serviços produzidos) subiu de 2,7% para 3,1%. Isso ocorreu, em parte, por causa da introdução das atividades de pesquisa e desenvolvimento como investimentos, e não mais como despesas das empresas.

Neste contexto, o setor industrial é o que mais investe em inovação, atrás apenas do governo, com agências de fomento e universidades públicas, diz o IBGE.

Já o peso da agropecuária caiu de 5,3% para 4,9%. Sua expansão média foi de 4,1% - a estimativa original era de 4%. Trata-se do setor com maior incremento no período avaliado.

Os serviços, por sua vez, tiveram a participação elevada de 66,6% em 2000 para 67,8% em 2010. Os maiores avanços ficaram por conta das atividades imobiliárias, serviços de informação e outros serviços - como alimentação, alojamento, entre outros. Além disso, os transportes de intermediação financeira (representados pelos bancos, pelas seguradoras e outros) perderam um pouco mais de espaço com o novo cálculo.

O PIB dos serviços cresceu, em média, 3,7% pela nova série do IBGE, quase a mesma variação apresentada na antiga (3,6%).
Revisão de 2010 e 2011 aumenta o crescimento em 2,1%

O IBGE divulgou ontem os dados definitivos do PIB relativo aos anos de 2010 e de 2011. O instituto concluiu que a economia brasileira cresceu mais do que o estimado originalmente, após a mais recente revisão metodológica.

Em valores, o PIB somou R?$ 4,375 trilhões em 2011. Na média de 2000 a 2011, a economia brasileira medida em valores foi aumentada em 2,1%, segundo as novas mudanças metodológicas introduzidas pelo IBGE.

O resultado de 2009, por sua vez, foi alterado, de um recuo de 0,3% para uma variação negativa de 0,2%. Já em 2010, a expansão ficou em 7,6%, contra um avanço de 7,5% do indicador preliminar. Em 2011, foi apontado um incremento de 3,9%, frente aos 2,7% considerados até o momento.

O ano de 2010 também foi marcado pela forte recuperação do consumo e da indústria, após o tombo provocado pela crise global iniciada no fim de 2008 e agravada no ano seguinte. A economia se expandiu baseada em boa medida por estímulos como corte de impostos, por exemplo o IPI para veículos, e aumento do crédito subsidiado. Com a demanda aquecida, a inflação subiu com força em 2010 (ficou no limite do teto da meta, em 6,50%), o que obrigou o Banco Central (BC) a elevar os juros para até 12,5% (mesmo patamar atual) para segurar o consumo e os preços. O resultado foi um crescimento mais modesto.

Com a inclusão de mais itens considerados como investimento, no cálculo, a taxa de investimento (proporção dessa categoria em relação ao valor do PIB) mudou de patamar. Em 2011, passou de 19,3% do PIB na série original para 20,6% na revisada. O percentual de 2010 ainda mudou de 16,5% para também 20,6% em 2010.

Economistas avaliam que é necessária uma taxa na faixa de 23% a 25% por vários anos para ampliar a capacidade produtiva do País e manter um crescimento sustentado do PIB, ou seja, na faixa de 3% a 3,5% ao ano.

Na terça-feira, o governo já havia sido informado que o resultado de 2011 seria revisto para cima e ficaria em 3,9%. Com isso, a expectativa é que 2014 não mais apresente uma ligeira queda no nível de atividade da economia, conforme esperado por analistas.

Para ajustar sua metodologia às novas recomendações da ONU, o instituto deixou de apresentar os números anuais definitivos nas datas previstas e informou apenas estimativas de cada ano, feitas com base no PIB trimestral.

Também foram recalculados a série histórica de 2000 a 2009. Os números finais de 2012 a 2014 serão divulgados apenas no dia 27 deste mês, junto com o PIB do quarto trimestre e também do resultado preliminar de 2014.

Desde 2010, o IBGE trabalha para incorporar novas recomendações metodológicas da ONU, de 2008, para a cálculo do PIB. O instituto já havia alertado que as alterações têm efeito "positivo" no PIB. Ou seja, mostra uma economia com dimensões maiores do que anteriormente estimado.

O motivo principal para um incremento do PIB é que gastos em pesquisa e desenvolvimento, prospecção e avaliação de recursos minerais (mesmo que não sejam encontradas, por exemplo, jazidas de minério ou petróleo) e aquisição de softwares passaram a ser tidos como investimento e foram contabilizados no PIB.

Antes, esses itens eram encarados apenas como despesas intermediárias, usadas na produção de bens e serviços, e descontadas do antigo cálculo do PIB.
Resultados de 2014 poderão ficar no terreno positivo, dizem economistas

A mudança na metodologia da estimativa do PIB pode levar o resultado de 2014 a sair de negativo e ir para o território positivo, mas não mudará a leitura de que foi um ano de atividade econômica fraca e de que o País vem perdendo produtividade nos últimos anos, segundo economistas.

O principal fator a levar o resultado de 2014 de uma retração na casa de 0,15%, última previsão do mercado, para uma alta de até 0,6% é o chamado "carregamento estatístico", uma espécie de crescimento inercial da economia. Esse "carregamento" depende do ritmo de crescimento do ano anterior, no caso de 2013, cujos dados só serão conhecidos no final do mês de março.

Nos países desenvolvidos que tiveram essa mudança de metodologia no cálculo do PIB, o impacto médio foi da ordem de 1 ponto percentual, segundo economistas. O Brasil, no entanto, teve aumento de apenas 0,1 ponto entre 2001 e 2010; apenas em 2011 é que o impacto foi de 1,2 ponto percentual (de 2,9% para 3,7%), o que chamou a atenção dos economistas.

Para Fernanda Consorte, economista do banco Santander, qualquer estimativa do resultado de 2014 será "um chute" antes de conhecer os dados de 2013.

No entanto, Fernanda reconhece que o impacto deverá ser positivo, o que pode facilmente levar o resultado negativo de 0,2% para 0,2 no ano passado.

"Mesmo que ocorra isso, a leitura é que 2014 foi um ano de enfraquecimento da atividade econômica, em que o País continuou perdendo produtividade", afirmou a economista.

Segundo Ricardo Macedo, professor do Ibmec do Rio, a nova metodologia do cálculo do PIB vai atenuar os efeitos de uma recessão por dois anos (2014 e 2015, como preveem governo e mercado), mas se trata de um efeito meramente estatístico, porque a economia se tornou maior do que era estimada antes das alterações metodológicas.

"A nova metodologia atenua os números, mas não podemos nos iludir nem achar que é uma vitória. O ano foi de fraca atividade econômica", afirmou o professor do Ibmec.





Veículo: Jornal do Comércio - RS


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